Carlos Newton
Além de desmoralizada e humilhada pelo ex-presidente Lula, que desembarcou em Brasília para fazer uma espécie de “intervenção branca” no governo, a presidente Dilma Rousseff ainda teve de engolir a declaração do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que afirmou na quarta-feira que a chefe do governo “está muito desinformada” sobre o texto do novo Código Florestal.
Rebelo foi relator do Código na Câmara e, durante seu trabalho, recebeu críticas de ambientalistas e ruralistas. “Não acredito em veto [da presidente]. O que eu acredito é que a presidente Dilma está muito desinformada sobre esse assunto. Ela pode ter informações só de um dos lados, um lado que circulou muito no Palácio do Planalto nos últimos dias, que foi o lobby ambientalista”, completou Rebelo.
O pior viria a seguir. Rebelo disse que havia representantes do governo, próximos à Dilma, que desconheciam até termos corriqueiros da proposta. “Conversei com gente importante do governo que não sabia exatamente o que era AAP [Área de Preservação Ambiental] e reserva legal”, criticou. “As pessoas não têm obrigação de saber. São administradores, são pessoas que não são especialistas em direito ambiental, e muitas vezes recebem informações desavisadas”, tentou amenizar.
Aldo Rebelo está certo. Se não houvesse a alteração aprovada pela Câmara (e que ainda depende do Senado e de sanção da Presidência), seriam impedidas de seguir trabalhando cerca de 1 milhão de famílias, que vivem trabalhando nas beiras dos rios, dos córregos, da bacia do São Francisco, do Prata. Teriam que sair sem indenização, uma tragédia social jamais vista, porque não se trata de grandes latifundiários, mas de simples famílias de agricultores.
O texto, inclusive, ressalva que o governo pode recuperar para efeito ambiental as áreas que forem realmente importantes, foi mantida essa prerrogativa. Se a Câmara tivesse atendido os ecoólatras ensandecidos, que preferem matar um ser humano a derrubar uma árvore, os prejuízos seriam enormes, o preço dos alimentos iria disparar, realimentando a inflação,
Seriam tirados de produção 83 milhões de hectares. Hoje, são utilizados 260 milhões de hectares entre lavoura e pastos, portanto, 83 milhões de hectares seriam uma parcela muito significativa, e o Brasil não produz o que a FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação] recomenda. O Brasil deveria estar produzindo 192 milhões de tonelada de grãos e estamos produzindo 150 milhões. O Brasil ainda não é o fenômeno agrícola que se apregoa. Basta lembrar que os Estados Unidos já produzem mais etanol do que nós, que inventamos o Proálcool, nos anos 80.
O projeto está preservando para a biodiversidade 500 milhões de hectares, em 850 milhões de hectares de vegetação nativa, seja floresta amazônica, caatinga, mata atlântica, Pantanal. Nos 350 milhões de hectares a serem aproveitados, é possível fazer infraestrutura, estradas, implantar cidades, aumentar a produção agropecuária, preservando-se 500 milhões de hectares.
Outro ponto criticado pela presidente Dilma é a tal anistia às multas aplicadas em desmatadores. Se ele tivesse lido o projeto, saberia que não é anistia, apenas abre-se a possibilidade de pagar a multa fazendo recomposição ambiental, o que é muito diferente.
Nenhuma outra nação tem projeto igual na relação território/ambiente. Aliás, esse tipo de lei não existe em país algum. E ainda vêm essas ONGs estrangeiras a se meter conosco, criticando nossa política de preservação, que nos países deles não existe e nunca existiu.
Fonte: Tribuna da Imprensa