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terça-feira, abril 06, 2021

Após sugerir novo AI-5, Eduardo Bolsonaro rejeita ditadura ‘porque o poder já está em nossas mãos’


Charge do Amarildo (Arquivo do Google)

Danielle Brant
Folha

O relator da representação contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Conselho de Ética da Câmara por declarações sobre a volta do AI-5 no Brasil votou nesta segunda-feira, dia 5, pelo arquivamento do processo contra o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro. