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sexta-feira, setembro 30, 2022

O resgate da diplomacia - Editorial




Mesmo degradado por lulopetismo e bolsonarismo, patrimônio diplomático está à disposição de cidadãos para defender e alicerçar interesses do País na construção da nova ordem global

A necessidade é a mãe da invenção. Um século antes dos teóricos das relações internacionais arquitetarem o conceito de soft power, o Barão do Rio Branco – consciente de que nossa Nação foi erguida na periferia do mundo por colonizadores da periferia da Europa mesclados a povos periféricos da América e da África, e de que seu lugar no mundo não seria definido por seu poderio bélico ou econômico – fundou os pilares da diplomacia republicana no “poder inteligente”: a paz e a prosperidade como fim; o Direito como base; a negociação, a persuasão, o comedimento, o apreço às organizações multilaterais e à colaboração internacional como meios.

Com essas “armas” a República traduziu necessidades internas em possibilidades externas, garantindo a integridade do território, construindo pontes comerciais e cooperando para uma ordem global baseada em regras. Com a arte do consenso, Rio Branco consolidou nossas fronteiras e mais tarde Juscelino Kubitschek, por exemplo, aproveitou brechas na bipolaridade Leste-Oeste.

Esses ideais foram corporificados no Itamaraty e consagrados na Constituição. Os quadros rigorosamente selecionados e formados do Itamaraty são modelo de excelência para o serviço público por sua competência e credibilidade. Sua tradição universalista e pragmática de não intervenção em outros Estados, observância dos tratados e condução técnica, isenta e não dogmática dos interesses nacionais foi cristalizada nos princípios constitucionais da adesão aos valores da democracia, da autodeterminação dos povos, da solução pacífica de conflitos e da cooperação para o progresso humano. Com eles, FHC se valeu das políticas domésticas de consolidação da democracia, estabilidade da moeda, responsabilidade fiscal, abertura econômica e respeito aos direitos humanos para elevar o País a um novo patamar no palco global.

Esse patrimônio foi dilapidado pelo lulopetismo e o bolsonarismo, que – excetuado o hiato de Michel Temer – governaram o País nos últimos 20 anos e são favoritos a governá-lo por mais 4. Pretextando “autenticidade”, Lula da Silva e Jair Bolsonaro deram azo a vulgaridades e indiscrições que conspurcaram a liturgia do cargo. Mais do que afinidades de estilo, há as de método: ambos submeteram interesses de Estado aos de governo e os de governo aos de suas facções. Seu voluntarismo e sectarismo – particularmente evidentes no alinhamento de Bolsonaro ao reacionarismo norte-americano e no de Lula a toda forma de “antiamericanismo” – produziram, com feições diversas, o mesmo resultado: isolamento e desperdício de oportunidades.

Com instrumentos retrógrados, forjados em mentalidades esquerdistas e direitistas dos anos 60 e 70, nem Lula nem Bolsonaro têm condições de orientar o País em meio às metamorfoses de um mundo multipolarizado em plena revolução digital. Nem por isso o Brasil deixa de ser uma democracia multiétnica de dimensões continentais, que têm as chaves para equacionar o tripé – alimentar, energético e ambiental – no qual repousam os anseios da humanidade por um desenvolvimento sustentável.

Se não se pode esperar que a energia e a lucidez para defender os interesses do País e restaurar seu protagonismo na Torre de Babel contemporânea venham do centro do poder, do Planalto, elas devem vir de sua periferia. Amparados pelos municípios, onde a cidadania viceja, e Estados, que gerem os temas de interesse da população (saúde, transporte, segurança, educação), a Academia pode construir pontes culturais com as nações, assim como o empresariado pode construir pontes comerciais. Essas forças difusas devem convergir no Congresso, a quem cabe defender a independência e a excelência do Itamaraty e fiscalizar operações com recursos nacionais.

Nutrindo-se da herança de Rio Branco – da fé na “força do Direito”, da “cordura, desinteresse e amor da justiça” entranhados na tradição diplomática nacional –, esses agentes podem contribuir para reintroduzir o Brasil “na esfera das grandes amizades internacionais a que tem direito pela aspiração de sua cultura, pelo prestígio de sua grandeza territorial e pela força de sua população”. 

O Estado de São Paulo

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