Policiais já respondiam por assalto a mão armada e tentativa de homicídio.Márcia de Oliveira fez perícias, diligências e encontrou testemunhas.
Limpar o nome do filho, morto acusado de ser traficante, e colocar na prisão os culpados por sua morte foram os objetivos de vida que deram força à ex-vendedora Márcia de Oliveira Jacinto nos último seis anos.
Na última sexta-feira (5), ela conseguiu o que queria: a Justiça condenou os policiais militares Paulo Roberto Paschuini e Marcos Alves da Silva pela morte do estudante Hanry Silva Gomes de Siqueira, de 16 anos. Ele foi morto em 2002, com um tiro no peito, na comunidade onde morava, no Lins, no subúrbio do Rio. Segundo a polícia, ele estava com uma pistola e drogas e teria reagido à entrada de policiais no local. Para inocentar o filho e encontrar os assassinos, ela voltou a estudar - chegou a cursar o primeiro período da faculdade de direito -, comprou um gravador, colocou na bolsa sua máquina fotográfica e fez sozinha os trabalhos de perita e detetive.
Missão cumprida
“O choro não vai aliviar os gritos de ‘por quê?’ aqui dentro, que chegam a fazer doer no peito. Mas minha missão foi cumprida. O nome do meu filho foi limpo”, resume ela. Para conseguir o feito, ela largou o emprego de vendedora e fez denúncias ao governo do Estado, ao Ministério Público, às corregedorias de polícia, ao então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, e até à Organização das Nações Unidas (ONU). O estopim para conseguir forças, por ironia do desino, foi dado por um traficante. “Um dia um menino, de fuzil na mão, me viu chorando e perguntou se eu era mãe do Hanry. Ele disse que meu filho não tinha nada com o tráfico e que um policial disse que o acertou no peito”, lembra Márcia.
Máquina fotográfica e gravador
Sem entender de procedimentos policiais e com medo de ir à delegacia, ela colocou em prática o que via em filmes e seriados de TV: com a máquina fotográfica e ajuda de testemunhas, fotografou o rastro de sangue do corpo do filho. Mais tarde comprou um gravador e, ouvindo um vizinho aqui, um amigo do filho ali, encontrou testemunhas do crime. Entre elas, um rapaz que viu os policiais roubarem um lençol do varal vizinho e entrar no mato, e um menino que os PMs mandaram correr momentos antes do crime.
“Foi difícil. O Ministério Público mandava a delegacia investigar e, como eles não faziam nada, eu fazia as diligências sozinha”, conta. As testemunhas foram ouvidas pelo próprio MP.
Condenação
Também denunciado por homicídio, Paschuini foi condenado a três anos e dois meses pelo crime de fraude processual, e Silva teve pena de nove anos de prisão por homicídio e fraude processual. Eles vão poder recorrer em liberdade. Silva já estava preso por assalto à mão armada, num processo em que foi condenado em 1998. "Era para ele estar preso no dia que matou meu filho", revolta-se. Paschuini responde a um outro processo por tentativa de homicídio.Na sentença, o juiz Sidney Rosa chamou o crime de “execrável", que "acabou por atingir a honra de um adolescente, pois que, a vontade era direcionada para que a vítima, um adolescente sem mácula, pudesse passar por um traficante criminoso".
Fonte: G1
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