Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

domingo, setembro 04, 2022

O golpe se afunda no mar




Por Carlos Brickmann (foto)

A manobra parecia fantástica: um comício de Bolsonaro em Copacabana que, como é 7 de Setembro, seria chamado de festa cívico-militar de 200 anos da Independência. Esquadrilha da Fumaça no ar e, no mar, navios de guerra da Marinha, incluindo o primeiro submarino produzido pelo Brasil, que acaba de ser incorporado à frota, o Riachuelo (ver nota abaixo). Os malucos pedindo golpe e vídeos mostrando ao fundo o poder militar.

Só que não: neste ano, a Operação Unitas, treinamento naval realizado por 21 nações, ocorre no Brasil, a partir de 10 de setembro. Os Estados Unidos se ofereceram para participar do desfile naval da Independência, com uma flotilha comandada pelo porta-aviões nuclear Ronald Reagan, um dos mais modernos do mundo. Porta-aviões não anda sozinho: caças e navios o protegem o tempo todo. Outras 19 nações aderiram à festa da Independência, entre elas duas potências nucleares, França e Reino Unido, países vizinhos como Paraguai, Peru, Uruguai, Chile, Colômbia, nem todos bem-vistos por Bolsonaro. Será um belíssimo desfile naval para quem for a Copacabana. E não haverá muita chance para fazer com que tudo pareça apoio militar para uma aventura golpista. Mas será a demonstração de um feito tecnológico dos estaleiros da Marinha, a entrada do Brasil no restrito grupo mundial de construtores de submarinos. Vale cumprimentar os profissionais da Marinha.

Quanto a uma eventual tentativa de golpe, pode ficar para depois.

 Detalhe

Até o final de agosto, a Operação Unitas deveria envolver 20 barcos de guerra, um submarino e 21 aviões, mobilizando 5.500 militares. Mas só o Ronald Reagan tem 3.200 oficiais e marinheiros (não se sabe quantos estarão a bordo durante o desfile), e pode transportar 90 aviões e helicópteros, tripulados por 2.480 militares. Há ainda um número desconhecido de navios de combate e de submarinos nucleares para sua proteção.

Mas falemos da França: Bolsonaro já destratou diplomatas franceses, Paulo Guedes já disse que a França “está ficando descartável”. Mas são os franceses do Naval Group os parceiros de tecnologia naval que dialogam amigavelmente com o almirante de Esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. Profissionalíssimo.

 Mundo pequeno

Hoje, quem produz submarinos nucleares são os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Inglaterra, França, Rússia e China), mais a Índia. Por que o Brasil quer um? Para evitar problemas nas 200 milhas de mar territorial (que incluem campos de petróleo submarino) e que o Brasil quer estender por toda a placa continental, algo como 300 milhas. Bloqueio? OK: o Brasil terá um submarino mergulhado sabe-se lá em que lugar, com armas convencionais, mas que podem causar grandes problemas ao inimigo.

Os EUA não querem problemas e não cederam tecnologia – nem os ingleses, cujo império inclui as ilhas Falkland/Malvinas, que uma ditadura argentina já invadiu há alguns anos. No Ocidente, restou a França, que oferece tecnologia de submarinos convencionais e nucleares. Bolsonaro é grosseiro? Sim; mas para os franceses, Bolsonaro passa e o Brasil fica. O Brasil é um antigo aliado; é vizinho de território francês, a Guiana; tudo dá para negociar.

 O x do problema

O casco do submarino nuclear brasileiro, de alta tecnologia, está pronto. São na verdade dois cascos, separados por um campo magnético e que não podem se encostar. O reator é de desenho brasileiro. Faltava fazer com que o gerador fizesse o submarino se movimentar (isso é o que Bolsonaro pediu a Putin, que logo em seguida passou a enfrentar o desafio ucraniano). Isso foi resolvido pelos próprios franceses. Agora é o Brasil ter recursos para montar um laboratório específico e fazer outros investimentos. Se tudo correr bem, espera-se que o submarino nuclear fique pronto para os testes em 2030.

 Tá faltando um

O Brasil não perde oportunidades de perder oportunidades. Quem tocava o projeto do submarino nuclear era o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, que foi apanhado no turbilhão lavajatista e exposto de tal maneira que o projeto foi paralisado. Perdeu-se muito tempo e se prejudicou o trabalho de um homem honrado – ao mesmo tempo que se prejudicou um grande projeto. Seria uma bela homenagem convidá-lo para assistir à apresentação ao povo do submarino Riachuelo, que ele tanto lutou para produzir.

 Salve as eleições

Incrível, há quem não goste de democracia. Não fossem as eleições, não veríamos uma firme garantia de renda mínima, não haveria baixa de preços de combustíveis, não presenciaríamos todos os candidatos propondo algum tipo de combate à fome e à insegurança alimentar. Não se sabe se o eleito vai cumprir as promessas, mas pelo menos há algo que se cobre dele. Quem sabe algum dia alguém se convença de que é possível ao Estado gastar menos?

Brickmann.com.br

O maior espetáculo da Terra




Setembro chegou e Bolsonaro vai botar navios e aviões na campanha e ‘canhões’ contra Lula

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Com sua obsessão em transformar o 7 de Setembro e o bicentenário da República nos maiores espetáculos da Terra e da sua campanha à reeleição, Jair Bolsonaro criou um problemão para a prefeitura do Rio e uma saia-justa para as Forças Armadas, particularmente o Exército. Mas não foi só isso. Mais uma vez, gerou enorme constrangimento para países amigos do Brasil.

