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sábado, setembro 03, 2022

Pesquisa Datafolha: 3ª via cresce, Lula avança em reduto agro e Bolsonaro sobe no Sudeste




Os dados da pesquisa mais recente do Instituto Datafolha, divulgados na quinta-feira (1º/09), mostram um crescimento acima da margem de erro na somatória dos candidatos da chamada terceira via. O levantamento é o primeiro do instituto depois do início do horário eleitoral gratuito de rádio e TV, das sabatinas com candidatos à Presidência da República realizadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, e do primeiro debate entre presidenciáveis promovido por um grupo de veículos de comunicação, no domingo (28/08).

Apesar disso, a pesquisa continua mostrando relativa estabilidade entre os líderes. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na liderança com 45% das intenções de voto (antes estava com 47%), seguido pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), com 32% (antes também com 32%).

Os dados também mostram movimentações nas intenções de voto importantes como a aparente redução da vantagem de Lula na região Sudeste, o avanço do petista na região Centro-Oeste e a estabilidade da diferença entre o petista e Bolsonaro entre eleitores evangélicos.

A pesquisa entrevistou 5.734 pessoas em 285 municípios entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Confira cinco dados de destaque da nova pesquisa do Instituto Datafolha:

1. Terceira via cresce e vitória do PT no primeiro turno parece mais longe

Os dados do Datafolha mostram que houve um crescimento acima da margem de erro na soma dos candidatos que vêm logo atrás de Lula e Bolsonaro. Na última pesquisa, eles somavam 10% das intenções de voto. Agora, somam 17%.

O candidato mais bem posicionado do grupo é Ciro Gomes (PDT). Em agosto, ele aparecia com 7% das intenções de voto. Agora, ele oscilou dois pontos percentuais para cima (dentro da margem de erro) e apresenta 9%.

Simone Tebet (MDB), apontada pelo Datafolha como a candidata com melhor desempenho durante o debate promovido por um grupo de veículos de imprensa no domingo (28/8), saiu de 2% para 5%, variação acima da margem de erro.

Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Ávila (Novo) e Pablo Marçal (Pros) têm 1% cada um.

Ao mesmo tempo em que esse grupo de candidatos viu suas intenções de voto subir, Lula, que vem liderando as pesquisas há meses, teve uma oscilação negativa dentro da margem. Na última pesquisa, ele aparecia com 47%. Agora, têm 45%.

Bolsonaro, por sua vez, se manteve estável com os mesmos 32% de intenções de voto registrados na última pesquisa.

O crescimento das intenções de voto da chamada terceira via tornou ainda mais improvável a possibilidade de que Lula vença no primeiro turno.

Analisadas apenas as intenções de votos válidos (excluídos os brancos e nulos), Lula teria, agora, 48%. Para vencer no primeiro turno, ele precisaria ter mais de 50%. Na última pesquisa, Lula aparecia com 51%.

A disputa em um eventual segundo turno também teve oscilação dentro da margem de erro. Lula aparece na pesquisa mais recente com 53% dos votos e Bolsonaro, com 38%. E meados de agosto, Lula tinha 54% e Bolsonaro, 37%. Em julho, Lula tinha 55% e Bolsonaro, 35%.

2. Vantagem de Lula no Sudeste cai

Outro dado negativo para a campanha de Lula trazido pela pesquisa Datafolha é a aparente redução da sua vantagem em relação a Bolsonaro na região Sudeste. A vantagem de Lula caiu pela metade.

'Primeiro debate foi marcado por momentos de tensão como os embates entre Bolsonaro e Lula; Tebet cresceu na pesquisa depois do evento'

A liderança na região é estratégica porque ela concentra 66 milhões de eleitores e eleitoras, o equivalente a 42% de todos os votos do país.

Na última pesquisa, a distância entre Lula e Bolsonaro era de 12 pontos percentuais. O petista tinha 44% e o presidente tinha 32%. Agora, Lula aparece com 41% e Bolsonaro com 35%, uma diferença de seis pontos percentuais.

3. Lula avança em reduto agro

Se por um lado, Lula vê sua liderança diminuindo no Sudeste, por outro sua campanha parece estar revertendo uma tendência em um reduto importante para a base bolsonarista: o Centro-Oeste. A região é o principal polo do agronegócio do país e, nos últimos anos, vinha apontando consistente apoio ao presidente.

