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quinta-feira, abril 06, 2006

Discurso do presidente Lula

Discurso do presidente Lula na visita ao Complexo Industrial Ford Nordeste Camaçari (BA), 5 de abril de 2006


Meu caro Paulo Souto, governador do estado da Bahia,Meu caro Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Meu caro companheiro Jaques Wagner, ex-ministro,Deputados federais, Daniel Almeida, Luiz Alberto, Nelson Pellegrino e Zezéu Ribeiro,Secretários de Estado da Bahia,Meu caro Luiz Caetano, prefeito de Camaçari,Osvaldo Cruz, de Jaguaquara,Andréia Xavier, de Dias D’Avila,Moema Gramacho, de Lauro de Freitas,Meu caro Antonio Maciel Neto, presidente da Ford da América do Sul, em nome de quem eu quero cumprimentar todos os dirigentes da Ford,Meu caro Benedito Porfírio Lima, presidente do Conselho da Associação Brasileira dos Distribuidores da Ford,Empresários,Parceiros da Ford,Trabalhadores, trabalhadoras,
Eu confesso a vocês que eu já sabia que a média de idade aqui era de 24 anos. Essa é uma média de idade menor do que a da Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Mundo este ano. Isso significa que todos vocês têm chance de participar de uma futura Copa.
Mas o que mais me toca é o fato de que foi mais ou menos com essa idade que eu virei metalúrgico. Primeiro, eu fiz um curso no Senai e depois fui trabalhar numa metalúrgica. Eu fico olhando a fisionomia de vocês, homens e mulheres aqui presentes, e fico imaginando que futuro está reservado para nós nos próximos 20 ou 30 anos, num momento em que nós somos muito mais exigidos do que fomos em qualquer outra época da existência da humanidade, num momento em que não basta o empresário se queixar do governo, o governo se queixar do papa, o prefeito se queixar do governador, que se queixa do presidente. E todos nós vamos encontrando alguém para que a gente possa culpar por alguma coisa que não aconteceu no momento que deveria acontecer.
Nós estamos vivendo um momento em que a responsabilidade não é do presidente da República apenas, não é do governador apenas, não é do prefeito apenas e não é de nenhum de nós, individualmente. É uma responsabilidade coletiva para que possamos traçar juntos o tipo de país que nós queremos ser nos próximos 30 anos quando, então, alguns de vocês ainda não terão chegado à minha idade, à do Paulo Souto, à do Furlan ou do Maciel, que já chegamos à casa dos 60. O Maciel não sei, mas eu, certamente.
E a minha alegria é porque eu estava em Nova Iorque com o Furlan, participando de um grande evento com empresários americanos, e foi fazer uso da palavra a Vice-Presidente da Ford. E ela fez um discurso de elogio ao Brasil que, possivelmente, nem nós mesmos, brasileiros, seríamos capazes de fazer. Mais do que um elogio ao Brasil, ela fez um elogio à qualidade da mão-de-obra brasileira, à criatividade, à versatilidade e à capacidade de aprendizado do jovem baiano que, possivelmente, poucos baianos reconheceram, em público, como essa mulher reconheceu. E ela falava, Maciel, das 900 horas de treinamento dessa meninada. Ela dizia para mim: “Presidente, não tem lugar do mundo, com qualquer tipo de treinamento que nós tenhamos feito, que tenha surgido um povo com a competência daquelas meninas e daqueles meninos da Bahia”.
Obviamente que, quando a gente olha para uma quantidade de jovens, como eu e as pessoas aqui estamos olhando, a gente percebe que falta muito para a gente fazer no Brasil. E falta muito mesmo, porque durante muitas décadas uma parte do Brasil foi esquecida. Muitas vezes eu sou muito criticado nas regiões Sul e Sudeste porque dizem que eu olho muito pelo Nordeste e a minha tese é de que o Brasil precisa ser um país equânime.
Todas as regiões têm que ter a mesma oportunidade e, portanto, todas têm que ter o direito de se desenvolver porque, se não for assim, nós vamos garantir que as regiões mais ricas fiquem cada vez mais ricas e as regiões pobres fiquem cada vez mais pobres. Então, é preciso que o Nordeste brasileiro e o Norte do país tenham uma chance. A chance que não tivemos no século XX, nós temos que ter no século XXI.
Porque outros estados e outras partes do Brasil já conquistaram o direito de andar pelas suas próprias pernas, já têm capacidade de fazer as coisas que outros estados do Brasil, mais pobres, não têm. E quando uma empresa como a Ford se instala no Nordeste brasileiro, aqui na Bahia, e dá preferência em contratar mão-de-obra baiana, sem abrir mão de trazer técnicos importantes de outros lugares, porque se até no futebol o Brasil tem que ter os seus jogadores em outros times no mundo afora para dar qualidade, é importante que num primeiro momento a experiência adquirida pela Ford em outros países sirva para que se traga técnicos, até para ajudar a aprimorar aqueles que estão começando. Mas, quando uma empresa dessas se instala num estado como a Bahia, contribui de forma decisiva.