As forças navais do Brasil e de 18 outros países das Américas estão no País para participar da Operação Unitas, exercício conjunto que vem desde 1960 e, neste ano, justamente ano eleitoral, ocorre no Brasil, a partir do Rio. E agora? Os países discutem nos bastidores se vão ou não reforçar o bicentenário da independência brasileira, o que corresponde a dar mais visibilidade à campanha de Bolsonaro.

São 5,5 mil militares, 20 navios de guerra, um submarino e 21 aeronaves que fazem a alegria das famílias e serão chamariz para a campanha. A operação começa oficialmente no dia seguinte, mas muitos países participarão do 7 de Setembro/bicentenário e um dos mais importantes, senão o mais, os EUA, faz suspense. “Duvido que isso mude a opinião do eleitor que não decidiu em quem votar”, diz um diplomata de um dos 18 países.

O problema são os países amigos serem usados grosseiramente não para manobras militares, mas para manobras eleitoreiras de um presidente que já convidou embaixadores estrangeiros para servir de figurantes naquela cena lamentável em que ele achincalhou o sistema eleitoral, o TSE e ministros do STF, ao vivo e em cores. Navios e aviões estrangeiros serão, certamente, um chamariz para o ato de campanha bolsonarista.

Nas Forças Armadas brasileiras, imagine-se o espanto quando o presidente se dispôs a exigir que a parada do 7 de Setembro seja na Praia de Copacabana. O jeito para nem desobedecer a Bolsonaro nem cumprir ordem absurda foi cancelar a parada no centro e quebrar um galho em Copacabana.

Setembro chegou com Bolsonaro atrás nas pesquisas, acossado pela compra de 107 imóveis por familiares, 51 deles em dinheiro vivo. Para tentar confundir a galera, diz que a maioria dos imóveis era do ex-cunhado, mas eram só oito, dentro do esquema. E alegou que “moeda corrente não é dinheiro vivo”, mas, sim, a moeda do País, atualmente, o real. Ah, sei!

Como Bolsonaro torrou todos os cartuchos e não atingiu o alvo – encostar ou superar Lula (PT) –, ele vai partir para a ignorância. Exigir um 7 de Setembro e um bicentenário da independência em Copacabana é parte disso. Tem mais: os canhões de fake news estão voltados para o favorito nas pesquisas. Mas Lula ganhou munição numa áreachave: a corrupção. 

O Estado de São Paulo

No bicentenário das urnas, paz foi exceção




Livro mostra que, 173 anos antes da peleja do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, já se tentava desarmar os eleitores

Por Maria Cristina Fernandes (foto)

“Grupos armados, capitaneados por agentes policiais disfarçados, que expeliam as mesas legalmente organizadas, quebravam urnas, rasgavam cédulas e espancavam votantes.” Corria o ano de 1840, o último ano da Regência, período durante o qual, desde a Independência, a nação mais esteve ameaçada. O autor do relato é João Manuel Pereira da Silva, um filho de comerciantes de Nova Iguaçu (RJ) que estudara direito em Paris e acumularia 11 mandatos como deputado.

Nos resgates de seu livro de memórias, Pereira da Silva mostrou que, se as rebeliões foram a face mais visível dessa ameaça, as eleições do período demonstraram como a disputa pelo voto foi a tradução institucional dessa guerra. Não é por outra razão que, 200 anos depois, o governo que mais atacou os alicerces da nação brasileira tenha escolhido as urnas eletrônicas por alvo.

O nome dado à disputa de 1840, que acabaria cancelada pelo imperador, é autoexplicativo, “eleições do cacete”. E foram assim definidas por Pereira da Silva: “Empregados públicos são colocados na dura colisão de optar entre o sacrifício de sua consciência e o pão de seus filhos; operários de repartições públicas, soldados, marinheiros de embarcações de guerra, são constrangidos a levar à carga cerrada, em listas que lhe são impostas, um voto de que não têm consciência”.

Pereira da Silva é recuperado em “Eles e o voto” (Távola Editorial, 2022), do ex-professor da UNB e ex-ministro do TSE Walter Costa Porto. O livro poderia ter suas 627 páginas reduzidas pela metade com o expurgo das repetições, mas vale pelo resgate dos personagens da política nacional mais enfronhados nas tentativas de fazer do voto o filtro mais fidedigno das escolhas nacionais.

O primeiro deles é Honório Hermeto Carneiro Leão, o marquês de Paraná, contemporâneo de quem Pereira da Silva diria ser “o homem público que maior influência havia exercido no cenário político desde o ano de 1831”. Nascido em Jacuí (MG), graduado em direito em Coimbra, foi juiz antes de conquistar seu primeiro mandato de deputado em 1830. Não tinha domínio da tribuna, mas era, na definição de Joaquim Nabuco, “dotado de raro tino político, de uma disposição prática e positiva que o fazia observar friamente os homens, a acumular as pequenas observações de cada dia, de preferência a procurar ideias gerais, princípios sintéticos de política”.

Das observações acumuladas sobressaíram-se as fraudes e, dos princípios sintéticos, saiu o sistema eleitoral, sintetizado na “Lei dos Círculos”. Em sua experiência como presidente da província de Pernambuco, no ano seguinte à Revolta Praieira (1848), percebera como a repressão às rebeliões do império excluía votantes ao bel-prazer dos governantes de plantão.

Numa circular aos agentes policiais, 173 anos antes da peleja do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, para proibir o porte de armas para a categoria de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs), Paraná ordenou que se desarmassem aqueles que comparecessem para votar. E também que se pusessem em liberdade aqueles que haviam sido recrutados como votantes. Foi uma medida precursora da proibição, consignada no código eleitoral de 1965, da prisão nos cinco dias que antecedem a disputa e nas 48 horas que a sucedem.