Os dados do Datafolha, no entanto, mostram uma tendência de alta nas intenções de voto de Lula na região. Na última pesquisa, Bolsonaro liderava com 42% contra 36% de Lula. Agora, Lula aparece com 39% contra 37% de Bolsonaro.

De acordo com o instituto, no entanto, a margem de erro nessa região é de sete pontos percentuais para mais ou para menos.

4. Evangélicos: diferença entre Lula e Bolsonaro fica estável

Os dados da pesquisa mais recente do Datafolha mostram estabilidade na diferença das intenções de voto entre Bolsonaro e Lula no segmento evangélico.

'Ciro Gomes e Simone Tebet aparecem como terceiro e quarto colocados nas pesquisas'

No levantamento divulgado no dia 18 de agosto, Bolsonaro tinha uma vantagem de 17 pontos percentuais em relação a Lula. Ele aparecia com 49% e o petista tinha 32%. Na pesquisa divulgada ontem, Bolsonaro aparece com 48% e Lula tem os mesmos 32%.

Neste segmento, a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Entre os católicos, Lula segue na liderança, com 51% das intenções de voto contra 28% de Bolsonaro. Na comparação com o último levantamento, a diferença entre os dois oscilou dois pontos percentuais para menos. No dia 18 de agosto, Lula tinha 52% contra 27% de Bolsonaro.

5. Lula mantém liderança entre mulheres

Os dados da pesquisa apontam ainda que Lula se mantém na liderança entre o eleitorado feminino em relação a Bolsonaro. No levantamento divulgado ontem, Lula aparece com 48% das intenções de voto contra 28% de Bolsonaro, uma diferença de 20 pontos percentuais. Em relação à pesquisa anterior, Lula oscilou um ponto percentual para cima e Bolsonaro um ponto percentual para baixo.

No público masculino, a diferença entre os dois se reduziu.

Lula tem 43% contra 37% de Bolsonaro. Uma diferença de seis pontos percentuais. Na pesquisa anterior, essa diferença era de onze pontos percentuais, quando Lula tinha 46% e Bolsonaro 35%.

A manutenção da liderança de Lula entre as mulheres é considerada estratégica para a campanha do petista, uma vez que as mulheres representam 52,6% do eleitorado total. 

BBC Brasil

Desejo de Lula de vencer a eleição em primeiro turno vai se tornando um sonho de verão




Por Eliane Cantanhêde (foto)

A pior notícia para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito nas pesquisas, é que o desejo de vencer a eleição em primeiro turno vai se tornando um sonho de verão, cada vez mais inviável. Mas o presidente Jair Bolsonaro não pode comemorar, porque, com um pontinho a mais daqui e dali, ele caminha muito devagar e praticamente não sai do lugar. A diferença entre Lula e Bolsonaro, no Datafolha, era de 15 pontos e caiu para 13, mas continua alta a um mês das urnas. Urnas eletrônicas, aliás.

A cada rodada, Lula perde um ponto nos votos válidos, decisivos para a vitória em primeiro turno. Tinha 54% em maio, 53% em junho, 52% em julho, 51% no início de agosto e está agora com 48%. Precisaria ter 50% mais um para fechar a eleição em 2 de outubro. Não é essa a tendência.

Isso empurra a eleição para mais tensão e mais medo, introduzindo uma interrogação sobre o resultado. Mas, atenção, Lula continua francamente favorito no primeiro e no segundo turno. No primeiro, tem 45% a 32% de Bolsonaro. No segundo, 53% a 38%. E a rejeição é um fator que dificulta as investidas do atual presidente da República para realmente ter chances de vitória.

Bolsonaro melhora a avaliação como presidente, o que é tradicional nas campanhas quando começa a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, mas sua rejeição, que é abaixo dos 50% na pesquisa Ipec, continua acima no Datafolha, oscilando de 51% para 52%. A de Lula subiu três pontos, mas ainda num patamar bem mais confortável, de 39%.

A pesquisa também traz outros sinais bastante relevantes, como o efeito nulo do aumento do Auxílio Brasil. de R$ 400,00 para R$ 600,00 nas intenções de votos de Bolsonaro. Na última rodada, Lula tinha 56% entre os que recebem o benefício e continua com os mesmos 56%. E Bolsonaro continuou empacado em 28% nesse recorte.