Eu estou vendo um menino, eu não vou citar o nome dele para depois vocês não ficarem brincando com ele aqui, mas ele é de São Bernardo, de perto da minha casa, amigo dos meus filhos, mas eu vou dizer uma coisa para vocês, possivelmente ele tenha vivido na adolescência os preconceitos contra o nordestino e ele já está aqui há uns três anos e sabe que não era verdade o preconceito que se falava sobre o povo nordestino em vários lugares do Brasil. Aquela história de que nós não iríamos aprender tanto quanto os outros. E quando a pessoa é preconceituosa contra os nordestinos, e eles querem elogiar a gente, quando a pessoa tem muito preconceito e quer elogiar o nordestino, eles olham para aqueles prédios grandes de São Paulo e falam: “não, o nordestino é bom porque ele faz ponte, ele faz prédio, porque faz viaduto”. Como se nós só fossemos pedreiros ou ajudantes de pedreiro, como se nós não pudéssemos ser outra coisa.
Então, obviamente que para mim, como nordestino, é motivo de orgulho saber que não existe um ser humano menos incompetente do que outro, não existe um ser humano mais burro do que outro, como se fala na linguagem popular, o que existe é ser humano que tem oportunidade e ser humano que não tem oportunidade. O que existe é ser humano que tem informação e ser humano que não tem informação. No mais, o nosso saudoso Paulo Freire dizia: “se a gente tomar café todo dia, almoçar e jantar, todos nós seremos muito inteligentes”. E é isso que está acontecendo no Brasil neste momento.
E mais alegria ainda de saber que o crescimento da Ford, o fortalecimento da Ford, uma empresa que está apostando fortemente na sua engenharia... e não é apenas a Ford que tem que apostar, o Brasil tem que apostar, porque se a gente não apostar numa forte engenharia nacional para o setor automobilístico, nós vamos perder competitividade para outros países.
Eu sou do tempo, Maciel, em que até uma máquina de segunda mão a gente importava para modernizar a indústria automobilística no ABC paulista. Hoje, nós já temos carros que são pensados, projetados e fabricados no Brasil, por engenheiros brasileiros, por engenheiros aqui em Camaçari. Essa é a revolução, que não é a revolução apenas da produção, é a revolução do conhecimento, porque esse é o grande valor agregado que nós temos que exportar para o futuro.
E é por isso que nós estamos apostando de forma muito forte na educação brasileira. Ontem, por exemplo, nós definimos, à noite, o projeto de reforma universitária que vai para o Congresso Nacional. Mas nós estamos, neste momento, no Brasil, fazendo quatro universidades federais novas, estamos transformando seis faculdades em novas universidades e estamos fazendo já, eram 42, passou para 45, extensões universitárias, levando vários braços das universidades federais existentes nas capitais dos estados brasileiros para o interior do país. Para quê? Para que o jovem do interior também tenha a oportunidade de ter universidade perto da sua cidade, ou na sua própria cidade. É por isso que, faz quinze dias, eu vim aqui anunciar a Universidade Federal do Recôncavo Baiano e a extensão em outra cidade, Cachoeira.
E agora, este ano, ainda vamos inaugurar 32 escolas técnicas, porque no Brasil havia uma paralisação nos cursos de formação técnica. Só poderia ser feito se o governo do estado assumisse, se a prefeitura assumisse ou se uma ONG assumisse. O governo federal tinha tirado da sua responsabilidade o ensino médio, o que é, na verdade, uma coisa quase criminosa, porque ao terminar o ensino fundamental as pessoas precisam ter uma formação intermediária, até poder chegar à universidade.
Vocês, aqui, na Bahia, sabem o sucesso do ProUni. O ProUni ainda vai ser reconhecido pela história como uma revolução na educação brasileira. Durante anos e anos os mais jovens, os estudantes, as entidades representativas dos estudantes discutiam como aumentar as universidades federais e aumentar o número de vagas, de alunos. Por causa de uma idéia engenhosa de nosso atual Ministro da Educação, que na época era chefe, era secretário-executivo do Ministério da Educação, nós fizemos um convênio com as universidades privadas, fizemos uma isenção de imposto. O imposto equivalente foi transformado em bolsa de estudo e nós tivemos, de janeiro do ano passado a fevereiro deste ano, 203 mil jovens, entre meninas e meninos que não tinham nenhuma oportunidade de entrar na universidade, que entraram agora. E todos eles oriundos de escolas públicas e, mais importante, 40% pessoas afro-descendentes, pessoas negras, meninas e meninos, que era o setor mais marginalizado dentre todos os marginalizados deste país.
Isso vai permitir que a gente possa vislumbrar que daqui a alguns anos a gente não vai ter medo de disputar com a China, a gente não vai ter medo de disputar com a Índia, a gente não vai ter medo de disputar qualidade com os nossos parceiros europeus ou mesmo com os Estados Unidos.
O dado concreto é que vocês significam a certeza, não apenas para o presidente da República, para o governador, mas a certeza, para os pais de vocês, de que daqui a 20 ou 30 anos o Brasil terá uma qualidade, da sua gente, mais aprimorada do que a minha geração e do que a geração que veio antes de mim. Isso vai ser bom para todo o país e, sobretudo, para os filhos e os netos de vocês.