De volta à política nacional, como presidente do Conselho de Ministros, o marquês de Paraná seria o principal formulador da implantação dos distritos eleitorais. A circunscrição deixaria de ser toda a província e a disputa eleitoral se daria em “círculos”.

A ideia era aproximar o eleitor de seu representante para equilibrar o mandonismo provincial, mas o sistema acabaria sendo visto como um veneno para a sobrevivência das minorias. Tampouco coibiu a corrupção. “Criou a política de aldeia, a dependência dos deputados dos interesses locais”, diz Costa Porto.

Os círculos de Paraná regeram as disputas eleitorais no país por 77 anos, devidamente ignorados pelos que hoje o advogam como panaceia. Foi seguido por outros reformistas sem que o modelo se tornasse mais inclusivo ou infenso a fraudes. Em 1880, o deputado baiano José Antonio Saraiva, que também presidiria o Conselho de Ministros, excluiu o voto dos analfabetos. A eleição de 1882 seria a primeira em que os analfabetos ficariam de fora. A exclusão duraria mais de 100 anos e acabaria com a Constituinte de 1988.

A alfabetização, na verdade, foi um critério de exclusão muito mais severo do que a exigência de renda. Saraiva manteve a exigência, mas sob um patamar tão reduzido que Raymundo Faoro avalia que apenas os “quase mendigos” estavam excluídos. Ele calcula que, em 1872, apenas 10% da população era de votantes, visto que 18,7% eram escravos, 27% eram menores de 25 anos e 30%, eram mulheres. Dos 25% restantes, excluam-se ainda os que não podiam se alistar como eleitores, como os criados, e tem-se aí um a cada dez brasileiros como eleitores.

O voto censitário e a exclusão das mulheres só cairia em 1932, com a adoção do código eleitoral. Outros reformistas, como José de Alencar, os ignoraram, apesar da dedicação à causa do voto no Brasil. Sua conterrânea e também escritora Raquel de Queiroz alerta aos incautos sobre a inclusão de seu nome entre os estadistas do voto: “A política é que era seu país, a sua nação de nascimento. Da política é que ele teve que fugir e desgarrar-se, para poder-se entregar à literatura”.

O vezo reformista de José de Alencar se voltou contra o modelo majoritário. Sua militância pelo voto proporcional o levaria, décadas mais tarde, a ser definido por Wanderley Guilherme dos Santos, patrono da moderna ciência política, como “um dos mais sofisticados teóricos da democracia, escrevendo no século XIX”.

Ao longo do império, só Machado de Assis, único dos perfilados do livro a não exercer mandato, denunciaria a exclusão das mulheres das eleições. “Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é ideia de publicitas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições onde não há estética”.

Sexista? Com certeza, mas 100 anos atrás parecia mais aceitável do que no lançamento da chapa Simone Tebet e Mara Gabrilli, quando o senador Tasso Jereissati disse que “só o amor e a docilidade da mulher podem unir o país”, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, disse que uma chapa de duas mulheres vai propor que o Brasil “volte a ter amor” e o senador José Serra afirmou ter prestado atenção como a dupla “havia se produzido”.

Numa eleição, como a de 2022, tão marcada pela religião, Machado de Assis cai como um visionário. Saraiva havia proibido a realização de eleições nas igrejas, salvo na inexistência de outro prédio público, mas foi Machado quem denunciou o conluio entre fé e voto: “Que as procissões saiam às ruas não há inconveniência palpável; mas que os comícios sejam convocados para a igreja, eis o que é arriscado, e em todo o caso ocioso. Na igreja reza-se, prega-se, medita-se, conversa a alma com seu criador; as paixões devem ficar à porta, com todo o seu cortejo de causas e fins, e os interesses também, por mais legítimos que sejam”.

Se Machado nunca se aventurou na caça a votos, Joaquim Nabuco, outro denunciante das mazelas eleitorais do Império, o fez com sofreguidão. Sua militância abolicionista causou-lhe agruras nas urnas. Na segunda vez em que tentou se eleger deputado, o “Diário de Pernambuco”, na seção “Publicações a pedido”, registrou: “Não poderia ser reconhecido como deputado um anarquista do quilate do sr. Nabuco, depois de uma campanha eleitoral como esta em que, depois de expender as mais perniciosas doutrinas, tais como o aniquilamento da propriedade escrava e territorial e o conselho aos comerciantes para passarem esponjas nos débitos dos agricultores e abrirem contas, foi repelido das urnas pela mais patente derrota que dar se pode”.

A contestação não ficou restrita às páginas de jornais. Sua filha, Carolina Nabuco, resgataria os relatos dessa eleição: “À porta da Matriz de S. José, onde se havia contado como certo o triunfo de Nabuco, estava afixado o resultado da eleição, Portela, 94, Nabuco, 76 (...) quando se ouvia chegar a onda popular, lançando vivas a Nabuco. Não havia polícia. O primeiro movimento dos mesários foi trancar as portas contra aqueles que vinham em número tão superior que nada se poderia fazer para garantir as urnas (...), Os assaltantes, a princípio desprevenidos, subiram afinal armados de facas, cacetes e até paralelepípedos. O fiscal, major Esteves, vulgo Bodé, que com seu irmão e um sobrinho continuava a defender o recinto, foi mortalmente ferido e o sobrinho, morto instantaneamente. Os livros e papeis foram destruídos”.