Outra novidade é o avanço de Simone Tebet, do MDB, a partir da entrevista ao Jornal Nacional, do debate nas TV Bandeirantes e Cultura e do início da propaganda eleitoral do rádio e da TV. Ela cresceu de 1% para 7% no Sul e oscilou positivamente nas demais regiões. Também melhorou entre quem ganha até dois salários mínimos, as mulheres e quem tem curso superior. Tebet subiu no geral de 2% para 5% e vai se aproximando no limite da margem de erro de Ciro Gomes, do PDT, que foi para 9%.

O Estado de São Paulo

Pesquisa é um alerta para Lula do fiasco da estratégia do voto útil




Por César Felício (foto)

O Datafolha divulgado nesta quinta-feira mostrou com clareza um sinal de alerta para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tanto em relação ao horário eleitoral gratuito, quanto a respeito do seu desempenho em debates e entrevistas. Com o presidente Jair Bolsonaro com uma safra de boas notícias quase diárias, a estratégia do PT para manter a dianteira em relação ao rival era investir na estratégia do voto útil, para desidratar Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet , do MDB. Pois a pesquisa mostra exatamente o oposto.

Ciro Gomes cresceu dois pontos e Simone Tebet três, em relação ao levantamento anterior. Os nanicos, puxados pela senadora Soraya Thronicke, que conseguiram somente 1% na última pesquisa, agora somaram três pontos. Pontuaram Thronicke, Felipe d''Avila ( Novo) e Pablo Marçal ( Pros).

Este cenário, por si só, praticamente afasta a hipótese de vitória de Lula em primeiro turno. Na rodada anterior, Lula superava a soma de seus adversários por cinco pontos. Agora é superado por ela por quatro pontos. Como Bolsonaro nada perdeu, manteve os 32%, é evidente que houve uma transferência de voto de Lula e de indecisos para a chamada "terceira via".

Bolsonaro cresce lentamente no Datafolha. Em um mês, três pontos percentuais. Neste ritmo, não superará Lula no primeiro turno, mas conta com perspectivas alentadoras para o segundo turno. Melhora a avaliação do governo, paulatinamente, e cai a desaprovação. Sua rejeição, contudo, é resiliente. Oscilou de 51% para 52% o rechaço a seu nome nos últimos 15 dias.

Lula entrou no debate da TV Bandeirantes, aquele em que foi tímido ao responder sobre corrupção ao ser duramente questionado por Bolsonaro, disposto a lançar pontes para Simone Tebet e Ciro. A falta de agressividade aparentemente não fez bem ao líder das pesquisas.

Valor Econômico

Lula se mantém no ‘modo Palmeiras’ na corrida presidencial




Embora seu carisma não seja o mesmo de vinte anos atrás, o ex-presidente vem conseguindo sustentar confortável folga com relação a Bolsonaro

Por Mario Vitor Rodrigues (foto)

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, 1º, não deixa dúvidas: com 45%, contra 32% de Jair Bolsonaro, 9% de Ciro Gomes e 5% de Simone Tebet, Lula é uma espécie de Palmeiras nesta corrida presidencial.

Há poucas semanas, corintianos, flamenguistas e tricolores esfregavam as mãos, animados com a sequência que o Palestra teria pela frente: Corinthians, Flamengo e Fluminense, este em pleno Maracanã. Na certa, o líder do campeonato tropeçaria. Eis que o time de Abel Ferreira venceu o clássico e empatou com ambos os cariocas, mantendo distância dos rivais, já livre dos confrontos diretos e com três rodadas a menos para disputar até o final do torneio.

Lula trilha caminho parecido. Embora seu carisma não seja o mesmo de vinte anos atrás, o ex-presidente vem conseguindo sustentar confortável folga com relação a Bolsonaro, que vê o dia da eleição se aproximar sem que o pacote de benefícios engendrado com óbvios fins eleitoreiros surta efeito, apesar de os indicadores econômicos terem começado a dar sinais positivos. A distância até diminuiu é verdade, mas dentro da margem de erro. Há duas semanas, o instituto marcava 47% contra 32%.

Lula não teve bom desempenho no debate da Bandeirantes — em que a candidata Simone Tebet foi amplamente reconhecida como vencedora, única a subir acima da margem de erro (de 2% para 5%). Todavia, dadas as circunstâncias — folga na liderança e cerca de 80% dos eleitores já decididos —, o candidato petista pode se dar esse luxo, desde que Bolsonaro também tropece.

E ele tropeçou.

