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quinta-feira, maio 16, 2024

O que o jornalismo investigativo tem a dizer do Rio Grande do Sul

 

O que o jornalismo investigativo tem a dizer do Rio Grande do Sul

 

Peço licença nesse espaço construído pela minha grande colega Giovana Girardi para escrever algo que consideramos muito caro para nós da Pública.

Tão rápido quanto a inundação que destruiu as cidades do Rio Grande do Sul, autoridades gaúchas se apressaram para tentar dizer que não era "hora de procurar culpados", disparou o governador, Eduardo Leite (PSDB).

Nós na Pública discordamos: culpados, ou melhor, responsáveis por políticas públicas precisam, sim, ter nome, cargo e cara conhecidos pela população.

Isso vale para os políticos, sejam eles os mais óbvios, como prefeitos, governadores, presidente, mas também os que muitas vezes atuam sem tantos holofotes, como congressistas, deputados estaduais, vereadores, membros do judiciário, secretários e mesmo vice-prefeitos.

A responsabilidade também vale para o poder econômico: empresários e grandes produtores rurais que atuam para alterar legislações, enfraquecer proteção ambiental ou até mesmo barrar avanços na política climática com campanhas de desinformação.

 

 Culpados, ou melhor, responsáveis por políticas públicas precisam, sim, ter nome, cargo e cara conhecidos pela população.

É essa a linha que guia as investigações da Pública no desastre do Rio Grande do Sul: queremos sim apontar quem atua à luz do dia ou por trás das cortinas para potencializar catástrofes como essa, que como a Giovana apontou, não ocorreram sem aviso.

É por isso que a equipe da Pública foi atrás das falhas nos alertas à população, investigou o que Eduardo Leite fez ou "desfez" de regras ambientais e climáticas no estado, acompanhou o trabalho de deputados contra projetos de adaptação à crise e mostramos que o Congresso deixou às moscas por anos uma comissão que deveria tratar da crise climática. Também mostramos como o negacionismo climático da Brasil Paralelo tem laços com a vice-prefeitura da capital, Porto Alegre, contamos histórias de quilombolas e moradores de abrigo que cobram atuação do poder público e mostramos a triste história de moradores de Muçum, no Vale do Taquari, que viram pela terceira vez a cidade ser levada por ondas de lama. Ah, antes mesmo dos desastres de agora, nossas investigações já mostravam que o estado do Rio Grande do Sul foi o recordista em decretos de emergência.

Algumas das reportagens que menciono neste texto estão destacadas abaixo. Você encontra toda a nossa cobertura sobre o desastre socioambiental no Rio Grande do Sul neste link.

O propósito de uma agência de jornalismo investigativo como nós é justamente esse: ir atrás do que não foi explicado, ou foi mal explicado, em momentos como esse. Apontar responsabilidades, ouvir as histórias e demandas da população e trazer ângulos novos para impedir que catástrofes como essa sejam normalizadas, despolitizadas, neutralizadas.

 

Bruno Fonseca
bruno@apublica.org
Chefe de redação e editor da Agência Pública

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