A investida mais concreta contra esse estado de coisas só viria mesmo com o código eleitoral de 1932, por iniciativa de Getúlio Vargas. Sua ascensão ao poder, dois anos antes, se deu depois uma carreira política calcada nas infrações eleitorais que sobreviveram à mudança do Império para a República.

Com o código, formulado pelo deputado Assis Brasil, também gaúcho, não apenas as mulheres ascenderiam à condição de eleitoras, como as mesas eleitorais seriam entregues a magistrados capazes de assegurar o voto secreto e inviolável. Vargas estendia para o voto o conjunto de mudanças que, conjuntamente com a nova legislação trabalhista, alcançaria o eleitorado urbano e daria sustentação política à sua longevidade no poder.

O código também começaria a pôr fim ao sistema distrital e instituiria o voto proporcional para a Câmara dos Deputados, a ser consolidado com a Constituição de 1934. Mas a mudança não era a panaceia. Em discurso de 1935, resgatado por Walter Costa Porto, o deputado Dorval Melchiades queixava-se: “....agora, nove meses depois das eleições de 14 de outubro, ainda não são conhecidos os resultados das eleições no Rio de Janeiro”. Demoraria 87 anos para o plenário do Tribunal Superior Eleitoral aplaudir de pé a constatação de que o país havia se transformado na única democracia do mundo a apurar e divulgar os resultados eleitorais no mesmo dia

Valor Econômico

"Meu corpo, minhas regras" - sem limites?




Na verdade os devaneios da mente de cada um, os transtornos psiquiátricos, foram transformados numa espécie de “imagino, logo existo”, por decreto governamental, e o absurdo tem vindo a normalizar-se. 

Por Maria Helena Costa (foto)

Eu sei que a hashtag #meucorpominhasregras remete para uma mentira feminista repetida demasiadas vezes e que, aplicada ao “direito ao aborto”, ignora a falácia da sentença, pois, se as regras fossem aplicadas pela mulher ao seu corpo, esta estabelecê-las-ia antes de ter de usar as palavras como limpa-consciências, quando decide matar uma vida inocente, que não é o corpo dela, mas sim outro corpo, outra pessoa, com um ADN distinto, numa fase do seu crescimento.

Mas, hoje, no grande manicómio em que este mundo se transformou, onde cada um se pode transformar no que muito bem entender (independentemente da sua realidade natural e biológica), o trans emerge e a hashtag começa a fazer sentido. A verdade é que os devaneios da mente de cada um, a doença mental e os transtornos psiquiátricos foram transformados numa espécie de “imagino, logo existo”, por decreto governamental, e o absurdo tem vindo a normalizar-se.

Lembra-se dos Transformers? Uma série de ficção científica em que pessoas se transformavam em máquinas invencíveis?

Sim, eu sei que isso é ficção científica. Mas, nos últimos tempos, a realidade ultrapassou a ficção científica e os transraciais, transidade, transdeficientes, transespécie, transETs e tudo o que uma mente doente for capaz de conceber invadiram-nos. E, se antes essas pessoas eram acompanhadas e tratadas, hoje são notícia e reconhecidas como… normais.

Sim, leu bem. O politicamente correcto determina que “cada um tem direito a ser o que quiser”, “cada um vive a sua verdade” e ninguém tem nada que ver com isso. A única coisa que nos é imposta, sem que tenhamos sido consultados antes, é que paguemos (com os nossos impostos, fruto do nosso trabalho e na confiança que depositamos no Estado, para bem gerir o que pertence aos cidadãos e se espera que seja para bem de todos – e não para subjetivismos e loucuras!) as ditas “mudanças de sexo” aos homenstrans [mulheres biológicas que não aceitam a sua natureza] e às mulherestrans [homens biológicos que não aceitam a sua natureza], ou seja: pessoas que não se aceitam como são, que sofrem de um transtorno da identidade sexual– que, devido à pressão do lóbi lgbtetc deixou de ser considerado um transtorno para passar a ser uma disforia (disforia de género) e que, recentemente, passou a ser uma “simples” incongruência de género, que só permanece no CID11 [Classificação Internacional de Doenças] porque é, de facto, uma doença e os que dela sofrem precisam de acompanhamento médico e de medicamentos até ao fim da vida – estão a ser convencidos de que não estão doentes e que são o que sentem e não o que são de facto. Não admira o elevado número de suicídios entre os que já fizeram a transição.

Como já referi noutros artigos, quando são adultos a quererem “mudar de sexo” é lá com eles, só não aceito que as crianças sejam convertidas à narrativa trans de que isso é a coisa mais normal do mundo, que ninguém nasce menino nem menina e que todos podem ser o que quiserem. A malignidade de tamanha mentira, que ignora que somos o que somos e o sexo com o qual nascemos é reconhecido pouco tempo depois da concepção e muitos anos depois de morrermos, tem provocado, um pouco por todo o mundo, uma espécie de “epidemia” trans.

Há cada vez mais pessoas a exigir que a sociedade as reconheça como se imaginam. Afinal, pensam elas, se uma pessoa pode ser transsexual [mudar de sexo], porque não pode ser transracial [mudar a cor da pele], transidade [mudar a idade], transdeficiente [passar a ter uma deficiência física, como não ter uma perna ou um olho], transespécie [passar a comportar-se como um gato, um cão, um cavalo], transET [alguém que sente que é um extra-terrestre], e tudo o que a imaginação conceber?

