Delegados e agentes federais são acusados de envolvimento com máfia dos combustíveis
Acusada de envolvimento com uma "máfia dos combustíveis", a cúpula da Delegacia da Polícia Federal (PF) em Volta Redonda, no sul fluminense, foi presa ontem durante a Operação Resplendor, realizada pela Superintendência Regional da PF no Rio.
Foram detidos no início da manhã, depois de denunciados à 4ª Vara Federal daquele município pelos crimes de formação de quadrilha armada e corrupção, o delegado-titular, César Augusto Gomes Gaspar, o delegado-substituto, Gustavo Stteel, o chefe do Núcleo Operacional local, Sérgio Vinícius de Oliveira, e três agentes da delegacia. Outro agente estava foragido até o fim da tarde.
A Procuradoria da República denunciou e pediu a prisão de 58 pessoas e a 4ª Vara Federal expediu 40 mandados de prisão preventiva: os sete policiais federais, mais cinco policiais civis e oito policiais militares do Rio, um PM de São Paulo, 18 empresários e um despachante. Até o final da tarde, além dos seis federais, estavam presos dois policiais civis, o policial militar de São Paulo, 12 empresários (três de São Paulo) e o despachante.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o esquema criminoso incluía o acobertamento policial a atividades comerciais ilícitas, especialmente a compra, distribuição e revenda clandestina de combustíveis, muitas vezes adulterados e com fraudes fiscais. O superintendente da PF no Rio, Valdinho Caetano, afirmou que o grupo de policiais recebia uma "caixinha" mensal de cerca de R$ 90 mil dos empresários para não fiscalizá-los. Na casa de um dos agentes federais foram apreendidos R$ 20 mil.
A Justiça não aceitou os pedidos de prisão contra quatro fiscais da Secretaria da Receita do Estado do Rio, dois motoristas de caminhões e mais oito policiais militares de São Paulo, também denunciados pelo MPF. Entre os policiais militares do Rio com mandados de prisão estava Rogério Cerqueira, dono da empresa Intacta Segurança Eletrônica e Serviços, de Volta Redonda.
A PF fez busca e apreensão na casa da mãe do PM. O delegado Gaspar, dono de uma fazenda em Minas, morava em um hotel de Volta Redonda, mas foi preso na casa da namorada. No edifício Saint Laurent, na rua Coroados, Bairro Aterrado, em Volta Redonda, policiais federais aguardavam um policial civil no saguão e não repararam quando ele chegou de carro e foi chamado por uma mulher que o ajudou a fugir.
As investigações foram iniciadas há seis meses pelo Setor de Inteligência da Superintendência da PF. Os empresários são acusados, entre outros crimes, de corrupção ativa, falsificação de documentos, adulteração e transporte clandestino de combustíveis. De acordo com a PF, o combustível era levado de São Paulo para o sul fluminense.
"Eles usavam notas frias e alguns caminhões passavam sem nota nenhuma", disse o superintendente. "Inicialmente, os policiais faziam falsas blitz para extorquir dinheiro. Num segundo momento, estabeleceu-se uma caixinha mensal e o trânsito dos caminhões sem recolhimento dos tributos ficou livre". O delegado Oliveira, chefe do Núcleo Operacional da PF em Volta Redonda, era conhecido como "síndico", segundo Caetano: "Era o responsável por arrecadar o dinheiro e distribuir entre os policiais".
Ainda segundo ele, policiais militares faziam a "escolta" de caminhões com combustível, que muitas vezes era adulterado em galpões em Volta Redonda. Um dos empresários presos em Cabo Frio, na Região dos Lagos já tinha sido detido em outras Operações de combate à máfia dos combustíveis.
Segundo o superintendente, a investigação começou após um acompanhamento do trabalho nas delegacias da PF no estado, no qual se detectou que em Volta Redonda a "produtividade era muito baixa". De acordo com a PF, o esquema funcionava há mais de um ano. Ainda não foi calculado o valor dos impostos que teriam sido sonegados. Advogados dos acusados não haviam chegado até o início da tarde à superintendência da PF no Rio.m.
Com a prisão da cúpula da Delegacia de Volta Redonda, o superintendente do Rio convidou o delegado Marcos Antônio Lino Ribeiro, que chefiava os federais no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para substituir Gaspar.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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