Publicado em 5 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O poder em toda história do planeta, e lá se vão vários séculos, tem que ser obrigatoriamente ocupado. Nos tempos modernos, incluindo os dois mil anos de Cristianismo, ficou gravado eternamente que para chegar a ele, o poder, só existem dois caminhos: as urnas ou as armas.
A mais recente pesquisa do Datafolha revelou um declínio da popularidade de Bolsonaro, frisando inclusive que se as eleições fossem hoje perderia para Lula da Silva. No entanto, o recuo de Bolsonaro no caminho do voto está sendo substituído pela estrada das armas, que também representa a perspectiva de novo arbítrio levando à porta de uma ditadura.
SEM PUNIÇÃO – É o que revela o quadro nacional depois da decisão do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, de não propor nenhuma punição, por mais branda que fosse, ao general Eduardo Pazuello. Nem uma advertência sequer. Portanto, abriu-se o precedente: militares da ativa podem participar de atos políticos.
A população brasileira sentiu um golpe muito forte contra o futuro democrático do país a curto prazo. Se assim não fosse, não haveria necessidade do Alto Comando do Exército endossar o relato do general Paulo Sérgio Nogueira.
A candidatura de Luís Inácio Lula da Silva surgiu de uma engenharia política buscando alguém capaz de derrotar Jair Bolsonaro na reeleição, pois ele, comparecendo às manifestações que pedem a volta da ditadura e o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, coloca em risco a própria democracia.
SÉRIO SINTOMA – Dessa forma, a decisão do Exército, por pressão direta de Bolsonaro, de engolir a atuação de Pazuello, representa um sério sintoma de que, se perder nas urnas, Bolsonaro poderá recorrer às armas. Essa hipótese está bem configurada e ficou mais clara ainda com o episódio que envolveu o ex-ministro da Saúde. Daí porque o presidente da República insiste tanto em substituir as urnas eletrônicas pelo voto impresso.
Não que o voto impresso seja mais seguro do que a urna eletrônica. Pelo contrário. Mas o voto impresso permite, conforme já escrevi neste site, proporcionar uma oportunidade de preenchimento dos votos em branco. Aconteceu tal hipótese nas eleições de 1982 para governador do Rio de Janeiro. Outra coisa: se Bolsonaro vier a ser reeleito, não tenham dúvidas, leitores, de que ele partirá para um processo extremamente ditatorial.
Basta analisar o comportamento político do chefe do Executivo. Em 2020, ele iniciou a campanha para 2022. Portanto, deseja dar continuidade e, se possível, perpetuar sua presença no plano alto do Planalto. A informação está colocada e se dirige a todo o eleitorado e à população brasileira em geral. Os sintomas do início de junho conduzem a uma visão dramática do que poderá acontecer.
JOGO DE EMPURRA – Reportagem de Marcelo Rocha, Folha de São Paulo, desta sexta-feira, revela que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou ter recebido madeireiros no seu gabinete a pedido do ministro Luis Eduardo Ramos, com quem, aliás, já se atritou. O ministro Ramos, por seu turno, diz que apenas encaminhou a solicitação dos empresários acusados a Salles. Como se percebe, um equívoco atrás do outro. Luis Eduardo Ramos diz que apenas encaminhou e Salles diz que apenas recebeu as pessoas.
Enretanto, entre receber empresários e agir para anular a apreensão de 200 mil metros cúbicos de troncos e árvores, arrancadas da floresta, surge uma distância muito grande, pois ficou nítido que o ministro Salles tentou legitimar o gigantestco ato ilegal. Não tinha nada que justificasse a sua ida ao local da apreensão. Ficou muitíssimo abalada a sua administração.
DESEMPREGO NO PAÍS – Fernanda Brigatti e Leonardo Vieceli, Folha de São Paulo, destacam o fato negativo a respeito do desemprego no país e a busca de novos postos de trabalho. Acentuam que o Brasil tem recorde de trabalhadores desempregados há mais de dois anos.
Portanto, fica difícil aceitar a explicação do presidente da República de que o seu governo reduziu em 950 mil pessoas o número de desempregados no Brasil.