Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Esta semana o presidente Lula, ainda em Nova York, usou a feliz imagem do irmão mais velho tomando conta dos menores para explicar a paciência demonstrada pelo Brasil diante das provocações da Bolívia, do Paraguai e agora do Equador. Todos cobram do irmão mais velho tudo o que acontece ou deixa de acontecer na casa.
Com todo o respeito aos nossos "hermanos", mas bem que o presidente Lula poderia ter seguido adiante e caracterizado Evo, Lugo e Correa não só como irmãos mais novos, mas como pivetes mal-educados e malcriados. Porque os presidentes desses três países estão mais preocupados em atuar para os respectivos públicos internos do que realmente para resolver seus problemas internos. É bom ressaltar que Fernando Lugo, do Paraguai, ainda se encontra em meio ao processo de auto-exaltação que seus colegas boliviano e equatoriano já completaram. Mas não demora muito, conforme indicações vindas de Assunção.
A explicação é simples: elegeram-se, os três, em nome de uma falsa esquerda, debulhando promessas inviáveis para o eleitorado. Ao mesmo tempo, enfrentam a reação dos setores reacionários de seus países. Para ganhar fôlego, então, investem contra o Brasil, que tentam transformar em inimigo externo. Valem-se do exemplo do chefe da gangue onde pediram inscrição, no caso, o presidente da Venezuela, Hugo Chavez.
Esquecem-se, porém, de que o modelo a copiar, mesmo liderando a baderna, é rico, mora num palacete e os deixa dormindo na rua quando, de noite, volta para casa. Se Chavez desafia os Estados Unidos, por que eles não fariam o mesmo com o Brasil? Só que Chavez tem petróleo numa proporção que os gringos não podem prescindir, enquanto Bolívia, Paraguai e Equador nada têm de essencial para barganhar com a gente.
O gás da Bolívia? Ora, em pouco tempo seremos auto-suficientes no produto, sendo que se a situação apertar poderemos importar gás de outras fontes, por via marítima. Em suma, os irmãos mais novos caminham céleres para transformar-se em pivetes, merecendo, enquanto é tempo, umas boas palmadas.
O ministério definitivo
Falta pouco para as eleições municipais revelarem um novo quadro político e partidário. Senão no primeiro, com certeza no segundo turno, saberemos quem subiu e quem desceu na gangorra onde o governo Lula se equilibra.
Traduzindo: se o PT eleger os prefeitos que imagina, ganhará cacifes para confrontar o próprio Palácio do Planalto. A vitória em capitais de grande expressão como Porto Alegre, São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza e outras darão aos companheiros oxigênio suficiente até mesmo para exigir que a escolha do candidato à sucessão de 2010 se faça em condomínio. Parece óbvio que vão querer maiores espaços no ministério, bem como opinar sobre os rumos dos últimos dois anos do mandato do presidente Lula.
Mas se for o PMDB a manter a supremacia nos municípios, elegendo mais prefeitos e vereadores além dos atuais, ficará difícil ao Palácio do Planalto evitar a pretensão maior do partido, no caso, de indicar o candidato à vice-presidência na chapa oficial. Os peemedebistas não deixarão, também, de controlar o Congresso.
No reverso da medalha, quem garante que PSDB e DEM, aliados, não se tornarão os maiores vitoriosos nas próximas urnas? A conseqüência será o acirramento da pregação oposicionista, também com vista à sucessão presidencial. Ficará o governo Lula obrigado a blindar-se para manter o poder, podendo emergir outra vez a proposta do terceiro mandato ou, mesmo, a abominável sugestão da prorrogação geral de mandatos por dois anos.
Tudo indica, em qualquer dos casos, uma vez conhecidos os resultados das urnas, que o presidente Lula se obrigará a uma recomposição do ministério. Poucos ministros estão garantidos, hoje, até porque, para continuar mantendo a popularidade e elevar sua administração a novos patamares, o chefe do governo necessitará promover alterações. Não é o caso da citação, hoje, de ministros fortes e de ministros fracos, mas basta passar os olhos na relação do ministério para se ter razoável noção de quem precisa ficar e de quem precisa sair.
Para concluir, a partir de novembro ninguém conseguirá segurar as especulações, mesmo se Lula, até lá, negar qualquer disposição de reformar o quadro de seus principais auxiliares.
Vantagem para os russos
Se o ministro Mangabeira Unger não atrapalhar, o Brasil poderá entrar no próximo ano com contratos já apalavrados com a Rússia, para a compra de uma partida de caças Sukoi. Fala-se no ministro do Futuro porque da Amazônia ao petróleo do pré-sal, do Plano Nacional de Defesa à política externa, ele se mete em tudo.
Como a decisão deve ficar restrita ao ministro da Defesa e aos comandantes das três forças armadas, é provável que a operação se concretize no correr do primeiro semestre de 2009. Junto com outras, que incluem submarinos franceses, helicópteros e variado equipamento militar.
Os caças Sukoi são considerados os mais modernos, maleáveis e de maior raio de ação. Além do que, os russos se dispõem a repassar tecnologia e garantir peças de reposição, coisa que os americanos não fazem.
A luta continua
Engana-se quem supõe a Polícia Federal na defensiva, disposta a refluir em suas operações investigatórias diante do crime organizado e das maracutaias praticadas nos altos escalões da economia e da administração. A crise dos grampos telefônicos não abalou a instituição, apenas determinou certas cautelas mais pessoais do que funcionais.
Está prevista para os próximos dias uma operação de grande envergadura, dizem que atingindo figuras tão exponenciais quando Daniel Dantas. Aliás, deve cuidar-se o megaespeculador, porque o seu calvário parece longe de haver terminado. Não é verdade que a Polícia Federal deixou de decifrar os disquetes retirados de seus computadores. Estão todos traduzidos.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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