Carlos Chagas
A denúncia foi formulada por um dos mais importantes ministros palacianos, o secretário-geral da presidência da República, Gilberto Carvalho: teriam partido da prefeitura de São Paulo, quer dizer, do prefeito Gilberto Kassab, as informações sobre o aumento do patrimônio de Antônio Palocci. O fio da meada estaria na declaração do Imposto Sobre Serviços pago pela empresa do chefe da Casa Civil. O ISS é um imposto municipal e quem o administra é a Secretaria de Finanças do município.
Não deixa de ser inusitada a denúncia. Que interesse teria Kassab em atingir Palocci, precisamente quando tenta formar um novo partido retirado dos escombros da oposição, com a finalidade de apoiar o governo Dilma Rousseff?
Como no caso das consultas concedidas por Palocci, é preciso provar. Que evidências Gilberto Carvalho possui para fazer tão grave acusação? A quem interessa desconstituir o chefe da Casa Civil?
Já o ex-presidente Lula fulaniza a acusação, responsabilizando o secretário de Finanças, Mauro Ricardo. Também não poupa José Serra, a quem chama de cérebro de toda a operação.
Há quem opte por outro caminho, supondo que o verdadeiro algoz de Antônio Palocci tenha sido o ex-deputado José Dirceu, influência de peso no PT e interessado em desestabilizar o governo.
De tudo, uma conclusão: dedicam-se todos a examinar e a opinar sobre a moldura, esquecendo-se de olhar a pintura. Despreza-se o principal em favor do supérfluo. O importante nesse episódio é saber quais eram os clientes de Palocci, já que ele faturou pelo menos trinta milhões de reais em tempo recorde. É aqui que a vaca vai para o brejo, como tem ido desde que o Brasil foi descoberto. O poder econômico permanece à sombra, jamais exposto. Foram empresas, em especial as empreiteiras de obras públicas, que contribuíram para aumentar a conta bancária do ex-ministro da Fazenda? Quais são elas?
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COMPRAR AÇÕES DE FRANKLIN?
Todo presidente da República, ao nomear seu ministério, dispõe de alternativas que guarda no fundo da gaveta. O próprio Lula, muito antes da demissão de Palocci, já tinha Guido Mantega como regra três. Ao perder José Dirceu, guardava Dilma Rousseff como opção. Trata-se de cautela adotada por todos os chefes de governo para não serem surpreendidos.
No palácio do Planalto não se cogita da substituição de Antônio Palocci na chefia da Casa Civil, mas se porventura acontecer, é bom comprar ações de Franklin Martins. São antigos os laços que unem o ex-ministro da Comunicação Social e a presidente Dilma Rousseff.
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OPOSIÇÕES COM SORTE
Apesar de amorfas, insossas e inodoras, as oposições andam com sorte. Caiu-lhes no colo a crise que envolve o ministro Antônio Palocci. Nada fizeram para cumprir seu papel, desde as eleições do ano passado.
Envolvidos em conflitos internos, tanto o PSDB quanto o DEM vinham navegando a reboque dos acontecimentos. De repente, deparam-se com um prato suculento, para o qual não contribuíram sequer com o caldeirão. Sabendo aproveitar as consequências, os oposicionistas poderão melhorar sua imagem e até pensar na conquista de prefeituras importantes, ano que vem.
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A VOZ DO BRASIL
Houve tempo, quando se chamava a Hora do Brasil, em que era o programa mais ouvido pelo rádio em todo o território nacional. Na hora certa, sete da noite, chegava aos mais remotos rincões do país pelos poderosos transmissores da Rádio Nacional e todas as demais emissoras, em cadeia. Seu caráter obrigatório incomodava pouco, dados os índices de audiência.
O tempo passou e a televisão ocupou muitos espaços. A última vez em que a Voz do Brasil empolgou o país inteiro, no interior e nas grandes cidades, foi durante os sete meses do governo Jânio Quadros, quando o histriônico presidente mandava para o programa, com exclusividade, os seus “bilhetinhos” aos ministros. Anunciava projetos, passava reprimendas e compunha comissões de inquérito. Era obrigatório ouvir, até mais do que transmitir.
O Congresso acaba de flexibilizar a Voz do Brasil, mantendo-a obrigatória mas facultando às emissoras de rádio sua transmissão entre sete e dez da noite. Melhora um pouco o faturamento das empresas, assim como livra o ouvinte de receber em todos os canais, na mesma hora, um programa que certamente não o agrada. Enquanto não criarem a Voz de Brasil obrigatória na televisão, vai tudo bem.
Fonte: Tribuna da Imprensa