Publicado em 15 de junho de 2022 por Tribuna da Internet
Rafael Moraes Moura
O Globo
As Forças Armadas estão sendo “ignoradas” e “desdenhadas” pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas discussões sobre a organização das eleições deste ano. É o que diz o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “zero um” do presidente da República. Em conversa com a equipe da coluna, Flávio reforçou as críticas do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. O general disse na última sexta-feira (10) que as Forças Armadas não se sentem “devidamente prestigiadas” no debate sobre o processo eleitoral.
“O TSE está desconsiderando papel fundamental que as Forças Armadas têm em defesa do Estado Democrático de Direito, da nossa democracia”, disse Flávio à equipe da coluna nos corredores do Senado. “A instituição com a maior credibilidade no Brasil foi simplesmente ignorada, desdenhada.”
DEFESA E TSE – O Ministério da Defesa divulgou na semana passada suas “considerações sobre as respostas técnicas” do tribunal às sugestões que haviam sido formuladas pelos militares para as eleições. A nota foi uma forma de marcar posição e não deixar a última palavra com o TSE.
No ofício enviado ao TSE, o ministro da Defesa insiste que as sugestões feitas pelas Forças Armadas sobre “aperfeiçoamento e segurança do processo eleitoral” sejam apreciadas pela Corte Eleitoral.
Em resposta, o presidente do tribunal, Edson Fachin, divulgou um documento em que afirma já ter acolhido 10 das 15 propostas feitas pelas Forças Armadas para as eleições, uma informação que se desconhecia.
MAIS TRANSPARÊNCIA – “Qualquer coisa que nós possamos fazer para dar mais transparência e segurança ao processo eleitoral é válido. Eu, sinceramente, gostaria muito que o TSE também entendesse assim. Mas algumas pessoas no TSE colocam a vaidade pessoal na frente dessa importância de o eleitor médio, o cidadão comum, se sentir seguro na hora de votar”, criticou Flávio Bolsonaro.
Indagado pela equipe da coluna se se referia a Fachin, Flávio respondeu que sim.
“Não sei se é questão de vaidade, se é questão de maldade. Com tanta resistência em querer implementar medidas simples que não custam recursos, que podem passar essa credibilidade que o povo espera, isso sempre obviamente aumenta a desconfiança de que se está tentando esconder algo. E isso é muito ruim.”
DIZ O TSE – As sugestões acolhidas pelo TSE, em sua maioria, fazem referência à totalização e possibilidade de auditoria. A maioria delas, entretanto, já era prevista, como a atuação de empresa contratada por partido político para fiscalizar as eleições, ou a possibilidade de totalização paralela dos votos.
O TSE se meteu em um cabo de guerra com as Forças Armadas e o Palácio do Planalto ao convidar os militares para participar de uma comissão voltada para aumentar a transparência e a segurança do processo eleitoral.
O convite foi uma tentativa de dar maior legitimidade ao processo, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro têm levantado suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas, usadas pelos eleitores brasileiros desde a campanha de 1996. Até hoje nenhuma suspeita de fraude foi comprovada. Ainda assim, os militares vêm apontando vulnerabilidades que o TSE contesta.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Caramba! Até Flávio Bolsonaro percebeu que o TSE menosprezou o apoio das Forças Armadas… E nesta briga inglória, falta transparência e sinceridade. A única proposta recusada dos militares sugeria uma transparência que o TSE considerou “exagerada”. Como se sabe, transparência só é exagerada no vestido da mulher dos outros. Em matéria eleitoral, quanto mais transparência, melhor.
E falta sinceridade ao TSE, ao dizer que, das 10 propostas das FFAA já aprovadas, “a maioria já era prevista”. Ora, trata-se de conversa fiada ou “jus embromandi”. Se eram previstas, por que não haviam sido adotadas? E ainda falta aprovar quatro sugestões dos militares, em análise. Ou seja, foram 15 propostas, e todas procedentes, que o TSE deveria agradecer, ao invés de menosprezar, como Fachin vinha demonstrando. Mas agora o ministro levou o troco e afinou, como se dizia antigamente, ao soltar notas oficiais se desculpando, três dias seguidos. (C.N.)