Publicado em 2 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
A jornalista Malu Gaspar, de O Globo, publicou artigo mostrando que a ex-presidente Dilma Rousseff se tornou um problema para Lula da Silva e o PT, que procuraram afastá-la da campanha eleitoral, em função ao fracasso do governo dela, que redundou no impeachment em 2016, devido às pedaladas contábeis e ao conjunto da obra, como ficou evidente na época.
“Foi claro e direto o recado que Dilma Rousseff passou a Lula e ao PT, na conversa que tiveram em São Paulo, no último dia 13: ainda que o partido possa querer escondê-la na campanha, a ex-presidente vai defender o próprio governo publicamente sempre que julgar necessário”, revelou a colunista global, acrescentando que o embate entre Lula e Dilma durou mais de quatro horas e foi testemunhado por Gleisi Hoffman, presidente do PT, e Aloizio Mercadante, que dirige a fundação petista Perseu Abramo.
PROBLEMA DELICADO – O escanteamento de Dilma Roussef era fato consumado, como o próprio Lula deixou claro, ao dar entrevista à rádio CBN Vale do Paraíba, há alguns dias. “O tempo passou, tem muita gente nova no pedaço e eu pretendo montar o governo com muita gente nova, muita gente importante e com muita experiência também”, disse Lula, ao ser questionado sobre a possibilidade de a sucessora participar de um eventual governo seu, relatou Malu Gaspar.
“A Dilma é uma pessoa pela qual eu tenho o mais profundo respeito e carinho. A Dilma tecnicamente é uma pessoa inatacável, tem uma competência extraordinária. Onde ela erra, na minha opinião, é na política”, acrescentou Lula, imprudentemente, despertando o ódio da ex-companheira.
O fato é que Dilma Rousseff ficou possessa, reagiu e agora o problema do PT é acalmá-la. O primeiro passo foi a conversa na fundação Perseu Abramo, a convite de Mercadante, que foi chefe da Casa Civil no governo Dilma. E o resultado prático é que Dilma peitou Lula e a direção do PT, fez ameaças e os obrigou a aceitá-la na campanha.
EVENTO PROVIDENCIAL – Mercadante tratou logo de providenciar um evento conjunto, para reunir Lula e Dilma na própria Fundação Perseu Abramo, nesta segunda-feira (dia 31), a pretexto de defender o legado dos governos deles, para uma plateia exclusivamente formada por petistas.
Foi um ato virtual, mas Dilma mostrou sua força e falou durante 20 minutos, mostrando que os petistas vão ter de aturá-la, a contragosto.
Não é a primeira vez que Dilma derrota Lula dentro do próprio PT e a contragosto do partido. Repete-se o que aconteceu em 2014, quando os petistas lançaram a campanha “Volta, Lula”, para não reeleger Dilma.
LULA EMPAREDADO – Na época, ninguém aguentava mais Dilma, o retorno de Lula à política era considerado óbvio pelos petistas, especialmente porque o tucano Aécio Neves era um candidato muito forte, como de fato demonstrou.
A grande surpresa aconteceu na convenção, quando o próprio Lula discursou defendendo a reeleição de Dilma, que seria esmagada na votação dos convencionais. Foi a mais triste convenção da história do PT. Ninguém entendeu nada.
Humilhado, Lula nem queria participar da campanha, mas teve de liderá-la, porque Aécio cresceu nas pesquisas e quase ganhou. Aliás, até hoje há dúvidas se houve fraude ou não, porque foi Minas Gerais que deu a reeleição a Dilma, e quatro anos depois ela ficou em quarto lugar para o Senado…
ARQUIVO AMBULANTE – Em 2014, Dilma fez Lula se curvar porque ameaçou contar tudo o que sabe sobre ele, como o esquema de corrupção e a ligação com empresários. Mas a estocada fatal foi o cartão corporativo da segunda-dama Rosemary Noronha, que Dilma iria revelar, junto com o fato de a amante viajar 34 vezes no Aerolula como clandestina, sem o nome na lista de passageiros. Ou seja, se o avião caísse, haveria um corpo a mais…
Dilma enfrentou Lula, demitiu Rosemary e a filha dela, que ninguém sabe se é também filha de Lula, pois nasceu em meio ao romance. E agora, oito anos depois, mais uma vez a ex-companheira Dilma derrota Lula e a direção do PT, sendo gloriosamente reintegrada à campanha do partido, com direito a aparecer na TV e tudo o mais.
Como diz o velho ditado, nada como um dia após o outro. Na verdade, Lula nem precisa de Dilma para vencer. Pelo contrário, na campanha do PT ela será um estorvo, como diria o sempre petista Chico Buarque. Mas acontece que Lula agora precisa desesperadamente do silêncio dela, para não perder.