Publicado em 21 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Putin procura sempre ser um personagem enigmático nas movimentações políticas e agora também militares, cuja realização autorizou nas províncias separatistas da Ucrânia que são contra o governo de Kiev e a favor da tirania de Moscou. A tensão se agravou nas últimas 24 horas, como acentua Igor Gielow, enviado da Folha de S. Paulo a Moscou, na edição de ontem.
As províncias que estão sendo abastecidas de armamentos e servindo também de bases para a ocupação militar por parte da Rússia são as que se opõem ao governo de Kiev e que estão viabilizando um pretexto que dê margem a uma ação militar violenta e direta de Moscou.
AUMENTO DA TENSÃO – O Globo também destaca o crescimento da tensão com os testes de mísseis nucleares que a Rússia vem realizando nas proximidades das províncias de Donetsk e Lugansk que se autoproclamaram repúblicas populares. Na realidade são pró-Rússia e contra a própria Ucrânia.
As reuniões da Otan e do Conselho de Segurança da ONU voltam-se ainda num esforço para uma saída diplomática de uma crise que não ameaça só um país, mas toda a Europa e até mesmo o futuro do mundo. Isso porque diante da iminência da invasão cada dia maior, ninguém pode hoje estimar as consequências do conflito que pode se espalhar no cenário internacional.
O planeta e a população mundial não estão conseguindo dormir diante de uma repetição da crise dos mísseis em Cuba em 1962 que representou uma ameaça à uma guerra atômica envolvendo as duas maiores potências militares que se formaram naquele novo capítulo na história universal. O panorama é tão grave que o embaixador brasileiro na Ucrânia pediu para os brasileiros, principalmente os que moram nas províncias conflitadas, deixarem as regiões.
INTERVENÇÃO MILITAR – O próximo passo será o de estender o apelo aos brasileiros que estão residindo em toda a Ucrânia porque não é possível que a concentração de forças militares no país não seja um sintoma extremamente crítico de uma violenta intervenção militar. Conforme já dito anteriormente em outro artigo, tal desfecho dramático afetará diretamente as eleições presidenciais de outubro.
O presidente Bolsonaro ainda não se pronunciou e ele provavelmente não sabe o que dizer depois de sua viagem a Moscou, mas o embaixador brasileiro na ONU que está participando das reuniões do Conselho de Segurança é contra a iminente invasão na Rússia mais uma vez voltada na história para sufocar áreas que julga de seu domínio em relação às quais não admite qualquer divergência.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Em artigo na edição de ontem de O Globo, Merval Pereira focaliza os limites naturais que envolvem o direito de expressão, limites aliás que envolvem todas as ações humanas. O direito é uma matéria que nasceu do bom senso. A liberdade de expressão pode ser processada nos debates políticos, nos debates econômicos, na área das questões sociais, enfim, nas manifestações que a humanidade pode desenvolver dentro das fronteiras da lei sem extrapolar para o absurdo.
Ninguém tem direito à liberdade de expressao para incentivar o assassinato, o roubo, a pedofilia, da mesmoa forma que, na área da Saúde, para incentivar a nao vacinação. São exemplos marcantes das limitações não só da expressão através das redes sociais, dos jornais e da televisão, mas da liberdade de expressão de cada um até no campo individual.
APOLOGIA – Não se pode admitir, por exemplo, que alguém saia nas ruas fazendo apologia da violência doméstica contra a mulher. Não são limites ilegais. Ilegal é a ultrapssagem desses limites. Portanto, no campo político e eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso, que na terça-feira transmitirá o cargo de presidente do TSE a Edson Fachin, tem razão nos esforços que desenvolveu para evitar a proliferação das fake news na estrada para as urnas.
Da mesma forma que não tem cabimento que a rede social Telegram alegando ter sede fora do país, possa julgar-se incólume à legislação brasileira. Se tal pensamento prevalecesse haveria limites para empresas brasileiras ou registradas no país, e não haveria limites para empresas registradas fora de nossas fronteiras, a exemplo do Telegram.
CONTRADIÇÕES – Reportagem de Marcelo Rocha na Folha de S. Paulo deste domingo, expõe amplamente as contradições do Telegram. Consta que o seu domicílio é na Rússia, mas os poderes de representação no Brasil foram conferidos, assinala Marcelo Rocha, pelo empresário russo Pavel Durov, um dos fundadores da empresa, ao escritório Araripe Associados, com sede no Rio de Janeiro.
O Telegram é apontado como a principal fonte de fake news lançadas no mercado de informação. O escritório brasileiro limitou-se a confirmar a existência do contrato vigente para atuar em nome do aplicativo exclusivamente em assuntos de propriedade intelectual. A definição totalmente vaga, já que assuntos intelectuais não têm limite, funciona como uma tentativa de ocultar as obrigações inerentes às redes sociais.
VOTOS NULOS E BRANCOS – Lauro Jardim em seu espaço de ontem no O Globo publicou que a direção da campanha de Bolsonaro está definindo como estratégia sua capacidade de arrebatar para si os votos de 15% dos eleitores e eleitoras que segundo as pesquisas do Datafolha e do Ipec pretendem votar em branco ou anular o voto. É um engano.
O índice que o Datafolha apresentou para os que pretendem anular o voto ou votar em branco não foi de 15%, mas de 9%. O que faz que para efeito de maioria absoluta, 91% sejam iguais a 100%. Para o Ipec, o índice é de 10%. As duas taxas estão muito baixas, ao contrário de eleições anteriores na distância em que nos encontramos das urnas. Mas nas urnas os 10% de votos nulos e brancos ocorrem desde 1955 quando JK foi eleito.
Juscelino teve 33% da votação, Juarez Távora 27%, Adhemar de Barros 20%, Plínio Salgado 10%, e nulos e brancos 10% também. Quem examinar estatísticas eleitorais através do tempo, excetuando-se as de 1966, vai constatar que nos embates presidenciais os índices de votos nulos e brancos começava mais alto, mas terminava sempre em cerca de 10 pontos. Agora, o interesse pelo desfecho eleitoral parece maior já que a disposição de esterilizar o voto está entre 9% e 10%, mas a oito meses das urnas.