Publicado em 6 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A crise brasileira está explodindo por todos os lados, deixando um rastro extremamente negativo para a população e também para o governo Bolsonaro diante de mais de 200 milhões de habitantes. Suas etapas vão se desenrolando numa sequência impressionante que vai da pandemia, passa pelo Exército, chega à energia elétrica e, em mais uma salto, envolve até o futebol.
No futebol, os jogadores da seleção e o técnico Tite manifestaram-se contra a realização da Copa América que começaria ainda este mês sem que o treinador e os atletas fossem sequer consultados. O treinador e os atletas voltaram-se em massa contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, que se apressou em aceitar que o país fosse sede desta taça após as negativas da Colômbia e da Argentina. A Colômbia por viver um momento institucional profundamente crítico e a Argentina por considerar o grave problema da Covid-19 e os efeitos que poderia produzir em Buenos Aires e outras cidades do país.
ACUSAÇÕES – No meio da tempestade ainda surgem, reportagem de Bruno Marinho, O Globo deste sábado, acusações contra o dirigente da CBF por assédio sexual a funcionárias da entidade, sobretudo a uma que tornou público o seu protesto diante do sórdido comportamento de Caboclo.
Por outro lado, Júlia Lindner e André de Souza, também O Globo, apontam a existência de um gabinete paralelo ligado à Saúde, mas independente do próprio Ministério, onde são traçadas normas, inclusive por médicos, defendendo a cloroquina e se opondo às restrições levantadas por cientistas ao que se deu o nome de tratamento precoce.
Só faltava essa: alguém assume o Ministério da Saúde, como é o caso agora do médico Marcelo Queiroga, mas tem o seu posicionamento rejeitado pelo gabinete da cloroquina. A contaminação atinge mais de 60 mil pessoas por dia, transformando-se numa corrente que ameaça todas as pessoas no Brasil.
DOIS GABINETES – A taxa de mortalidade passa de 2 mil pessoas a cada 24 horas. Como tenho focalizado, o ministro Marcelo Queiroga não consegue pisar no freio, o que seria o mínimo a se exigir de um ministro da Saúde. Mas é preciso se levar em conta que, segundo a reportagem, não existe uma só vontade no campo crítico da Covid-19. Existem dois gabinetes que se chocam e disputam de forma extremamente negativa a questão do coronavírus.
O presidente Jair Bolsonaro dá mais ouvidos, pelo que se deduz, ao gabinete paralelo porque a cloroquina já foi distribuída em larga escala pelo país depois de ser adquirida pelo governo. Para o gabinete do Ministério da Saúde, foi dinheiro jogado fora.
No setor de energia elétrica, reservatórios muito baixos e preços muito altos das tarifas em decorrência do uso de termelétricas. As tarifas não são apenas as domiciliares, elas se estendem à indústria, aos serviços e a todos os demais setores que não podem funcionar sem ela.
MEIO AMBIENTE – Além disso, não podemos esquecer o que está ocorrendo no Ministério do Meio Ambiente. Toneladas de troncos de árvores retirados ilegalmente aguardam destinação após o choque entre o ministro Ricardo Salles e o ex-superintendente da Polícia Federal na região Amazônica Alexandre Saraiva.
A madeira espera a sua liberação, como defende Salles, ou a sua apreensão, como defendeu Saraiva. Deve-se destacar que a descoberta da ilegalidade foi uma decorrência de denúncia. Mas a luta pela comercialização normal colocou Salles numa posição de incrível desgaste. E ele ainda continua no Ministério.
Focalizando este panorama conjunto, encontramo-nos numa etapa singular da história brasileira, pois nunca tantos foram acusados de tantas ilegalidades ao mesmo tempo, compactuadas pelas ações de uns e omissões de outros. As omissões são tão destrutivas quanto as próprias ações que levam à devastação do verde da Amazônia. Enfim, estamos diante de uma crise que se agrava a cada dia.
CONGELAMENTO DOS SALÁRIOS – Enquanto isso, o governo adia indefinidamente o estabelecimento de um programa nacional que teria que se situar no plano da emergência, mas que deveria se estender ao plano da urgência social porque além de todos esses fatores definidos, ainda por cima temos o congelamento dos salários e as taxas inflacionárias reais, inclusive os cálculos do IBGE que a mim parecem reduzir os impactos que os diversos segmentos da população estão sendo atingidos, produzindo uma anarquia generalizada.
A hierarquia e o regulamento disciplinar do Exército também são focalizados pela lente da opinião pública. Tem-se a ideia de que o barco do governo enfrenta uma tempestade que desaba sobre o país como um todo. O governo passa por uma fase de desorganização praticamente total. Acima disso tudo, existe ainda a perspectiva do treinador Tite demitir-se na noite de terça-feira, logo após o jogo com o Paraguai.