Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - A disputa acirra-se antes mesmo de realizadas as eleições municipais e de conhecidos os seus resultados: PMDB, de um lado, e pequenos partidos aliados do governo, de outro, já se engalfinham para indicar o candidato à vice-presidência da República na chapa de Dilma Rousseff. Ou, como alternativa meio malandra, para ocuparem o mesmo lugar numa hipotética, mas cada vez mais viável candidatura do presidente Lula a um terceiro mandato.
O prêmio parece apetitoso, num caso ou no outro. O PMDB já começou a triagem, tendo como possíveis indicados os governadores Sérgio Cabral e Roberto Requião, os ministros Nelson Jobim e Edison Lobão, o deputado Michel Temer, que nesse caso até abriria mão de candidatar-se à presidência da Câmara e, fechando o círculo, por que não o presidente do Senado, Garibaldi Alves?
Do lado dos pequenos partidos da base oficial, uma candidatura sobressai, a do deputado Ciro Gomes, que no último fim de semana admitiu publicamente a possibilidade. Decidirá a questão o presidente Lula, mas no momento certo, ou seja, lá para o final do ano que vem. As preliminares, porém, já estão postas. Açodadamente, sem dúvidas, mas dentro da lição daquele velho provérbio árabe, de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Começando pelo começo, como diria o saudoso Chacrinha.
Sérgio Cabral tornou-se a mais nova estrela do universo lulista. Faz tudo o que seu mestre manda e, em retorno, recebe até mais do que o governo federal poderia dar ao Rio de Janeiro. Juventude e experiência não são incompatíveis, nesse caso, pois o Serginho, como é carinhosamente chamado, consegue superar parte dos gravíssimos problemas do estado e da antiga capital. No PMDB, ocupa a pole-position.
No partido que já foi do dr. Ulysses, fosse para seguir as lições do patrono e Roberto Requião venceria qualquer convenção, desde que para indicar o candidato ao Palácio do Planalto. Para vice, há divergências, tendo em vista a independência do governador do Paraná e, até mesmo, suas posições polêmicas. Mas está no páreo.
Houve tempo, há mais de um ano, que Nelson Jobim usava a coroa de príncipe de Gales. Deixando o Supremo Tribunal Federal antes do prazo, com certa ingenuidade disputou a pré-indicação para presidente do PMDB, sendo enrolado pelas raposas felpudas do partido. Hesitou um pouco, mas aceitou tornar-se ministro da Defesa, numa quadra delicadíssima onde não foi poupado o correto Waldir Pires.
Cresceu, mesmo criando um caso por dia com suas declarações - coisa que mais ou menos continua até hoje. Participa daquele grupo que, no governo e no PMDB, não se enquadra na ortodoxia da prática política. Está para o que der e vier, já que não dará mesmo para disputar seu objetivo maior, o Palácio do Planalto.
Edison Lobão não disputa a condição de estrela maior no céu de brigadeiro em que se tornou o governo Lula. É um cometa de grandes proporções e luminosidade. Enganou-se quem imaginou se constituísse num corpo estranho no governo, uma imposição do PMDB ao chefe maior. Por competência política e sorte, tornou-se Minas e Energia o ministério do coração do Lula. Só não recebe mais telefonemas diários do presidente do que Dilma Rousseff. Mas deixa longe Guido Mantega e qualquer outro.
Da descoberta do petróleo no pré-sal à entrada em carga da nona turbina de Itaipu, da programação de 50 novas usinas nucleares ao chega-para-lá dado na Petrobras, da firmeza com que negociou a nova partida do gás boliviano à condição de convidado especial na última reunião da Opep, o senador poderá ser levado a arquivar o sonho de voltar a governar o Maranhão, se for à troca da vice-presidência na chapa encabeçada pelo PT.
Michel Temer pode ser considerado a "opção Bom-Bril", excelente para mil e uma utilidades. Consegue dar nó em pingo d'água, mantendo-se há mais de uma década na liderança do PMDB, como seu presidente, capaz de compor interesses tão conflitantes quanto explosivos. Se os pretendentes acima citados forem sendo escanteados, cada um por uma razão engendrada no comando do partido, sobrará quem, a não ser Temer?
Para Garibaldi Alves sobra a condição de uma espécie de regra-três de Michel Temer. Cresceu na presidência do Senado, até batendo de frente com o Executivo, na questão das medidas provisórias. Se o presidente Lula quiser alguém tão independente quanto leal, não esquecerá de mandar botar Garibaldi na lista "como maior de espadas". A referência vai para uma das múltiplas rasteiras que Getúlio Vargas passou nos políticos quando se tratou de indicar o novo governador de Minas, dada a morte de Olegário Maciel. Entre Virgílio de Mello Franco e Gustavo Capanema, o caudilho mandou relacionar, só para constar, o nome de Benedito Valadares. Poderia Lula fazer o mesmo?
Com relação aos pequenos partidos, surpresas poderão acontecer, já que PSB, PC do B, PTB, PDT, PR e PP, entre outros, não se entendem mesmo. Um nome, porém, sobressai do conjunto, até já referido pelo presidente Lula. É o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, duas vezes candidato presidencial derrotado, uma por Fernando Henrique, outra pelo Lula. Dias atrás ele declarou admitir tornar-se companheiro de chapa de Dilma Rousseff. Disse que jamais ficará contra o presidente da República, ou seja, só disputaria a presidência como indicado dele.
Em suma, o quadro hoje é esse, tornando-se óbvio que, com tantos candidatos disputando a vice-presidência, o natural é que logo se engalfinhem. E com o beneplácito do Lula, que de ingênuo não tem nada. Aos referidos pré-candidatos abrem-se duas opções: ser vice de Dilma ou de... (cala-te boca).
A lei da reciprocidade
A presença do presidente Lula nos Estados Unidos reacendeu velha questão disputada, de um lado, pelo ministério do Turismo e setores afins, interessados na ampliação da vinda de estrangeiros para o Brasil, e no conseqüente maior faturamento de suas atividades, e, de outro, grupos empenhados na defesa da soberania nacional especialmente localizados no Itamaraty.
Quer o Ministério do Turismo o levantamento das restrições que fazemos a turistas americanos, com base na lei da reciprocidade. Se obrigam brasileiros a tirar os sapatos nos aeroportos de lá, fazemos a mesma coisa com eles, aqui. Se negam vistos a nossos cidadãos, também negamos aos deles. O problema é que a indústria do turismo fica de olho grande no monte de gringos capazes de vir gastar seu rico dinheirinho visitando nossas belezas naturais, hoje retraídos por conta das exigências aeroportuárias.
Estão querendo atrair o presidente Lula para uma espécie de flexibilização das draconianas normas, mas sem que a recíproca seja verdadeira, porque Washington não abre mão de erigir muralhas em seus consulados, embaixadas e aeroportos.
Através dos tempos já cedemos muito. Vamos ceder outra vez?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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