Jamais saberemos se a expectativa no campo de Bolsonaro de que o último domingo pudesse marcar uma mudança de prumo nas intenções de votos chegaria a se confirmar. Isso porque, embora Lula tenha se mostrado inábil para tratar da corrupção nos governos do PT, o presidente abriu mão dessa chance quando atacou a jornalista Vera Magalhães. A dificuldade para atrair o voto feminino é conhecida dor de cabeça na campanha pela reeleição (48% para Lula contra 28% de Bolsonaro).

Ao fim e ao cabo, os números do Datafolha reforçam a possibilidade cada vez maior de que haja um segundo turno, devido ao crescimento de Ciro e Simone, porém vale lembrar que, assim como em 2018, o primeiro turno já está polarizado. Considerando que não faz sentido imaginar que os eleitores de Simone e Ciro migrem em massa para votar em Bolsonaro, Lula parece destinado a ser o primeiro brasileiro eleito em três ocasiões para presidir o País.

O Estado de São Paulo

A indignação seletiva do eleitor com a corrupção




Eleitorado se horroriza com roubalheira do PT enquanto faz vista grossa ao Banco Imobiliário em dinheiro vivo da família Bolsonaro

Por Vera Magalhães

É impressionante quanto o eleitor bolsonarista é impermeável à profusão de casos de diferentes formas de corrupção ao longo da vida política do presidente e também em seu governo.

A seletividade no peso que essa fatia do eleitorado atribui aos escândalos a depender de onde eles partam — se do PT ou se do entorno do capitão— é um fenômeno pouco estudado e, também ele, engenhosamente burilado a partir das ativas redes sociais e subterrâneas da comunicação bolsonarista.

Esta semana foi pródiga na revelação de muitos indícios de corrupção associada ao núcleo mais próximo de Bolsonaro. O levantamento pormenorizado do UOL a respeito das transações imobiliárias da família ampliada do presidente, com nada menos que 51 em parte ou integralmente em dinheiro vivo, foi recebido com um dar de ombros pelo próprio Bolsonaro.

Segundo o presidente, não tem nada demais transacionar casas, apartamentos e salas comerciais com sacolas cheias de notas sem procedência garantida.

As mesmas pessoas que se indignaram diante dos processos que atribuíam a Lula a propriedade, disfarçada por meio de laranjas, do sítio de Atibaia e do triplex no Guarujá, compram essa justificativa pelo valor de face e continuam dizendo que não votam no PT porque não toleram corrupção.

O argumento mais comum quando se tenta extrair desse “sommelier” de corrupção qual seria a distinção das cepas de escândalos é que o petrolão e o mensalão representaram a pilhagem em série e em volumes bilionários de recursos públicos, enquanto rachadinha e outras práticas seriam algo que “todo mundo faz”, de pequena monta, quase traquinagens pueris.

Como o PT ainda não descobriu como lidar com seus escândalos, que, apesar de restarem comprovados e terem resultado na devolução de bilhões por parte de ladrões confessos, o partido insiste em negar e atribuir apenas a um “golpe” da Lava-Jato, também perde a força a tentativa do partido de explorar as nada explicadas transações imobiliárias de Bolsonaro, filhos e ex-mulheres.

O caso da mansão de Ana Cristina Valle, mãe do filho Zero Quatro do presidente, é daqueles que têm cheiro, cor e forma de lavagem de dinheiro. E não estamos falando de tostões, mas de ao menos R$ 2,9 milhões, valor pelo qual a casa foi comprada por um corretor que a Polícia Federal acredita ser laranja.

O eleitor sempre disposto a ser complacente quando se trata de Bolsonaro tenta convencer a si mesmo dizendo que ela não tem mais nada a ver com o Mito, apesar de ser candidata com o nome de Cristina Bolsonaro e de ter atuado durante anos, de acordo com as investigações, como administradora de recursos humanos dos gabinetes da família.

Havia muita dúvida por parte de especialistas de pesquisas e cientistas políticos se a corrupção seria um fator definidor de voto em 2022 como foi em 2018. O declínio e as derrotas da Lava-Jato, a recuperação de Lula junto ao eleitorado e a predominância de temas econômicos na cabeça do eleitor pareciam dizer que não.

Mas a aproximação da campanha fez com que o assunto voltasse a ganhar importância, sobretudo para o eleitor que manteve o antipetismo latente, mas agora o exibe com força renovada pela investida direta do próprio Bolsonaro contra Lula.

