Presidente americano colhe efeito positivo de queda na inflação, agenda legislativa e êxitos externos
Em julho, era irrisória a força política do presidente americano, Joe Biden, para manter o controle democrata do Congresso nas eleições legislativas de novembro. Em pouco mais de um mês, os ventos mudaram. Na média das pesquisas mantida pelo site FiveThirtyEight, a aprovação a Biden subiu de 37,5% em 21 de julho para 42,7% na semana passada. Vários fatores contribuíram para isso.
Os democratas venceram eleições disputadas em Nova York e no Alasca. Finalmente conseguiram fazer deslanchar sua agenda legislativa. No campo republicano, a população reagiu à decisão da Suprema Corte que acabou com o aborto legal em todo o país. E o ex-presidente Donald Trump se enrolou com a descoberta de que subtraíra documentos secretos da Casa Branca. Os partidários de Trump, Biden afirmou em discurso na Filadélfia, “ameaçam os próprios pilares da República”.
Mais que tudo, Biden começou a desfrutar o enfraquecimento de um rival mais importante que Trump no curto prazo: a inflação. De nada adiantava ele chamar a atenção para o desemprego baixo, se a alta nos preços rondava 10%, maior patamar nos últimos 40 anos. Em agosto, o índice caiu para 8,5%.
O resgate de imagem começou quando a agenda no Congresso andou. Biden enfrentava dificuldades no próprio Partido Democrata para aprovar a Lei de Redução da Inflação, um pacote de medidas que consiste em US$ 750 bilhões para o sistema de saúde, taxação do lucro de grandes corporações, melhorias no sistema de seguro de idosos (Medicare), além de US$ 370 bilhões em incentivos a energia limpa.
O empecilho era o senador democrata Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, estado onde ficam duas das dez maiores minas de carvão nos Estados Unidos. Aliado a outros parlamentares na defesa dos interesses de mineradoras, da indústria do petróleo e gás, do tabaco e do setor financeiro, Manchin levou um ano para ceder. Chegou a um acordo com a cúpula do partido no final de julho, e o projeto foi aprovado em 12 de agosto. Antes, Biden já obtivera a aprovação de uma lei de incentivo à produção local de semicondutores (sua última vitória no Congresso ocorrera em novembro, com o programa de US$ 1,2 trilhão para investir em infraestrutura). O clima no partido mudou.
No front externo, depois da tumultuada saída do Afeganistão há um ano, a imagem era de um governo lento e desastrado. Isso também foi superado. Os Estados Unidos reagiram em tempo no apoio à Ucrânia contra a invasão russa e na ajuda à Finlândia e à Suécia na adesão à Otan. Biden capitalizou ainda o sucesso da operação que matou o terrorista Ayman al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden na al-Qaeda.
Não faz muito tempo, a retomada da Câmara pelos republicanos em novembro era dada como certa, e a manutenção da frágil maioria democrata no Senado — dependente do voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris — era causa perdida. Agora, manter a Câmara se tornou uma meta tangível, e especula-se até sobre o Senado. Mas o pouco tempo até a eleição trabalha contra Biden e os democratas.
O Globo