Carlos Chagas
O IBGE acaba de divulgar: o Brasil tem 24,6 milhões de fumantes acima dos quinze anos de idade. E perto de 110 milhões de eleitores.
Seria bom o governador José Serra prestar atenção. Tem todo o direito de aplicar a lei federal, como teve para encaminhar lei estadual à Assembléia, restringindo o uso do fumo. Mas perseguir os fumantes, tratá-los como réprobos, positivamente não dá. Vai perder votos, quem sabe essenciais para chegar ao palácio do Planalto.
A história é velha. Cigarro faz mal? Faz. Não raro mata. Fumar em recintos fechados deve ser proibido? Deve. Só que caracteriza preconceito impedir que funcionem áreas especiais para quem fuma, seja em bares, restaurantes e similares, seja em empresas públicas e privadas.
Agora, se é para impedir que se fume em todo o território nacional, como dizem que o governador determinará, se eleito, melhor seria começar proibindo as fábricas de cigarro. E o cultivo da planta. Até aí, porém, ninguém chega, nem o Serra chegará. Os impostos pagos pela indústria do fumo são mais do que milionários, fazem falta ao tesouro nacional. Nem se fala na contribuição das respectivas empresas para as campanhas eleitorais.
A causa foi o ciúme
O presidente Lula convidou os presidentes dos países amazônicos para uma reunião em Manaus, quinta-feira, com direito ao presidente da França, Nicolas Sarkozi, por conta da Guiana Francesa integrar a região.
Foi um vexame, porque da Amazônia Sul-Americana, só o presidente da Guiana compareceu. Faltaram os chefes de governo da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Por que? Porque Chaves, Uribe, Raul, Alan e Morales andam com um ciúme dos diabos do presidente brasileiro. Ressentem-se da posição especial ocupada pelo Brasil no cenário mundial. Identificam no Lula o adversário a ser ignorado, já que não pode ser combatido.
Ganham destaque no mundo inteiro as decisões adotadas em Brasília, assim como qualquer gesto ou comentário do nosso presidente. Para os nossos vizinhos, não adianta sequer pendurar melancias no pescoço, quando querem aparecer.
Não praticaríamos a mesquinharia de boicotar os hermanos ao longo de nossas fronteiras. Seria dar-lhes importância demasiada. Torna-se necessário, no entanto, demonstrar inconformidade. Nada melhor do que atingi-los no bolso, ou seja, pôr o pé no freio nos sucessivos contratos, entendimentos e pactos de ajuda e assistência com que os favorecemos.
Nem daqui a cem anos
Não há um deputado ou senador que deixe de criticar as medidas provisórias, desde sua criação. Longe de se restringirem a atos de urgência e relevância, desde o início servem de expediente para o Executivo impor sua vontade. Dependeria exclusivamente do Congresso interromper esse festival de abusos, votando limitações ou até extinguindo de vez essa intervenção descabida em suas atribuições.
Como nada acontece, indaga-se a razão, e quem sintetiza o diagnóstico é o senador Heráclito Fortes, do DEM do Piauí. Para ele, não só o atual, mas todos os governos, desde José Sarney, trocam a permanência das medidas provisórias pela concessão de benesses, favores, nomeações, liberação de verbas e sucedâneos, oferecidos à maioria parlamentar. E como o interesse pessoal pesa mais do que o coletivo, nem daqui a cem anos o Legislativo interromperá o seu próprio estupro.
Vão-se as esperanças
Recém-chegado de Belo Horizonte, agudo observador da cena política trás a conclusão: Aécio Neves não aceitará mesmo ser companheiro de chapa de José Serra. Impossibilitado de vencer a disputa no ninho dos tucanos, nos primeiros dias de janeiro anunciará a disposição de concorrer ao Senado. Para tanto, precisará deixar o governo de Minas a 31 de março, desincompatibilizando-se. O problema é que não poderá ser sucedido pelo vice, Antonio Anastásia, seu candidato ao palácio da Liberdade. Ele ficaria inelegível, caso assumisse.
A dúvida é saber se, mesmo empenhado na candidatura de José Serra, conseguirá levar para o governador paulista a maioria dos 20 milhões de votos dos mineiros. Muitos votariam nele, Aécio, menos votarão em Serra, até como reação à sua derrota no conciliábulo do PSDB.
Por tudo isso, ainda existem uns poucos tucanos imaginando que o governador de Minas poderá reconsiderar a decisão e lá para o meio do ano aceitar a dobradinha capaz de formara uma poderosa chapa. Resta aguardar.
Fonte Tribuna da Imprensa
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