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quinta-feira, setembro 17, 2009

A reforma estropiada e perdida

O Congresso, especialmente o Senado diretamente envolvido no escândalo das múltiplas roubalheiras, perdeu uma rara e talvez única oportunidade de sacudir a lama que o emporcalha, enfrentando o desafio de realizar ou pelo menos começar a reforma política que desde a crise da cassação do mandato do presidente Fernando Collor de Mello - ressuscitado com a volta ao Senado, a amizade de infância com o presidente e as reverências com que é tratado pela maioria dos colegas - vem sendo prometida nas campanhas para morrer na praia dos mesquinhos interesses eleitorais de governadores, prefeitos e parlamentares.Antes de ir adiante, uma parada para a rápida análise da bagunça da vereança. Serão mais de sete mil com a inevitável aprovação da vexaminosa emenda constitucional que os gulosos suplentes estão impondo a um Congresso sem autoridade moral para resistir à mais frágil pressão.A vereança deve ser entendida como um serviço à população. E, portanto, gratuita. Afinal, o serviço é pouco e as sessões das câmaras municipais em geral curtas e dedicadas às miudezas do interesse dos moradores: a rua esburacada, a praça maltratada, o rio sujo porque transformado em lata de lixo dos mal-educados, a invasão de terrenos nos morros, onde se equilibram os barracos da tragédia anunciada.E a vereança é o teste da vocação de servir ao público e o primeiro degrau da escada que sobe, como no caso de Lula, à lua cheia da Presidência da República. Pois os suplentes estão empenhados multiplicar as bocas ricas municipais para mais de sete mil, para as quais seriam convocados, no milagre das vagas para os derrotados.Ora, um vereador, além do subsídio que varia de acordo com a população do município, não exerce o mandato no coreto da praça. E, portanto, reclama obras para ampliar o plenário para as novas cadeiras e mesas. A maioria não dispensa o gabinete privativo para receber os eleitores, redigir discursos, projetos, cartas, ler os jornais, a desfrutar diante do espelho o largo passo no rumo da lua.Em 60 anos de atividade como repórter político nunca encontrei ninguém que sentisse falta de mais um vereador. E até, ao contrário…Claro que a resistência à absurda pressão dos suplentes que fazem plantão no Congresso não justifica uma reforma política. Mas, seria um tema indispensável.O que bloqueia a reforma é a orgia das mordomias, das vantagens, das verbas indenizatórias, das passagens aéreas para o desfrute da folga da semana de quatro dias úteis às custas da Viúva, dos dois celulares com tudo pago, das verbas de gabinete para a nomeação de assessores de coisa nenhuma.Como todo mundo sabe, a vadiagem oficializada e bem paga do Congresso começou com a mudança precipitada da capital de Rio para a Brasília em obras, pela ambição do presidente Juscelino Kubitscheck na reeleição do JK 65.A Brasília projetada por Lúcio Costa e embelezada pelo gênio do Oscar Niemeyer para uma população de 500 mil habitantes, inchou para a obesidade de 2 milhões e meio, a quarta maior cidade do Brasil.Como não se pode expulsar a maioria da população nem construir outra capital na Amazônia, ao menos o Congresso deveria ser pressionado pela imprensa, pela população a cortar as mordomias, acabar com a farra da gastança para forçar os parlamentares a morar no seu local de trabalho.
Fonte: Villas Bôas Corrêa

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