Militares ucranianos seguem em alerta contra uma possível invasão russa
Segundo Kremlin, governo Putin aguarda com "impaciência" visita do presidente brasileiro. Controversa viagem de Bolsonaro a Moscou ocorre em meio a escalada no conflito entre Rússia e Ucrânia.
O porta-voz da presidência da Rússia, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira (14/02) que o país espera com "impaciência" a visita do presidente Jair Bolsonaro, a partir desta quarta-feira. A viagem tem sido amplamente criticada, no Brasil e em outros países, inclusive por aliados de Bolsonaro, por ocorrer num momento inoportuno, em meio à escalada nas tensões no Leste Europeu, com possibilidade de um ataque da Rússia à Ucrânia.
Peskov explicou que na reunião entre os dois presidentes serão abordadas as relações bilaterais", já que existe uma "agenda bastante ampla". "Também se falará de esferas potenciais, e se pode ser aprofundada e ampliada a interação."
De acordo com o porta-voz, o diálogo russo-brasileiro será uma "boa oportunidade para trocar opiniões sobre os temas mais candentes da agenda mundial, incluindo aqueles de que falamos faz bastante tempo", numa referência à situação da Ucrânia. Putin e Bolsonaro concederão uma entrevista coletiva conjunta logo depois a reunião, acrescentou.
Bolsonaro embarca para a Rússia na noite desta segunda-feira. O presidente prometeu a apoiadores uma transmissão ao vivo assim que chegar a Moscou, na noite seguinte. Na quarta-feira, tem encontro marcado com Putin e empresários locais. Depois, segue para a Hungria, onde deverá se encontrar com o primeiro-ministro Viktor Orbán.
Energia, defesa e agricultura
Enquanto nos últimos dias um desfile de líderes ocidentais tem visitado o Leste Europeu e faz frequentes ligações a Putin em busca de uma solução diplomática para o conflito com a Ucrânia, a visita de Bolsonaro deve se concentrar em assuntos como "energia, defesa e agricultura", segundo o próprio presidente.
No sábado, Bolsonaro confirmou a viagem a Moscou, com uma comitiva de ministros: "Fui convidado pelo presidente Putin. O Brasil depende muito dos fertilizantes russos. Levaremos também um grupo de ministros para tratar de outros assuntos que interessam aos nossos países, como a energia, a defesa e a agricultura", disse no sábado, em entrevista à rádio Tupi. "Pedimos a Deus que a paz reine no mundo para o bem de todos nós", acrescentou o presidente.
Os Estados Unidos pressionaram, sem sucesso, para que a viagem fosse cancelada. Segundo a Casa Branca, o momento da visita pode passar a mensagem de que o Brasil apoia a Rússia na questão da Ucrânia, justamente quando os países do Ocidente tentam isolar Putin e tentar uma solução diplomática para o conflito. Alguns interlocutores afirmam que Bolsonaro decidiu manter a viagem para não dar a impressão de que é submisso aos americanos.
Medidas contra o coronavírus
Putin vem sendo muito cauteloso quanto à covid-19 e, a pedido do governo russo, Bolsonaro reduziu o tamanho de sua comitiva, que deve passar por testes de coronavírus na chegada à Rússia
Devem acompanhar o presidente os ministros das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, da Secretaria-Geral da Presidência, Eduardo Ramos, e da Defesa, Braga Netto. Membros do alto escalão das Forças Armadas também devem fazer parte do grupo, já que um dos temas a ser debatidos em Moscou será a cooperação na área de tecnologia militar.
Na semana anterior, um protocolo da reunião entre Putin e o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou mais a atenção do que o teor da conversa. Os dois sentaram-se em extremidades opostas de uma longa mesa de seis metros. Segundo o Kremlin, a medida foi necessária porque Macron não aceitou fazer um teste PCR ao chegar à Rússia. Fontes ligadas ao governo francês dizem que ele temia que seu DNA ficasse de posse dos russos.
Antes de se reunir com Bolsonaro, Putin receberá, na terça-feira, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que viaja a Moscou na esperança de ajudar numa solução diplomática para o conflito com a Ucrânia.
Relações com a Ucrânia
Na sexta-feira, três dias antes da viagem de Bolsonaro à Rússia, o Brasil comemorou os 30 anos de relações diplomáticas com a Ucrânia.
Para marcar a data, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota destacando que "desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários".
A nota chamou atenção por ser publicada às vésperas da visita de Bolsonaro a Moscou, num momento de alta tensão, quando governos ocidentais pedem para que seus cidadãos deixem a Ucrânia o mais rapidamente possível e desaconselham viagens não essenciais ao país.
A companhia aérea holandesa KLM chegou a suspender por tempo indeterminado as duas linhas diárias que mantém entre Amsterdã e Kiev, e informou que não sobrevoará mais o espaço aéreo ucraniano.
Em janeiro, ao falar a apoiadores sobre a viagem, Bolsonaro afirmou que o convite partiu de Putin. "Sabemos dos problemas que alguns países têm com a Rússia. Mas a Rússia é parceiro nosso. Essa é uma viagem que interessa a nós, e a eles também", disse na época.
Ataque a qualquer momento
Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou que a Rússia está concentrando ainda mais tropas perto da Ucrânia, e uma invasão pode ocorrer a qualquer momento, talvez antes do fim dos Jogos de Inverno de Pequim, em 20 de fevereiro.
A atual crise entre Rússia e Ucrânia começou no fim de 2021, com a concentração de dezenas de milhares de tropas russas e armamento pesado perto das fronteiras da Ucrânia. A movimentação aumenta os temores de que Moscou planeje um ataque à Ucrânia, depois de ter anexado a península da Crimeia em 2014. No mesmo ano, separatistas pró-russos apoiados por Moscou iniciaram uma guerra contra Kiev na região oriental do Donbass, que já provocou cerca de 14 mil mortos e 1,5 milhão de desalojados, segundo a ONU.
A Rússia nega qualquer intenção de invadir a Ucrânia, mas condiciona uma distensão da crise a exigências. Entre elas, está a garantia de que a Ucrânia nunca fará parte da Otan e o regresso das tropas aliadas nos países vizinhos às posições anteriores a 1997.
Deutsche Welle