Mario Sabino
Metrópoles
A vitória acachapante de Sergio Moro no TSE deixou o PT inconsolável, e após a decisão Moro disse que acusações eram “falsas e mentirosas”. Li até uma comparação com a derrota do Brasil para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014. Aliás, metáfora petista nunca vai além do futebol.
A comparação foi a seguinte: “O placar de 7 a 0 que livrou Moro da cassação impõe ao país uma vergonha muito maior que a derrota para a Alemanha na Copa de 2014, quando a burguesia e a mídia liberal iniciaram a articulação para o golpe contra Dilma”. Eu sempre desconfiei de que aquela seleção do Felipão só podia mesmo ser golpista.
GLEISI CALADA – Há os petistas que tentam guardar a mágoa no coração apertado. Até o momento, por exemplo, Gleisi Hoffmann não abriu a boca em público sobre o resultado no TSE.
Há menos de um mês, ela disse o que achava da possível condenação de Sergio Moro. “Considero a cassação do Moro pedagógica. Justiça e política não podem se misturar”, afirmou a presidente do PT, que sonhava candidatar-se à vaga do senador que conservou o mandato.
Pelo jeito, a única pedagogia que restou a Gleisi Hoffmann é a do oprimido, aquela embromação de Paulo Freire.
BOLA CANTADA – A vitória de Sergio Moro passou a ser bola cantada, com a mudança de disposição dos ministros que o julgariam. Quando o ventou virou, o PT começou a plantar na imprensa que a eventual cassação do algoz de Lula na Lava Jato não era do gosto do chefão petista.
O guia genial dos povos nada originais estaria preocupado com a transformação de Sergio Moro em mártir e com a sua substituição por um opositor ainda mais aguerrido. Que Lula achava melhor deixar o ex-juiz da Lava Jato com o seu mandato, porque ele seria um “senador morno”.
Não estou dizendo que é mentira, mas certamente não é a verdade inteira. O sentimento de vingança de Lula contra Sergio Moro é inapagável por qualquer racionalidade política.
OUTRA VERSÃO – A racionalidade de Lula talvez ainda esteja preservada em relação a Jair Bolsonaro, isto sim, e ele comece a ver com bons olhos a reabilitação do adversário para as eleições de 2026.
Com a popularidade em baixa, sem garantia de que vai recuperar as simpatias que perdeu, para Lula seria melhor enfrentar outra vez Jair Bolsonaro, cuja rejeição é altíssima, do que um candidato da direita racional, com pitada exata de bolsonarismo.
É impossível Jair Bolsonaro recuperar a elegibilidade? Melhor colocar no terreno do altamente improvável, porque nada é impossível no Brasil. Nem perder em casa de 7 a 1 para a Alemanha, nem Sergio Moro ganhar de 7 a 0 no TSE quando não parecia haver esperança para ele. Para não falar da redenção criminal de Lula, é claro. Tudo depende da leitura do contexto pelo STF, um tribunal que se assumiu político.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Muito interessante o raciocínio de Mário Sabino. O problema será Lula convencer o Supremo a se meter novamente em política. Desde 2019, quando soltaram Lula, os ministros têm sofrido tantas críticas que é provável que não queiram se intrometer novamente. (C.N.)