Transidade

Assim, o norte-americano Joseph Roman, de 38 anos, residente em Chicago, acusado de agredir sexualmente três crianças, disse aos procuradores que se considera “um rapaz de nove anos preso no corpo de um homem“. E, Joseph Gobrick, 45 anos, outro pedófilo, para se defender da acusação de posse de pornografia infantil, alegou que se identifica como uma menina de 8 anos. Não sei o desfecho do caso do pervertido que alega ser “um rapaz de nove anos preso no corpo de um homem” e que, em vez de brincar com carrinhos viola meninas de 6 e 8 anos, mas, graças a Deus, o pedófilo Joseph Gobrick não conseguiu que os juízes o considerassem transidade e foi condenado.

Também Stefonknee Wolsschtt, 46 anos, casado e pai de 7 filhos, começou por se assumir transgénero e rapidamente passou a exigir ser reconhecido como uma menina de seis anos de idade. Assim, assumiu uma nova identidade e, segundo ele, quer viver tudo o que não conseguiu na época da escola: «Quero ser quem realmente sou e mostrar às pessoas que é muito bom um homem ser feminino».

Infelizmente, isto é o que acontece quando os transtornos mentais não são devidamente tratados e acompanhados. Neste caso, é preciso perguntar se será obrigado a pagar pensão de alimentos aos filhos, se poderá viver sozinho, trabalhar, voltar para a escola primária e se deixará de pagar impostos, pois crianças de 6 anos não têm filhos para sustentar, não podem viver sozinhas, trabalhar, têm de ir à escola e não pagam impostos.

E, pasme, para que pessoas adultas que se identificam como bebés não tenham de viver sozinhas, já há babás. Deduzo que, muito em breve, se a insanidade não for tratada, haja também quem faça negócio a cuidar de adultos que se identificam como crianças. A questão é: quem paga às cuidadoras ou às creches e infantários criados para este novo nicho de negócio?

Foi Sergio Lazarovich durante 59 anos. Agora, após ter mudado de sexo no Registo Civil, chama-se Sergia e, como passou a ser mulher e já fez 60 anos, efetuou o pedido de reforma e a Segurança Social aceitou iniciar o processo. Um dia, alguém disse: «o mundo é dos espertos». E, de facto, quando todos podem ser o que quiserem, é fácil usufruir das políticas identitárias em benefício próprio e até para fintar a lei. Num país onde os homens se reformam 5 anos mais tarde do que as mulheres, Sérgio só precisou de mudar o nome e o sexo no registo civil e, sim, conseguiu reformar-se 5 anos mais cedo.

Já imaginou se todas as pessoas que procuram emprego e não conseguem arranjar por causa da idade, se declararem transidade? Se, por exemplo, quem tem 56 anos autodeterminar que só tem 30?

Transracial

Rachel Dolezal nasceu branca, loira e de olhos claros, mas auto-determinou-se negra durante vários anos, e chegou a ser presidente de uma Organização que defende os direitos dos negros.

Neste caso, correu mal. A advogada foi acusada de fingir ser negra, pois, «sendo filha biológica de um casal branco de origem europeia», como é evidente, não é negra e, para as entidades representativas, «ela não deveria adoptar uma identidade que não tem». Ou seja: nem todos podem ser o que sentem e adoptar uma identidade que não têm. Neste caso, a transracial foi acusada de apropriação cultural e não sei se ainda usa rastas e produtos para escurecer a pele…

Transdeficiente

Robert Vickers, 67 anos, diz ter atingido o seu sonho, o seu Nirvana, no dia em que comprou um saco de gelo, foi para um lugar abandonado e, lá, imergiu a perna esquerda no gelo. Quando percebeu que a perna estava irreversivelmente congelada até ao joelho, ligou para a mulher e foi para o Hospital amputar a perna. «Renasci num novo corpo, um corpo com uma só perna».

Não, Roberto. O corpo é o mesmo, mas sem a perna que foi amputada. Graças a Deus, o transtorno de identidade e integridade corporal (TIIG) é raríssimo, mas é preciso entender que, tal como um homem transexual odeia o seu pénis e uma mulher transsexual odeia as suas mamas, «os transabled (corruptela de “disabled”, termo inglês para deficiente) sentem um desejo incontrolável de se livrar de um ou mais membros do seu corpo». Ou seja: independentemente da pressão do lóbi lgbtetc, a parafilia é a mesma independentemente do nome que lhe atribuírem: transtorno ou transqualquercoisa.

Transespécie

Kat Lyons, 33 anos, afirmou que sempre foi apaixonada por felinos e que agora se sente um deles. Para ela, saltar para cima de “coisas”, comer numa tigela, usar coleira e orelhas de gato transforma-a numa gata. Assim, ela é uma gata, porque se autodeterminou como tal.

Thomas Thwaites estava farto da vida frenética e resolveu subir os Alpes suíços para viver como bode por alguns dias. O britânico encomendou próteses especiais para as mãos e os pés, submeteu-se a alterações neurológicas, causando danos temporários ao cérebro e bloqueando a sua capacidade de fala. Recentemente, um japonês que resolveu transformar-se num cachorro, gerou curiosidade e fez muito sucesso nos noticiários internacionais.

Eu só pergunto se estes “animais” têm os mesmos direitos e deveres de todos os humanos… E se não mereciam ser tratados em vez de incentivados a alimentar os seus problemas mentais. Faz-me lembrar tempos em que as pessoas com deficiência eram usadas nos circos, para fazer rir os espectadores… Que retrocesso civilizacional…

TransET
(fui eu que inventei a palavra, acho…)

Anthony Loffredo, 32 anos, tirou parte do nariz para dar continuidade ao projecto chamado The Alien Black Project, no qual tenta ficar parecido com o que imagina ser um alienígena. Desde 2014 que ele faz alterações ao seu corpo para viver o seu sonho. Não há dúvidas de que a medicina estética evoluiu. Pena é que não haja limites e que ela seja usada para alimentar graves distúrbios mentais.