Estacionado nas pesquisas e vendo a distância para o presidente cair lenta mas continuamente há dois meses, o petista ainda não sabe como tratar do assunto. E, como não sabe nem explicar o próprio passivo, menos ainda se arrisca a apontar o cinismo de um eleitorado, em geral de elite, que se horroriza com a roubalheira do PT enquanto faz vista grossa a orçamento secreto, rachadinha, Banco Imobiliário em dinheiro vivo e outros telhados de vidro (e a peso de ouro) de Bolsonaro, família e aliados.

O Globo

Mudança no cenário econômico favorece Bolsonaro




O eixo da estratégia de Lula é a comparação do seu governo, que alcançou altas taxas de crescimento quando concluiu o segundo mandato, com o fracasso econômico do governo Bolsonaro

Por Luiz Carlos Azedo (foto)

Recentemente, o jornalista Paulo Markun e a socióloga Ângela Alonso lançaram o documentário Ecos de Junho, em exibição na Netflix, no qual tecem uma linha de continuidade entre as manifestações espontâneas dos jovens brasileiros de 2013 e o desfecho daquele processo antissistema, que levou à eleição de Jair Bolsonaro (PL), cinco anos depois. Havia uma disputa política cujo desfecho foi uma guinada à direita, em 2018, mas que ainda não terminou e, de certa forma, está presente nas eleições deste ano, como uma espécie de ajuste de contas.

Grosso modo, essa disputa ocorreu nos quadrantes da ética, da política propriamente dita, da economia e da ideologia, simultaneamente, mas o peso relativo de cada uma dessas variáveis foi se alterando ao longo do processo. No plano da ética, a Operação Lava-Jato foi um fator determinante; na economia, o fracasso da nova matriz econômica; na política, a sua judicialização; e na ideologia, a reação religiosa à revolução de gênero.

Bolsonaro se elegeu em 2018 porque conseguiu levar a melhor nessas quatro frentes, ainda que tenha sido favorecido pelo impacto do atentado que sofreu em Juiz de Fora, onde levou uma facada que o deixou entre a vida e a morte. Nas eleições deste ano, a conjuntura é outra, o peso relativo de cada um dos quadrantes se alterou, mas eles continuam sendo variáveis que precisam ser examinadas separadamente e, também, em interação.

A Operação Lava-Jato acabou, seus protagonistas estão desgastados e sendo responsabilizados por eventuais abusos de autoridade, a ponto de o ex-juiz Sergio Moro, candidato ao Senado no Paraná, estar em risco de não se eleger. Entretanto, a questão da ética na política não morreu, continua sendo uma variável importante da eleição, que somente não está sendo mais explorada porque não se fala de corda em casa de enforcado.

Líder inconteste nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem muita dificuldade de abordar esse tema, que evoca o mensalão, o escândalo da Petrobras, o tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia; Bolsonaro, por causa das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, dos escândalos da Educação e, mais recentemente, do estranho costume familiar de comprar imóveis com dinheiro vivo, também não fica à vontade para falar de corrupção. A tendência é os demais candidatos se beneficiarem do desgaste de petistas e bolsonaristas, que se digladiam nas redes sociais, e que deve ganhar mais peso no debate eleitoral, principalmente Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

A judicialização da política continua sendo um vetor do processo eleitoral, mas numa chave diferente de 2018. Àquela ocasião, o Supremo impediu a candidatura de Lula, que estava com a ficha-suja, por ter sido condenado em segunda instância, o que facilitou a eleição de Bolsonaro; agora, o jogo se inverteu, a condenação de Lula foi anulada e sua candidatura é favorita na disputa, enquanto se arma contra o Supremo uma coalização política interessada em reduzir seus poderes, da qual fazem parte o Executivo, o Legislativo, o Ministério Público Federal e as Forças Armadas. Bolsonaro protagoniza esse processo, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também pode ser um interessado nesse projeto.

Para quem? 

Até a semana passada, dizia-se que a economia derrotaria o projeto de reeleição de Bolsonaro, em razão da recessão, da inflação e do desemprego. O eixo da estratégia de Lula é a comparação do seu governo — que alcançou altas taxas de crescimento quando concluiu o segundo mandato, aumentou o salário real dos trabalhadores e transferiu renda às parcelas mais pobres da população — com o fracasso econômico do governo Bolsonaro.

Os dados do IBGE desta semana, porém, mostram uma mudança significativa de cenário, com retomada da atividade econômica em torno de 1,2%, queda da inflação e redução da taxa de desemprego a 9%, o que pode dar ao projeto de reeleição de Bolsonaro um gás que até agora não tinha. A disputa de narrativas sobre a economia, obviamente, terá de ser politizada, na base do “melhorou pra quem, cara-pálida?”.

