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sábado, maio 28, 2011

Ainda há fogo sob as cinzas

Carlos Chagas

A ser verdadeira a informação de a presidente Dilma Rousseff ter mandado Antônio Palocci dizer a Michel Temer que estava disposta a demitir os ministros indicados pelo PMDB, fica evidente haver ainda muito fogo sob as cinzas. O motivo dessa propalada disposição da chefe do governo teria sido o grande número de deputados do PMDB votando contra o governo, no projeto de novo Código Florestal. Ela teria adiado o gesto inusitado, quer dizer, dado um tempo nas supostas demissões, porque a questão ainda permanece inconclusa: o Senado apreciará a matéria e poderá alterar o texto aprovado na Câmara.
Afinal, breve chegará a hora de José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros peemedebistas comprovarem sua lealdade ao palácio do Planalto. Acresce que pelo menos 30 deputados do PT também votaram contra o governo. Seria o caso de demitir os ministros do partido oficial?

Com a cabeça posta a prêmio estariam Nelson Jobim, da Defesa, Edison Lobão, das Minas e Energia, Moreira Franco, de Assuntos Estratégicos, Garibaldi Alves, da Previdência Social, Pedro Novaes, do Turismo, e Wagner Rossi, da Agricultura. Seria uma declaração de guerra ao vice-presidente Michel Temer e, por isso, permanece a notícia sob observação. Mas que é bem possível de ter acontecido, isso é.

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A RAZÃO PRIMEIRA

Em toda a confusão que marca a primeira crise séria do governo Dilma, está o fisiologismo no fundo de tudo. Porque as bancadas do PMDB e do próprio PT não se mostrariam tão hesitantes diante da opção de salvar ou sacrificar Antônio Palocci caso tivessem tido atendidas suas indicações para cargos de segundo escalão. Há um nome óbvio para esse comportamento: chantagem. Ameaça, se quiserem, evidenciada na votação do Código Florestal. Por muito mais as bancadas governistas tem se acomodado, no governo Lula e no atual.

O comportamento dos evangélicos não deixa mentir, eles que formam um super-partido. Obrigaram a presidente a retirar de circulação uma cartilha simpática ao homossexualismo ameaçando votar pela convocação de Antônio Palocci. Infelizmente, é assim que as coisas funcionam, coisa que não envolve juízos de valor a respeito do estranho enriquecimento do chefe da Casa Civil.

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MAL-ESTAR

Agora, o reverso da medalha: foi providencial a intervenção do Lula em Brasília, esta semana, para tentar apagar o incêndio no relacionamento entre o governo, os partidos e o Congresso. Mas que considerável mal-estar dominou o palácio do Planalto, disso poucos duvidam. Não é como se o Dunga começasse a dar palpites no time do Mano Meneses apenas porque o Dunga não chega aos pés do Lula. Mas o resto da situação é similar. Tratou-se do caso de intervenção explícita do antecessor nos negócios da sucessora.

Parece ter dado certo, Lula e Dilma jogam no mesmo time, mas, como sempre, torna-se necessário pesquisar mais fundo. Exultantes estão os governistas adversários da presidente, contando com o enfraquecimento dela. Resta saber se a crise fica restrita aos patamares do jogo político ou se atinge o povão. Melhor esperar a próxima pesquisa.

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OS DONOS DA BOLA

Os meios de comunicação andam repletos de textos e de imagens a respeito das reformas dos principais estádios de futebol, sem esquecer a construção de novos. São dezenas de bilhões, em maioria saídos dos cofres públicos, porque, como sempre, a iniciativa privada salta de banda quando se trata de botar a mão no bolso. A pergunta que se faz é se deveríamos ter-nos curvado tanto às exigências da Fifa. Afinal, faz muito que somos o maior futebol do planeta, mesmo jogando nos antigos estádios.

Eles poderiam apresentar defeitos, estar defasados diante de monumentais sucedâneos nos países ricos, mas não existiriam outras prioridades? Hospitais, escolas, rodovias, ferrovias e portos deixam de se constituir em necessidades menores? Por que essa entidade internacional deve nos dizer como aplicar recursos insuficientes para promover o bem estar geral? Claro que a realização de uma Copa do Mundo em nosso território enche a população de euforia, mas estaríamos melhor caso tivéssemos resistido a boa parte das imposições dos que se julgam os donos da bola. Exageram, porque a bola, afinal, nos pertence…

Fonte: Tribuna da Imprensa

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