Carlos Newton
Desde o início, Jair Bolsonaro vem comandando um governo fake, dividido entre militares e adoradores do filósofo terraplanista Olavo de Carvalho, numa iniciativa que tinha tudo para dar errado, era como tentar a mistura de água e óleo. Somente os devaneios de uma figura exótica como Bolsonaro poderiam prever o sucesso dessa esquisita associação de facções contrárias entre si.
Quem tinha um pingo de bom senso logo percebeu a contradição, como os ministros Gustavo Bebianno e Santos Cruz, que tentaram pôr ordem na bagunça e acabaram demitidos por Bolsonaro e difamados pelo gabinete do ódio.
TUDO DOMINADO – Seria de se esperar que os demais generais e oficiais superiores integrantes do governo ficassem solidários a Bebianno e Santos Cruz, mas é difícil resistir às tentações do duplo salário, das mordomias e da sensação do poder.
Assim. cada um desses militares (são mais de 3 mil, em cargos de direção ou comissionados) resolveu fazer olhar de paisagem e tocar o barco para frente, como dizia Ricardo Boechat.
Para uma figura tosca e ignorante como Jair Bolsonaro, esse apego dos militares aos cargos civis acabou parecendo um apoio irrestrito a seu governo, mas na verdade isso nunca aconteceu.
PERSEGUIÇÕES A MOURÃO – Nenhum oficial superior – mas nenhum, mesmo! – jamais aprovou a maneira com que Bolsonaro tratava e ainda trata seu vice Hamilton Mourão, que o ajudou muito a se eleger. As perseguições que o presidente e os filhos movem contra Mourão sempre incomodaram os Altos-Comandos das Forças Armadas, que não se empolgaram com essa farsa de um governo paramilitar e logo passaram a temer os resultados negativos para a imagem dos militares.
Mas a gota d’água aconteceu em abril de 2020, quando os filhos de Bolsanaro usaram o gabinete do ódio para organizar uma manifestação antidemocrática contra o Supremo e Congresso, com o presidente da República discursando bem diante do Forte Apache, o quartel-general do Exército.
Somente um desajustado mental poderia imaginar que os militares concordassem com esse tipo de acontecimento naquele território, que é considerado intocável para eles, como um reduto sagrado.
UM FALSO LÍDER – Mesmo assim, o presidente da República continuou se comportando como se fosse o líder das Forças Armadas, que em sua ilusória visão estariam dispostas a apoiá-lo em qualquer aventura institucional. Era delírio, claro.
De forma alguma as Forças Armadas brasileiras podem ser confundidas com os militares em final de carreira que aceitaram cargos civis para reforçar o orçamento familiar.
Assim, por seu próprio esforço e pelo conjunto da obra, o presidente Bolsonaro caminha para o impeachment. Dá para sentir no ar, como uma névoa. E as Forças Armadas nada farão. Apenas aguardam o dia D e a hora H, para cerrar fileiras em apoio ao general Mourão, que é considerado um militar de verdade.
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P.S. – Quanto à candidatura de Luciano Huck, não chega a ser uma fake news, mas é apenas uma nota plantada por ele próprio, que adora essa sensação de que possa ser candidato a presidente. Como dizia Bussunda, “Fala sério!”. (C.N.)