Eu sei que vocês não pensam nisso ainda... “o coroa lá falou em neto e filho”... essas coisas acontecem quando a gente menos espera. Fique tranqüilo, que haverá a chance para todo mundo e aí também é só uma questão de oportunidade, todo mundo vai chegar lá. Alguns não querem, não é, Mauro, alguns não querem chegar lá.
Bem, o dado concreto é que eu tinha vontade de visitar esta empresa há muito tempo. Eu falava com o Maciel... primeiro, porque era sabidamente uma fábrica moderna, uma experiência que a Ford mundial estava fazendo e, como eu tenho contato com a indústria automobilística desde 1969, eu estava me devendo uma visita a esta fábrica, que estou fazendo hoje.
Queria dizer a você, Maciel, como responsável pela Ford na América Latina, que eu acho que a América Latina vive um momento histórico, que se nós soubermos aproveitar, nós temos uma chance de transformar o século XXI no século da América Latina. O século XIX foi da Europa, o século XX foi dos Estados Unidos e por que não pegarmos para nós a responsabilidade de transformar o século XXI no grande século deste país? Para isso nós precisamos fazer forte investimento em pesquisa, para isso nós precisamos... e você disse bem, no Brasil tinha esse preconceito contra a política industrial, havia alguns tecnocratas e burocratas que diziam que não deveria ter política industrial. Está provado que tem que ter política industrial e que o Estado tem um papel importante para jogar na definição, junto com o setor empresarial, das prioridades, das regiões que vão ser desenvolvidas, inclusive da questão do financiamento. Nós temos consciência de que o Estado não pode se recusar e não pode deixar apenas que o mercado faça, porque nem sempre o mercado tem também condições de fazer. Nós, através do nosso ministro Furlan, não só aprovamos a Lei da Inovação Tecnológica, e vocês podem pegar os cadernos, as revistas especializadas, que vocês vão perceber que há muito tempo não se investia em pesquisa como se tem investido.
Nós imaginávamos formar dez mil doutores, já chegamos a 10 mil e 500 doutores e queremos criar uma marca, de que o Brasil nunca mais possa retroceder na formação de doutores, porque é isso que vai ser o charme do Brasil daqui para a frente, ou seja, não é criança de rua, não vai ser mais favela ou palafita, não vai ser mais apenas o carnaval ou o futebol. Nós queremos menos crianças de rua, menos favelas e palafitas, nós queremos ter tudo, muito carnaval e muito futebol, mas nós queremos ser reconhecidos pela nossa inteligência, pela nossa capacidade de produzir, pela nossa capacidade de criar e, nisso, nós também somos imbatíveis.
Por isso, Maciel, quero agradecer a você, à direção da Ford, a gentileza do Governador em estar sempre presente a todos os atos que eu venho aqui. Mas, sobretudo, agradecer e pedir a vocês, jovens: o Brasil está vivendo um momento muito importante. Se vocês acompanham os números da economia, nós não temos nenhuma razão para reclamar da situação econômica. Lógico que quando se trata de salário nós sempre queremos mais, é assim a vida do ser humano, a gente sempre quer mais. Mas a situação do país é uma situação promissora. Nós trabalhamos para que o Brasil não repita erros do passado, de crescer um ano, cair no outro, crescer um ano... Vocês estão percebendo, a inflação está altamente controlada, eu tenho a convicção de que será definitivo, e muito definitivo, o controle da inflação.
Hoje, nós temos uma situação... acabamos de assinar o decreto do salário mínimo, com um aumento de 13% real, o que há muito tempo não acontecia. E o mínimo sempre é pouco, porque é o mínimo. Acabamos de aprovar, mandar para o Congresso Nacional, uma lei que desconta do Imposto de Renda o pagamento do salário que a patroa faz para sua empregada, com o compromisso de que a empregadora passe a registrar a empregada, para que ela não seja uma trabalhadora informal. E nós demos um prazo, porque nós queremos ver se funciona de verdade. Se não funcionar, não tem sentido manter a lei. Mas isso foi extremamente importante.
Vocês sabem que hoje nós estamos numa situação... a massa salarial está crescendo, o crédito está crescendo de forma extraordinária. Pela primeira vez, a indústria automobilística não se queixa do mercado interno, que era uma coisa que criava muita confusão. Os juros dos carros baixaram nos últimos tempos. E eu acho que nós só temos que melhorar. O que nós precisamos, nós, governantes, é aprender com vocês, aqui da Ford, para que a gente possa ser motivo de elogio como foram vocês, pela direção da Ford Mundial. O que nós temos é que trabalhar para garantir que o Brasil dê uma oportunidade a si mesmo, para que o Brasil não tenha retrocesso, para que o Brasil possa ter muito mais fábricas, muito mais desenvolvimento no Nordeste, porque se tiver melhoria aqui, vai melhorar o país inteiro.
Portanto, muito obrigado a vocês, que Deus abençoe cada um de vocês. Muito obrigado, Governador, muito obrigado, Ministro, e muito obrigado, Maciel.
Fonte: Primeira Leitura

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