Publicado em 21 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Elio Gaspari
Folha/O Globo
O ministro Edson Fachin assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, depois de uma entrevista bombástica. Ele fica na cadeira até agosto. Fará uma gestão estelar se impuser a Edson Fachin e a alguns colegas um sistema de cotas para as próprias falas.
Cada um e todos, só deverão ir aos holofotes de forma que apareçam mais por seus votos e despachos do que por seus discursos. Em bom português, trabalhar mais e falar menos.
TIPO ROSA WEBER – Seria muito pedir que sigam a discrição da ministra Rosa Weber, do STF, mas algum limite precisa ser colocado. A ministra diz a quem quiser ouvir que não vai a eventos e não dá entrevistas. Não é arroz de festa.
O Tribunal Superior Eleitoral meteu-se a trazer militares para a discussão das urnas eletrônicas e colocou o general da reserva Fernando Azevedo e Silva na sua diretoria. Foi a carga da cavalaria ligeira dos ingleses na Batalha de Balaclava, um lindo desastre para um filme, uma celebração para a literatura.
O general foi embora e a mistura do Exército com a eficácia das urnas foi transformada por Jair Bolsonaro em mais um de seus espetáculos semanais. A vivandagem, com o tribunal indo aos granadeiros, resultou apenas num constrangimento.
DOIS EXEMPLOS – Nos últimos anos o Judiciário brasileiro deu-se bem em dois episódios marcantes.
Joaquim Barbosa presidiu o Supremo no caso do mensalão falando nos autos e nas sessões. Anos depois, o próprio TSE atravessou o processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer sem espetáculos além do próprio julgamento.
As campanhas eleitorais têm de tudo, e o que todo candidato quer é um antagonista que lhe garanta 15 minutos (ou 15 horas) de fama. Os ministros não precisam entrar nessa várzea, até porque o que dizem fora dos tribunais tem pouca serventia.
FALAR DEMAIS… – Delinquentes não temem a oratória de magistrados, mas apenas suas decisões. Um tribunal falando a torto e a direito torna-se um laboratório que vende remédios onde há só a marca e a bula.
Nos Estados Unidos há um ex-presidente insistindo que lhe roubaram a eleição. Da Corte Suprema saíram apenas decisões e alguns parágrafos de falas do juiz John Roberts.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Elio Gaspari bateu na tecla certa. Em entrevista à Veja, Fachin disse tudo o que Bolsonaro queria ouvir. Afirmou, por exemplo, que a guerra cibernética contra a Justiça Eleitoral “já foi declarada”, destacou que as milícias digitais que atuam nas redes sociais ameaçam não apenas o processo eleitoral brasileiro, mas a democracia como um todo, com riscos constantes de ataques ao TSE. E citou a Rússia como um “exemplo dessas procedências”, pela relutância em “sancionar os cibercriminosos”, o que ele considera ser algo “grave”. Fachin falou demais e não resolveu nada. (C.N.)