Finalmente, a dimensão ideológica. Nas eleições deste, esse quadrante está sendo polarizado pela reafirmação da questão democrática pela sociedade civil, que se contrapôs ao projeto iliberal de Bolsonaro. Entretanto, no debate eleitoral, a questão dos costumes ainda tem muito protagonismo, principalmente em decorrência do alinhamento da maioria dos líderes evangélicos com Bolsonaro. O presidente da República capturou o sentimento de defesa da integridade da família unicelular patriarcal, desde 2018.

Em contrapartida, Lula, que se identifica com o lugar de fala dos movimentos de gênero, indígena e negro, não pode assumir as pautas identitárias como principais bandeiras de campanha eleitoral, porque isso poderia lhe custar a eleição. As maiores vantagens estratégicas do ex-presidente são os votos do Nordeste e das mulheres. Bolsonaro trabalha para neutralizá-las.

Correio Braziliense

Ataque a Kirchner sacode polarizada política argentina




Ex-presidente escapa de tentativa de assassinato no momento em que enfrenta um processo judicial por suposta corrupção e em meio a uma crescente tensão política.

A ex-presidente Cristina Kirchner escapou por pouco de um atentado com arma de fogo nesta quinta-feira (01/09) no momento em que enfrenta um processo judicial por suposta corrupção e em meio a crescente polarização política na Argentina.

"Cristina continua viva porque, por um motivo ainda não confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", revelou o presidente Alberto Fernández, que descreveu o incidente como "o mais grave" desde a restauração democrática de 1983.

Aos 69 anos, vice-presidente desde 2019 e duas vezes presidente entre 2007 e 2015, Kirchner é acusada de corrupção na concessão de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, seu berço político, localizado no sul do país.

Além de problemas na Justiça, a vice-presidente enfrenta uma crise em seu governo ao travar uma disputa por espaço com o presidente, argentino, Alberto Fernández. Em agosto, o governo argentino criou um "superministério" da Economia para tirar o país da crise financeira.

No último dia 22 de agosto, o promotor Diego Luciani pediu 12 anos de prisão para Cristina, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado quando era presidente da Argentina.

Manifestações contra e a favor

Desde então, grupos a favor e contra a ex-presidente têm se manifestado nas proximidades da residência de Cristina no bairro Recoleta. Um grupo de anti-kirchneristas se aproximou de sua casa para insultá-la e, pouco depois, apoiadores da vice-presidente foram até lá para expressar seu apoio e desde então mantêm uma vigília ininterrupta.

E entre aquela multidão que a esperava todas as noites em seu retorno para casa para pedir uma saudação ou um autógrafo, estava o agressor.

A tensão aumentou após a colocação de uma cerca ao redor da casa de Cristina e das acusações do partido governista em relação à repressão contra os manifestantes pelas forças do governo da cidade de Buenos Aires – opositor do Executivo argentino.

Em vez de tentarem acalmar os ânimos, os líderes políticos do governo e da oposição se envolveram em duras trocas de acusações desde então.

O ataque permite uma trégua frágil que não se sabe quanto tempo durará. Todos os partidos políticos repudiaram o ocorrido e líderes da oposição, como o ex-presidente Mauricio Macri e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, manifestaram sua solidariedade à vice-presidente.

"Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança", tuitou Macri.

Deputados e senadores da base governista se manifestaram no Congresso Nacional contra o ataque. "Não a mataram porque Deus é grande", afirmou o senador governista José Mayans. O deputado governista Sergio Palacio pediu a investigação do caso

No entanto, Patricia Bullrich, representante da ala mais dura do macrismo, manteve a linha de confronto. "O presidente está brincando com fogo: em vez de investigar seriamente um incidente grave, ele acusa a oposição e a imprensa e decreta um feriado para mobilizar militantes. Converte um ato individual de violência em um movimento político. Lamentável", disse a ex-ministra da Segurança e atual presidente do Pro (Proposta Republicana), se referindo à decisão de Alberto Fernández, de decretar feriado nacional nesta sexta-feira.

Repercussão na América Latina

O incidente também ecoou na América Latina, com políticos da região condenando a tentativa de assassinato. 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou no Twitter que "repudia veementemente esta ação que busca desestabilizar a paz do povo irmão argentino".