A transmudança está a matar o Ser Humano. Estamos mesmo a precisar de valorizar quem somos, o que somos, o corpo que somos (e não que temos, caso contrário, poderíamos livrar-nos dele, como quem se livra de lixo), na nossa diferença biológica dual – masculino e feminino – em vez de andarmos a ceder a transices, como se não houvesse limites e normalidade.

Observador (PT)

No grito, não




Terceira via deu sinal de vida depois que ficou claro não existir contorcionismo retórico que disfarce a corrupção

Por Eduardo Affonso (foto)

Há um movimento nas redes sociais para que a escolha do novo presidente seja decidida já em 2 de outubro. Desde que a eleição em dois turnos foi instituída, em 1988, quem ganhou no primeiro acabou repetindo o feito no segundo. Liquidar a fatura daqui a um mês abortaria pretensões golpistas e daria à luz a narrativa da “vitória de lavada”, um 7 x 1 no fascismo etc. Com uma vantagem adicional: sem ter de fazer acordos ou concessões. Como ensina a Doutrina ABBA, na base do “The winner takes it all”. Então, segundo turno, pra quê? Seria um desperdício de tempo, dinheiro e cortisol, o hormônio do estresse.

Mas, para isso, é preciso combinar com os russos — convencer os eleitores dos candidatos hoje em terceiro e quarto lugares de que eles (eleitores) sejam uns idiotas, irresponsáveis, linha auxiliar de um genocida, cúmplices de tudo o que vier a acontecer de ruim caso (toc, toc, toc) o Mal (“eles”) vença o Bem (“nós”).

Nunca foi uma estratégia das mais sensatas, mas era o que tinha pra hoje.

Não é mais. Depois que ficou claro não existir contorcionismo retórico que disfarce a corrupção em escala industrial dos governos petistas, a finada terceira via deu sinal de vida. Na última pesquisa, Lula (na dianteira) caiu 4%, Bolsonaro seguiu inerte na vice-liderança, o eterno Ciro (que, no ritmo em que vem crescendo desde a primeira candidatura, chegará ao poder em 148 anos) subiu 29% e Simone 250%. Ok, os 250% de Simone correspondem a meros 3 pontos — mas bastou ganhar visibilidade para mais que duplicar seu eleitorado. E mostrar que há espaço para sensatez em meio à competição por quem é menos pior.

Se antes os adeptos do “Lula já” tinham de cooptar (com xingamentos) 9% dos votantes, esse índice subiu para 14% (sem contar os “isentões” do voto nulo ou em branco). Talvez seja hora de trocar o tacape pelo chamego, a imposição pela busca de convergência.

O mérito da eleição em dois turnos é este: garantir representatividade, legitimidade. Formar alianças que deem sustentação ao futuro governo. Evitar que candidatos radicais, ou com alta rejeição, vençam por maioria simples.

Historicamente, quem está à frente nas pesquisas a um mês da eleição acaba eleito. Para não correr o risco de quebrar a escrita, os partidários do voto útil podiam propor a aposentadoria das urnas eletrônicas (ou dos votos impressos) e a privatização do pleito. O TSE seria desativado e tudo ficaria a cargo dos Ipecs e Datafolhas. A custo zero para o contribuinte.

Outra sugestão é que enxerguemos o óbvio: em todas as disputas desde a redemocratização, quem ganha em Minas ganha no Brasil. Por que, então, não passar a consultar apenas os mineiros? Deixemos o resto do país às voltas com seus afazeres e ouçamos o que dizem os oráculos das Gerais.

O que Minas resolver, estará resolvido. Isso, sim, seria uma enorme economia de tempo, aporrinhação e recursos. E, por se tratar de conterrâneos de Tancredo e JK, tudo teria de ser com diálogo, persuasão, negociação — táticas que, antigamente, faziam parte da boa política.

Até lá, é melhor haver dois turnos, sim.

O Globo

2º turno no radar - Editorial




Menor distância entre Lula e Bolsonaro e alta da 3ª via favorecem nova votação   

A diferença entre as intenções de voto nos líderes da disputa pela Presidência estreita-se desde maio. A confirmação desta tendência é o resultado mais significativo da nova pesquisa do Datafolha.

Os números também indicam que se tornou mais improvável que a eleição se resolva no primeiro turno. A dilatação do período de campanha pode ter influência relevante no desempenho dos candidatos.

Em maio, a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação a Jair Bolsonaro (PL) era de 21 pontos percentuais. Agora, é de 13 pontos —são apenas 5 em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.

Em um segundo turno, a diferença caiu de 25 para 15 pontos. Apenas na hipótese extrema da margem de erro Lula venceria na primeira rodada de votação.

Por ora ainda é difícil atribuir essa evolução ao aumento do valor e da cobertura do Auxílio Brasil. Mas é possível que o efeito do reforço desse benefício assistencial ainda possa aparecer.

A recuperação econômica, em particular no emprego, pode ter tido seu peso no lento avanço de Bolsonaro. Apesar da tendência de desaceleração da economia daqui em diante, mais eleitores encontrarão um trabalho até o final de outubro, data de um segundo turno.

O salário médio continua nos níveis mais baixos da década e ainda quase 3% menor que no ano passado, mas também está em alta.

