Publicado em 3 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet
Paulo Cappelli, Natália Portinari, Leandro Prazeres e Julia Lindner
O Globo
O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) relatou em depoimento à Polícia Federal, na semana passada, que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse a ele ter recebido pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para liberar recursos da pasta.
O Globo obteve o vídeo da oitiva do parlamentar, ocasião em que ele conta também que Pazuello teria dito que havia “sacanagem” no ministério desde que ele assumiu. A matéria completa traz também outros trechos do depoimento de Miranda.
UM DESABAFO – Em depoimento à Polícia Federal, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) descreve desabafo do ex-ministro da Saúde. “Ele (Pazuello) falou: ‘Sacanagem tem desde que eu entrei’”, disse o deputado à PF, no inquérito que investiga o caso Covaxin.
A conversa entre Miranda e o ex-ministro teria ocorrido no dia 21 de março, um dia depois de o próprio Miranda e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, que é servidor do Ministério da Saúde, terem levado ao presidente Jair Bolsonaro denúncias sobre a compra da vacina indiana Covaxin, cujo contrato foi suspenso em virtude das suspeitas de irregularidades. O depoimento de Miranda foi prestado num inquérito aberto para investigar se Bolsonaro prevaricou, ou seja, não tomou providências ao ser informado sobre as supostas ilegalidades na aquisição do imunizante
— Eu disse: “Pazuello, tá tendo sacanagem no teu ministério. Tem que agir, mermão”. Aí ele falou: “Sacanagem tem desde que eu entrei”. Com aquele jeitão carioca dele. Inclusive, ontem, eu fui no presidente e entreguei um negócio pra ele. É um absurdo. Se estiver acontecendo de verdade, é um absurdo você precisa cuidar disso.
RESPONDEU PAZUELLO – Miranda continua o depoimento contando o que Pazuello teria respondido:
— O Pazuello olha pra mim e diz assim: “Deputado, posso falar a verdade? Eu passei seis horas andando de helicóptero com ele (Bolsonaro) e consegui 10 minutos de atenção dele. Eu não consigo. Eu tenho coisas pra resolver com ele e, porra, no final do ano eu levei uma pressão tão grande que eu não sei exatamente como resolver. Uma pressão… um cara”.
Miranda relata então o que teria ouvido do ex-ministro da Saúde sobre Arthur Lira.
— (E eu perguntei) “Que cara? “O Arthur Lira, porra. O Arthur Lira colocou o dedo na minha cara e disse: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’, porque eu não quis liberar a grana pra listinha que ele me deu dos municípios que ele queria que recebesse. Ele bota o dedo na minha cara”.
Miranda relata então o que teria ouvido do ex-ministro da Saúde sobre Arthur Lira.
DEDO NA CARA — Miranda perguntou “Que cara?”. E Pazuello respondeu: “O Arthur Lira, porra. O Arthur Lira colocou o dedo na minha cara e disse: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’, porque eu não quis liberar a grana pra listinha que ele me deu dos municípios que ele queria que recebesse. Ele bota o dedo na minha cara”.
Durante aquela semana, Bolsonaro foi pressionado por integrantes do Centrão a trocar o ministro da Saúde. O presidente bateu o martelo sobre a substituição em 14 de março, uma semana antes do dia em que Miranda teria conversado com Pazuello.
— O presidente sabe disso? — teria questionado então Luis Miranda, de acordo com seu relato à PF, a Pazuello. — “Lógico que o presidente sabe. Eu falei para o presidente”. Eu olhei para o Pazuello: “Você não tem noção do que tá falando, cara”. Ele falou: “Luis, Eu não durmo. Nessa semana eu tô fora. Eles vão me tirar, cara. O cara falou que ia me tirar”
DESESPERO DO MINISTRO – Depois, Pazuello teria desabafado sobre sua gestão à frente da pasta. “Você tem noção, Luis, o que nós fizemos pelo Brasil?” (perguntou Pazuello). E ele começou a contar toda uma história que ele materializou com mensagens que ele enviou depois. “Nós tentamos comprar EPI (matéria de proteção sanitária), não deixaram. Tentamos importar vacina antecipada e não deixaram. Tentei fazer contrato, mandaram cancelar o contrato”, narrando um caso que aconteceu lá atrás, que o próprio Palácio mandou ele cancelar o contrato. Que ele tinha agido antecipadamente. “E as bombas vieram tudo pra cima de mim. Todo mundo fala, o ministro da Saúde está errando. Cara, eu não consigo fazer. Eu tento fazer, e nego me barra”.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Importantíssimo o relato do deputado Luís Miranda, que mostra o general Pazuello como um ministro que não mandava no ministério, pois era o Centrão, com Ricardo Barros e Arthur Lira, que tinha o comando de tudo. E a gente pensando que Pazuello era o chefe… (C.N.)