Carlos Chagas
Pela mitologia grega, Cila e Caridbes eram duas princesas puras, lindas e maravilhosas, mas por questões de ciúme entre os deuses e as deusas, foram transformadas por Zeus em horrorosos monstros marinhos. Ficaram encarregadas de guardar o estreito de Messina, aquele situado entre a Sicília e Itália. Moravam em sinistras cavernas e devoravam os marinheiros que se aventuravam por lá, naufragados ou mesmo embarcados. Cila até comeu seis companheiros de Ulysses, aquele personagem de Homero. Virou maldição para quantos se obrigavam a navegar por lá que se o infeliz escapasse de Cila, cairia nas garras de Caribdes. E vice-versa. A partir daí ficou a imagem em toda a Grécia para quem enfrentasse dois problemas ao mesmo tempo: poderia solucionar um, mas malograria no outro.
Vamos trocar a Hélade pelo Brasil. A presidente Dilma Rousseff defronta-se com dois problemas: Romero Jucá e Antônio Palocci. O primeiro ajusta-se bem ao perfil de Cila, pois até sumiu com pelo menos seis grandes nomes do PMDB, substituindo-os como líder de um partido que já foi do dr. Ulysses. Era uma princesa que serviu tão bem a José Sarney na Fundação Nacional do Índio a ponto de ser nomeado governador de Roraima. Virou Secretário Nacional de Habitação no governo Fernando Collor. Senador, foi líder de Fernando Henrique e assim continuou nos dois governos Lula, mantido no governo Dilma. Só que, com todo o respeito, acabou virando monstro.
Sobre ele pesam acusações variadas: empresas de fachada entregues a parentes e laranjas, supermultiplicação do patrimônio, negócios irregulares na venda de madeira em territórios indígenas, desvio de dinheiro federal em ações sociais, compra de votos, calote em bancos públicos, propina de empreiteiras, um apartamento de presente dado por uma construtora. Mas é o líder do governo no Senado.
Quanto a Caribdes, isto é, Antonio Palocci, a transformação está à vista de todos, desde a quebra do sigilo bancário do caseiro: aumento desmedido de patrimônio, prestação de consultorias sigilosas a empresas desconhecidas enquanto coordenador da campanha de Dilma Rousseff. Virou monstro por iniciativa de Zeus, quer dizer, do Lula?
Fará o quê a presidente? Precisa atravessar o Estreito de Messina. Se fugir das garras de Cila, cairá nas presas de Caribdes. Dois problemas que não dá para solucionar juntos. Um desses monstros poderá devorá-la.
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MARAVILHOSAS FÉRIAS
Desde que deixou o poder, o ex-presidente Lula viajou mais do que o Barack Obama. Esteve na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, no Caribe e adjacências. Nada contra, quando esses périplos servem até para engordar sua conta bancária através de palestras regiamente pagas, mas, convenhamos, férias assim, que já duram cinco meses, nenhum operário consegue tirar. Ainda esta semana prepara-se para voar até as Bahamas, depois a Venezuela e em seguida Cuba.
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BRINCANDO COM FOGO
No PSDB, estão brincando com fogo. Os partidários de José Serra, desiludidos com a hipótese de o ex-candidato vir a presidir o partido, oferecem ao grupo dominante uma opção dupla a ser decidida no fim de semana: a primeira vice-presidência e a chefia do Instituto de Estudos Teotônio Vilela. Pois não é que regateiam, os seguidores de Geraldo Alckmin, Aécio Neves e Sérgio Guerra? A paciência de Serra tem limite, nunca imaginou ser escanteado dessa forma, até porque tem diante dele algumas avenidas: candidatar-se a prefeito de São Paulo, insistir na candidatura presidencial para 2014 ou transferir-se para outro partido.
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SALTANDO DE BANDA
Foi pálida a solidariedade prestada pelos cinco governadores do PT ao ministro Antônio Palocci. Reunidos em Brasília, esta semana, cuidaram mais de seus problemas administrativos do que da crise desenvolvida em torno do chefe da Casa Civil. Jacques Wagner, da Bahia, e Marcelo Deda, de Sergipe, ainda se pronunciaram a respeito, mas os demais saltaram de banda. A vida ensina que os ventos sopram de um lado e, depois, de outro. Todos os governadores dependem do palácio do Planalto. Aí está o exemplo de Minas Gerais, onde Aécio Neves tem-se mostrado compreensivo para com Antônio Palocci por conta das agruras do outro Antônio, o Anastasia.
Fonte: Tribuna da Imprensa