Essa é só a parte mais recente da história, porém. No ano passado, houve salto da miséria. Ainda que haja melhora neste 2022, o estrago foi profundo. Mesmo o recuo da inflação esconde agruras da carestia. O IPCA dos últimos 12 meses recuou para ainda elevados 9,6%, graças à queda dos preços de combustíveis e energia. Mas o encarecimento da alimentação é de 17,4%.

É certo que a disputa eleitoral se trava em torno de muitos outros temas. A questão religiosa, o voto das mulheres, várias frentes do que se chama de guerra cultural e a corrupção podem ser quesitos do julgamento do eleitor.

No que tange às intenções de voto, o efeito mais relevante na economia e na assistência social pode ter passado —os bons números do Produto Interno Bruto, divulgados na quinta (1º), refletem o que ocorreu entre abril e junho. De todo modo, melhorias marginais ainda podem favorecer Bolsonaro.

Entretanto o mandatário não se livrou de uma rejeição incapacitante, majoritária, que flutua entre 51% e 55% desde maio.

O início oficial da campanha levou mais eleitores para Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e outros candidatos. Com a perspectiva de segundo turno, o embate será mais longo e renhido; haverá mais tempo para a desconstrução das candidaturas líderes.

Folha de São Paulo

O faz de conta orçamentário - Editorial




Malgrado honre a tradição ficcional dos Orçamentos, este que foi enviado pelo governo para 2023 consegue ser mais realista que as promessas eleitorais de Bolsonaro para o Auxílio Brasil

Orçamentos, no Brasil, costumam ser peças de ficção, mas o Orçamento de 2023 enviado pelo governo de Jair Bolsonaro está no terreno do realismo fantástico. Como já era esperado, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2023 contém previsões muito mais otimistas que as do mercado para o crescimento da economia e as receitas da União. Mas Bolsonaro conseguiu inovar: a um mês das eleições, o presidente-candidato se dedicou a desqualificar o trabalho de sua própria equipe econômica. Não há outra maneira de interpretar uma peça orçamentária que fixa valor médio do Auxílio Brasil em R$ 405,21, quando a mensagem presidencial anexada ao documento promete envidar “esforços em busca de soluções jurídicas e de medidas orçamentárias” para manter o piso do programa social em R$ 600.

Fica claro, assim, que, malgrado honre a tradição ficcional do Orçamento federal, este que foi encaminhado pelo governo para o ano que vem consegue ser mais realista do que as irresponsáveis promessas eleitorais de Bolsonaro para o Auxílio Brasil. Na ponta do lápis, só é possível dar R$ 5,21 de aumento para o benefício; o presidente, preocupado com as pesquisas eleitorais, promete dar R$ 200. Acredita quem quer.

O custo do Auxílio Brasil era o item mais relevante do Orçamento de 2023, por ser tema central da campanha eleitoral. O gasto público com o programa cresceu exponencialmente nos últimos anos, saltando de R$ 33,1 bilhões em 2019 para R$ 115 bilhões em 2022. Manter o piso em R$ 600 custaria R$ 158,2 bilhões em 2023. O governo conseguiu reservar R$ 105,7 bilhões, mas encontrar outros R$ 52,5 bilhões disponíveis em um Orçamento engessado se mostrou uma tarefa impossível – e é impressionante que nem o arsenal de manobras para contornar as regras fiscais e orçamentárias tenha se mostrado suficiente para permitir a inclusão formal do piso no projeto.

Há alguns fatores que explicam essa dificuldade. Um deles é a manutenção da política de desoneração de combustíveis, que custará R$ 52,9 bilhões – quase o mesmo valor necessário para o Auxílio Brasil. No remanejamento de verbas, o Executivo poderia ter reduzido os R$ 19,4 bilhões reservados para as emendas de relator, base do orçamento secreto, mas não quis enfrentar o Congresso. Poderia ainda ter diminuído os R$ 11,6 bilhões definidos para o reajuste dos servidores do Executivo, mas optou por não testar a força do funcionalismo público para promover greves.

Havia ainda a opção de aumentar impostos. Isso exigiria do presidente, no entanto, admitir o erro das desonerações destrambelhadas promovidas nos últimos meses. O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, até tentou vender ilusões. Apontou a reforma do Imposto de Renda – aprovada na Câmara e paralisada no Senado – como a fonte de financiamento definitiva do programa social, mas teve que reconhecer, a contragosto, que a arrecadação gerada pela proposta tampouco seria suficiente.

Não é de hoje que a peça orçamentária não é tratada com a importância devida. Em vez de listar as prioridades do País e, a partir delas, definir de que forma os recursos arrecadados pela União devem ser usados para manter o custeio da máquina, executar políticas públicas, garantir investimentos e pagar a dívida, o Ploa se converteu em mero cumprimento de ato formal, e não é por acaso que tenha sido remetido ao Congresso na data-limite estabelecida pela Constituição. 

Mais do que uma peça de ficção, o projeto do Orçamento de 2023 é o reconhecimento tácito de vários dos problemas que o País se recusa a encarar, como a dificuldade de fazer escolhas que privilegiem o enfrentamento da pobreza e um pensamento mágico que elege o gasto sem definir de que forma ele será pago. Sem o piso de R$ 600 no Ploa, o governo mostra mais do que incompetência. Expõe sua verdadeira essência e abre um enorme flanco a ser explorado pelas campanhas adversárias. A desmoralização do Orçamento por Bolsonaro já teve um custo alto em termos financeiros. Talvez, agora, também lhe custe votos.

