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quinta-feira, fevereiro 18, 2021

“Um leão dentro da jaula”, é assim que vive o ex-presidente Lula, segundo amigos próximos


Fachin havia negado pedido de HC

Lula espera ser inocentado pelo STF, mas é muito difícil

Thais Carrança

BBC News Brasil

Um leão dentro da jaula. Essa é a imagem que um amigo próximo escolhe para descrever o atual estado de espírito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele ficou confinado lá em Curitiba mais de 500 dias. Depois vem a pandemia, fica confinado em casa. Vai para Cuba, pega covid, fica confinado em Cuba”, diz esse amigo.

“Ele não aguenta mais o confinamento, está louco para ver gente. Ele é o tipo de ser humano para quem o contato com as pessoas é essencial. Está louco para tomar a vacina, para poder voltar a ter mobilidade”, conta o confidente, que prefere falar sob anonimato, pois afirma não ter a pretensão de ser um “intérprete” do ex-presidente.

DECISÃO DO SUPREMO – Diante da expectativa de retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a suspeição do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá, a BBC News Brasil ouviu nos últimos dias seis pessoas próximas ao ex-presidente.

Entre elas, estão o ex-presidente e atual diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto; o senador Jaques Wagner (PT-BA); o deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) e o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente no Supremo. Outras duas pessoas prefeririam não ter seus nomes citados.

Segundo essas pessoas do círculo íntimo de Lula, ele não acredita que poderá concorrer à Presidência em 2022, apesar de ainda nutrir o desejo de ser candidato.

COMO DESFAZER O MAL? – “O que ele tem repetido para algumas pessoas no particular é que não tem como desfazerem o mal que fizeram. A mentira foi tão grande, que fica difícil voltar atrás”, afirma uma das pessoas que optou pelo anonimato. “Voltar atrás e deixar o Lula readquirir os direitos políticos dele seria muito difícil, porque eles iriam se desmoralizar.”

Além da expectativa do ex-presidente quanto ao julgamento no STF e quanto ao futuro do PT nas eleições de 2022, esse círculo de pessoas próximas relata como Lula tem passado os dias; por que desistiu por enquanto de se mudar para a Bahia; por que decidiu viajar para Cuba mesmo em meio à pandemia; e o que tem pensando sobre o governo Jair Bolsonaro (sem partido) e a atuação da oposição diante do avanço da extrema-direita.

Lula deixou a prisão em novembro de 2019, após 580 dias, beneficiado por uma decisão do STF que reconheceu o direito de réus condenados a responderem em liberdade até o último recurso. Condenado em duas instâncias no caso do tríplex no Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato, ele cumpria pena de 8 anos, 10 meses e 20 dias. No caso do sítio de Atibaia (SP), o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) condenou o ex-presidente em segunda instância a 17 anos, 1 mês e 10 dias de prisão.

COM A NAMORADA – Aos 75 anos, Lula mora atualmente em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, mas não mais no apartamento que dividiu durante anos com sua segunda esposa, Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017, aos 66 anos.

“Ele mora numa casa que era usada antigamente pelos seguranças dele. Depois que ficou junto com a Janja, eles nunca ficaram no apartamento em que ele morou com a Marisa”, conta um dos amigos do ex-presidente. Janja é o apelido da socióloga Rosângela da Silva, 54, noiva do ex-presidente.

O relacionamento entre os dois se tornou público em maio de 2019, quando o economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira — no que foi considerado por muitos como uma indiscrição — revelou, após visitar Lula na prisão, que o ex-presidente estava apaixonado e pretendia se casar ao deixar o cárcere.

MORAR NA BAHIA – Quase que instantaneamente, começaram a circular informações falsas, como a de que ele teria comprado uma mansão em Lauro de Freitas, cidade no litoral próxima a Salvador. Ou de que iria morar no mesmo condomínio em que vive Emílio Odebrecht, patriarca da construtora que foi uma das pivôs do escândalo de corrupção da Lava Jato.

“Pelo menos por enquanto, ele suspendeu o projeto. Realmente ele queria vir passar um ano, mas foi atrasando, aí foi para Cuba e voltou. Acredito que ele ainda pensa em passar um tempo aqui, mas por ora esse plano está suspenso”, diz o senador Jaques Wagner, que já foi governador da Bahia e ministro da Defesa, da Casa Civil e chefe do Gabinete da Presidência durante o governo Dilma Rousseff (PT).

“Ele tem um desejo de ter sossego, de poder passar um tempo tranquilo. É um sonho dele e da Janja também”, conta um outro amigo. “Eles chegaram a analisar a hipótese de morar na Bahia. Começaram a ver casa lá e imediatamente vieram as ‘fake news’, botando no ar um monte de casas chiques que ele supostamente iria alugar. Ele ficou muito chateado com a confusão toda que deu em torno disso. Mais a dificuldade da pandemia, e eles acabaram adiando esse desejo.”

COVID EM CUBA – Esse mesmo desejo de um período de sossego foi um dos fatores que levou Lula a viajar para Cuba, mesmo em meio à piora da pandemia no Brasil. Novamente, o ex-presidente teve seu plano frustrado, ao ser diagnosticado com covid-19 logo nos primeiros dias de viagem.

“Havia há muito tempo um convite insistente do governo cubano e havia um convite do cineasta Oliver Stone para que eles gravassem lá um documentário”, conta uma das pessoas do círculo de Lula.

Eles chegaram no dia 22 de dezembro e, no dia 26, no segundo exame que fizeram, constatou-se a covid, aí acabou. Das nove pessoas que acompanhavam Lula na comitiva à Cuba, somente uma não se infectou. O único que precisou ser internado foi o escritor Fernando Morais, biógrafo de Olga Benário, Paulo Coelho e Assis Chateaubriand, que trabalha atualmente num livro sobre o ex-presidente.

BEM DE SAÚDE – O ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre Padilha tem acompanhando de perto o estado de saúde de Lula. “Ele está superbem”, diz Padilha, que é médico formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com especialização em infectologia pela Universidade de São Paulo (USP). “Ele chegou a ter lesão pulmonar, mas antes de sair de Cuba, uma tomografia já mostrava que havia melhorado. Desde então, ele fez outros exames aqui no Brasil e está tudo absolutamente normal.”

Quanto à internação depois da volta de Cuba devido a uma infecção bacteriana, Padilha afirma que não há relação com o coronavírus.

No dia 6 de fevereiro, ele teve um episódio intestinal e uma tremedeira, por isso o quadro foi registrado como uma bacteremia. No pronto-socorro, já começou com antibiótico. Só ficou internado três dias porque a equipe médica queria ver se identificava o crescimento da bactéria no sangue, para mudar a medicação que seria administrada em casa. Como isso não aconteceu, se manteve o medicamento que estava usando no hospital.

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