Na mesma rede social, o líder cubano Miguel Díaz-Canel escreveu: "De Cuba, consternado com a tentativa de assassinato de Cristina Kirchner. Transmitimos toda nossa solidariedade à vice-presidente, ao governo e ao povo argentino."

O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a tentativa de assassinato merece todo o repúdio e a condenação de todo o continente. "Minha solidariedade a ela, ao governo e povo argentino. O caminho será sempre do debate de ideias e diálogo, nunca de armas ou violência", acrescentou.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o ataque e afirmou que "a direita criminosa e servil ao imperialismo não passará. O povo livre e digno da Argentina irá derrotá-lo".

Ao se pronunciar sobre o fato, o presidente Jair Bolsonaro lembrou a facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. 

"Eu lamento. Agora, quando eu levei a facada, teve gente que vibrou por aí. Lamento, já tem gente que quer botar na minha conta esse problema. E o agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso no intento."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula escreveu no Twitter: "Toda a minha solidariedade à companheira Cristina Kirchner, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa."

Deutsche Welle

Manutenção de emendas do relator deteriora Orçamento de 2023 - Editorial




Na proposta enviada por Bolsonaro ao Congresso, R$ 19,4 bilhões serão gastos sem critério nem transparência

É um absurdo o presidente Jair Bolsonaro ter mantido as emendas do relator, conhecidas pela sigla RP9, na proposta de Orçamento da União de 2023 enviada na quarta-feira ao Congresso. Pior foi ter repetido o erro de prever para esse fim mais do que a soma das demais emendas. Bolsonaro reservou R$ 38,7 bilhões aos parlamentares, dos quais R$ 19,4 bilhões abastecerão as emendas RP9, que deram origem ao famigerado orçamento secreto. São gastos destinados a fins paroquiais, feitos sem critério nem transparência, flanco aberto à corrupção.

A aberração das emendas do relator retirou do Executivo a capacidade de comandar as políticas públicas, como escreveu o colunista do GLOBO Merval Pereira. Quase R$ 20 bilhões do Orçamento vão parar nas mãos de deputados e senadores da base de apoio do governo para que gastem como bem entenderem, segundo tão somente os seus interesses políticos, quando não pecuniários.

O dinheiro não vai para os brasileiros que mais precisam. Recebem aqueles que moram no reduto eleitoral do congressista do governo agraciado. Na maior parte das vezes, o investimento vai na contramão de uma estratégia sensata para os estados, para as regiões, para o país. Não têm sido raras as denúncias e evidências de pura roubalheira, casos que ainda esperam apuração rigorosa.

Enfraquecido e preocupado com a possibilidade de perder o mandato por impeachment, Bolsonaro comprou o apoio do Centrão transferindo aos líderes do Congresso o controle sobre uma vultosa fatia do Orçamento. Tal decisão é a culminação de um problema antigo. No sistema político brasileiro, um presidencialismo multipartidário, quando quem está à frente do Executivo é ou fica fraco, o preço cobrado pelo Legislativo sobe.

Quando estava em situação de extrema vulnerabilidade, a presidente Dilma Rousseff atendeu a uma demanda histórica dos congressistas. Eles reclamavam do poder do governo de contingenciar suas emendas. Para liberar a execução, tinham de ir em romaria aos ministérios e quase implorar. Dilma abriu mão da discricionariedade na execução das emendas individuais. Não foi suficiente para que escapasse do impeachment, mas serviu para erodir o poder de barganha do Executivo. Para satisfazer a sanha dos congressistas, Bolsonaro teve de ir além. Abriu mão também da transparência e do controle sobre a execução.

Talvez a única boa notícia sobre as emendas do relator seja que o próximo presidente não é obrigado a mantê-las. O difícil será convencer os congressistas. Se perderem o orçamento secreto, muitos poderão partir para a retaliação. O principal adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também se mostrou um gerente sofrível de coalizões, como comprovaram os casos do mensalão e petrolão. Seja quem for o eleito em outubro, a questão continua à espera de uma solução que preserve a transparência e a qualidade do gasto público. Com quase R$ 20 bilhões em emendas do relator, ambas são impossíveis.

O Globo

Estagnação ameaça expectativa de vitória e liga sinal de alerta para Bolsonaro




Presidente não consegue transformar fatos em votos e cresce pouco em simulações de segundo turno

Por Thomas Traumann (foto)  

Depois de uma semana de campanha de rádio e TV, uma entrevista no Jornal Nacional, um debate na TV e R$ 600 depositados nas contas de mais de 20 milhões de famílias cadastradas no Auxílio Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) segue estacionado no mesmo indicador da nova pesquisa Datafolha contratada pela TV Globo e "Folha de S.Paulo". Com 32%, Bolsonaro segue perdendo para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 45%. A diferença é que já se passaram duas semanas desde a primeira pesquisa Datafolha na campanha e agora só faltam 30 dias até o primeiro turno.