O Estado de São Paulo

Trump chama Biden de 'inimigo do Estado' durante comício na Pensilvânia




O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, fala durante um comício de campanha na Pensilvânia em 3 de setembro de 2022 

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou seu sucessor Joe Biden de ser um "inimigo do Estado" durante um comício na Pensilvânia neste sábado (3), em que criticou o FBI pela operação em sua casa na Flórida.

Trump, respondendo aos ataques lançados dois dias antes por Biden, disse que a operação de buscas do mês passado foi uma "paródia" judicial e alertou que poderia causar uma reação "que ninguém jamais viu".

"Não pode haver um exemplo mais claro das verdadeiras ameaças à liberdade (...) do que o que aconteceu há algumas semanas - vocês viram -, quando assistimos a um dos mais chocantes abusos de poder por parte de um governo na história dos Estados Unidos", lançou.

Sua insinuação de que o governo Biden estaria envolvido na operação questiona a adesão a velhos protocolos que determinam que o Departamento de Justiça e o FBI devem agir de forma independente da Casa Branca.

"O perigo para a democracia vem da esquerda radical. Não da direita", afirmou ele a seus apoiadores.

Na quinta-feira, Biden chamou Trump e os "extremistas" que o seguem de inimigos da democracia americana, durante um discurso na Filadélfia com o qual procurou encorajar os eleitores antes das eleições de meio de mandato em novembro, quando parte do Congresso se renova.

Biden atacou particularmente os republicanos que defendem a ideologia MAGA (Make America Great Again, slogan de Trump em sua bem-sucedida campanha presidencial de 2016).

"Donald Trump e os republicanos do MAGA representam o extremismo que ameaça a própria fundação de nossa República", declarou Biden.

"Não há lugar para violência política nos Estados Unidos. Ponto. Nenhum. Nunca", advertiu o presidente, em uma clara referência ao ataque do ano passado ao Capitólio por partidários de Trump que se recusaram a aceitar a derrota nas eleições de 2020.

O ex-presidente Trump é alvo de investigações civis, criminais e legislativas. Uma juíza concordou na quinta-feira em rever seu pedido de nomear um especialista independente para estudar documentos apreendidos pelo FBI durante a operação em sua residência na Flórida.

AFP / SWI

Recuperação da popularidade de Biden traz esperança a democratas - Editorial




Presidente americano colhe efeito positivo de queda na inflação, agenda legislativa e êxitos externos

Em julho, era irrisória a força política do presidente americano, Joe Biden, para manter o controle democrata do Congresso nas eleições legislativas de novembro. Em pouco mais de um mês, os ventos mudaram. Na média das pesquisas mantida pelo site FiveThirtyEight, a aprovação a Biden subiu de 37,5% em 21 de julho para 42,7% na semana passada. Vários fatores contribuíram para isso.

Os democratas venceram eleições disputadas em Nova York e no Alasca. Finalmente conseguiram fazer deslanchar sua agenda legislativa. No campo republicano, a população reagiu à decisão da Suprema Corte que acabou com o aborto legal em todo o país. E o ex-presidente Donald Trump se enrolou com a descoberta de que subtraíra documentos secretos da Casa Branca. Os partidários de Trump, Biden afirmou em discurso na Filadélfia, “ameaçam os próprios pilares da República”.

Mais que tudo, Biden começou a desfrutar o enfraquecimento de um rival mais importante que Trump no curto prazo: a inflação. De nada adiantava ele chamar a atenção para o desemprego baixo, se a alta nos preços rondava 10%, maior patamar nos últimos 40 anos. Em agosto, o índice caiu para 8,5%.

O resgate de imagem começou quando a agenda no Congresso andou. Biden enfrentava dificuldades no próprio Partido Democrata para aprovar a Lei de Redução da Inflação, um pacote de medidas que consiste em US$ 750 bilhões para o sistema de saúde, taxação do lucro de grandes corporações, melhorias no sistema de seguro de idosos (Medicare), além de US$ 370 bilhões em incentivos a energia limpa.

O empecilho era o senador democrata Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, estado onde ficam duas das dez maiores minas de carvão nos Estados Unidos. Aliado a outros parlamentares na defesa dos interesses de mineradoras, da indústria do petróleo e gás, do tabaco e do setor financeiro, Manchin levou um ano para ceder. Chegou a um acordo com a cúpula do partido no final de julho, e o projeto foi aprovado em 12 de agosto. Antes, Biden já obtivera a aprovação de uma lei de incentivo à produção local de semicondutores (sua última vitória no Congresso ocorrera em novembro, com o programa de US$ 1,2 trilhão para investir em infraestrutura). O clima no partido mudou.

No front externo, depois da tumultuada saída do Afeganistão há um ano, a imagem era de um governo lento e desastrado. Isso também foi superado. Os Estados Unidos reagiram em tempo no apoio à Ucrânia contra a invasão russa e na ajuda à Finlândia e à Suécia na adesão à Otan. Biden capitalizou ainda o sucesso da operação que matou o terrorista Ayman al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden na al-Qaeda.

Não faz muito tempo, a retomada da Câmara pelos republicanos em novembro era dada como certa, e a manutenção da frágil maioria democrata no Senado — dependente do voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris — era causa perdida. Agora, manter a Câmara se tornou uma meta tangível, e especula-se até sobre o Senado. Mas o pouco tempo até a eleição trabalha contra Biden e os democratas.

O Globo

Em destaque

Água Sobrando em Final de Campanha Eleitoral: Promessa ou Desespero?

  Mais uma  questão  levantada reflete um cenário comum em muitas regiões onde a infraestrutura pública é precária, e os serviços essenciais...

Mais visitadas