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terça-feira, fevereiro 15, 2022

Bolsonaro e Putin discutirão "temas da agenda mundial"

 




Militares ucranianos seguem em alerta contra uma possível invasão russa

Segundo Kremlin, governo Putin aguarda com "impaciência" visita do presidente brasileiro. Controversa viagem de Bolsonaro a Moscou ocorre em meio a escalada no conflito entre Rússia e Ucrânia.

O porta-voz da presidência da Rússia, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira (14/02) que o país espera com "impaciência" a visita do presidente Jair Bolsonaro, a partir desta quarta-feira. A viagem tem sido amplamente criticada, no Brasil e em outros países, inclusive por aliados de Bolsonaro, por ocorrer num momento inoportuno, em meio à escalada nas tensões no Leste Europeu, com possibilidade de um ataque da Rússia à Ucrânia.

Peskov explicou que na reunião entre os dois presidentes serão abordadas as relações bilaterais", já que existe uma "agenda bastante ampla". "Também se falará de esferas potenciais, e se pode ser aprofundada e ampliada a interação."

De acordo com o porta-voz, o diálogo russo-brasileiro será uma "boa oportunidade para trocar opiniões sobre os temas mais candentes da agenda mundial, incluindo aqueles de que falamos faz bastante tempo", numa referência à situação da Ucrânia. Putin e Bolsonaro concederão uma entrevista coletiva conjunta logo depois a reunião, acrescentou.

Bolsonaro embarca para a Rússia na noite desta segunda-feira. O presidente prometeu a apoiadores uma transmissão ao vivo assim que chegar a Moscou, na noite seguinte. Na quarta-feira, tem encontro marcado com Putin e empresários locais. Depois, segue para a Hungria, onde deverá se encontrar com o primeiro-ministro Viktor Orbán.

Energia, defesa e agricultura

Enquanto nos últimos dias um desfile de líderes ocidentais tem visitado o Leste Europeu e faz frequentes ligações a Putin em busca de uma solução diplomática para o conflito com a Ucrânia, a visita de Bolsonaro deve se concentrar em assuntos como "energia, defesa e agricultura", segundo o próprio presidente.

No sábado, Bolsonaro confirmou a viagem a Moscou, com uma comitiva de ministros: "Fui convidado pelo presidente Putin. O Brasil depende muito dos fertilizantes russos. Levaremos também um grupo de ministros para tratar de outros assuntos que interessam aos nossos países, como a energia, a defesa e a agricultura", disse no sábado, em entrevista à rádio Tupi. "Pedimos a Deus que a paz reine no mundo para o bem de todos nós", acrescentou o presidente.

Os Estados Unidos pressionaram, sem sucesso, para que a viagem fosse cancelada. Segundo a Casa Branca, o momento da visita pode passar a mensagem de que o Brasil apoia a Rússia na questão da Ucrânia, justamente quando os países do Ocidente tentam isolar Putin e tentar uma solução diplomática para o conflito. Alguns interlocutores afirmam que Bolsonaro decidiu manter a viagem para não dar a impressão de que é submisso aos americanos.

Medidas contra o coronavírus

Putin vem sendo muito cauteloso quanto à covid-19 e, a pedido do governo russo, Bolsonaro reduziu o tamanho de sua comitiva, que deve passar por testes de coronavírus na chegada à Rússia

Devem acompanhar o presidente os ministros das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, da Secretaria-Geral da Presidência, Eduardo Ramos, e da Defesa, Braga Netto. Membros do alto escalão das Forças Armadas também devem fazer parte do grupo, já que um dos temas a ser debatidos em Moscou será a cooperação na área de tecnologia militar. 

Na semana anterior, um protocolo da reunião entre Putin e o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou mais a atenção do que o teor da conversa. Os dois sentaram-se em extremidades opostas de uma longa mesa de seis metros. Segundo o Kremlin, a medida foi necessária porque Macron não aceitou fazer um teste PCR ao chegar à Rússia. Fontes ligadas ao governo francês dizem que ele temia que seu DNA ficasse de posse dos russos.

Antes de se reunir com Bolsonaro, Putin receberá, na terça-feira, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que viaja a Moscou na esperança de ajudar numa solução diplomática para o conflito com a Ucrânia.

Relações com a Ucrânia

Na sexta-feira, três dias antes da viagem de Bolsonaro à Rússia, o Brasil comemorou os 30 anos de relações diplomáticas com a Ucrânia.

Para marcar a data, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota destacando que "desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários".

A nota chamou atenção por ser publicada às vésperas da visita de Bolsonaro a Moscou, num momento de alta tensão, quando governos ocidentais pedem para que seus cidadãos deixem a Ucrânia o mais rapidamente possível e desaconselham viagens não essenciais ao país.

A companhia aérea holandesa KLM chegou a suspender por tempo indeterminado as duas linhas diárias que mantém entre Amsterdã e Kiev, e informou que não sobrevoará mais o espaço aéreo ucraniano.

Em janeiro, ao falar a apoiadores sobre a viagem, Bolsonaro afirmou que o convite partiu de Putin. "Sabemos dos problemas que alguns países têm com a Rússia. Mas a Rússia é parceiro nosso. Essa é uma viagem que interessa a nós, e a eles também", disse na época.

Ataque a qualquer momento

Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou que a Rússia está concentrando ainda mais tropas perto da Ucrânia, e uma invasão pode ocorrer a qualquer momento, talvez antes do fim dos Jogos de Inverno de Pequim, em 20 de fevereiro.

A atual crise entre Rússia e Ucrânia começou no fim de 2021, com a concentração de dezenas de milhares de tropas russas e armamento pesado perto das fronteiras da Ucrânia. A movimentação aumenta os temores de que Moscou planeje um ataque à Ucrânia, depois de ter anexado a península da Crimeia em 2014. No mesmo ano, separatistas pró-russos apoiados por Moscou iniciaram uma guerra contra Kiev na região oriental do Donbass, que já provocou cerca de 14 mil mortos e 1,5 milhão de desalojados, segundo a ONU.

 A Rússia nega qualquer intenção de invadir a Ucrânia, mas condiciona uma distensão da crise a exigências. Entre elas, está a garantia de que a Ucrânia nunca fará parte da Otan e o regresso das tropas aliadas nos países vizinhos às posições anteriores a 1997.

Deutsche Welle

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