A falta de reação de Bolsonaro já havia sido detectada em três pesquisas divulgadas nesta semana. No Ipec/TVGlobo e Genial/Quaest, Lula tem 44% e Bolsonaro 32%, os mesmos números de duas semanas atrás. A pesquisa XP/Ipespe só captou oscilações na margem de erro, com Lula liderando com 43% das intenções e Bolsonaro 35%.

A expectativa da vitória é o principal motor de uma campanha presidencial e a campanha de Bolsonaro não consegue transformar fatos em votos. Em todas as simulações de segundo turno, Bolsonaro não apenas perde de Lula, ele cresce pouco. No Datafolha, num eventual segundo turno, Bolsonaro ganha seis pontos percentuais do primeiro para o segundo turno, enquanto Lula sobe nove pontos percentuais, num placar de 38% a 53% a favor do petista.

Este quadro se repete nas outras pesquisas. No Ipec, Bolsonaro vai de 32% no primeiro turno para 37% no segundo, enquanto Lula sai de 44% para 50%. Na Genial/Quaest, o presidente sai de 32% para 37% e Lula de 42% para 51%. Na XP/Ipespe, Bolsonaro sai de 35% para 38%, enquanto Lula vai de 43% para 53%.

Os governistas supunham que a melhora gradual da avaliação do governo desde maio ajudaria Bolsonaro a crescer. A nova pesquisa, no entanto, mostra que a aprovação e a reprovação ao governo só oscilaram dentro da margem de erro nos últimos 15 dias: 42% ainda acham o governo ruim ou péssimo (eram 43%) e 31% consideram ótimo ou bom (eram 30%). A rejeição de Lula (39%) e de Bolsonaro (52%) também oscilaram na margem de erro.

Embora o governo tenha conduzido a economia para produzir bons resultados neste trimestre, com a queda de inflação e crescimento do PIB e do emprego, Bolsonaro produziu para si mais notícias ruins do que boas neste início de campanha.

Respondendo à jornalista Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional, o presidente negou que houvesse imitando pacientes de Covid com falta de ar. Ele foi desmentido pelas dezenas de milhares de busca na internet pelos vídeos de suas próprias lives de 18 de março e 21 de maio de 2021.

No debate de domingo, Bolsonaro fez ataques misóginos à jornalista Vera Magalhães e à senadora Simone Tebet, afastando o eleitorado feminino que já o rejeita. Na terça-feira, o site UOL publicou reportagem mostrando que desde os anos 1990 o presidente, irmãos, filhos e ex-mulheres negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. Perguntado sobre o caso, o presidente foi omisso e disse que “não via problema nenhum” em comprar imóveis com dinheiro vivo.

Na quarta-feira, O GLOBO revelou que a Polícia Federal pediu abertura de investigação de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, sob suspeita de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. A PF suspeita que Ana Cristina, mãe de Renan Messias Bolsonaro, usou um laranja para contratar um financiamento bancário de R$ 2,3 milhões para a compra de uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília.

Também na quarta-feira, o governo enviou o projeto de Orçamento prevendo a redução do Auxílio Brasil para R$ 400 a partir de janeiro, contrariando a promessa do presidente de manter o valor em R$ 600. Pesquisas qualitativas mostram que eleitores cadastrados do Auxílio desconfiavam da promessa do presidente porque na virada do ano o governo de fato interrompeu o pagamento do benefício. A proposta do orçamento dá elementos para esta desconfiança.

Sem um crescimento consistente nas pesquisas, Bolsonaro perde o engajamento de seus principais cabos eleitorais, os candidatos a governador, senador e deputados federais e estaduais. A maioria dos candidatos dos partidos da aliança PP, PL e Republicanos é bolsonarista até a página 4, o que significa que farão campanha a favor do presidente se acharem que têm chances de ganhar. Caso contrário, o abandonarão como fizeram em 2018 com Geraldo Alckmin, ironicamente naquela ocasião a favor de Bolsonaro. Sem a expectativa da vitória, Bolsonaro fica sob pressão e cada semana com menos tempo.

O Globo

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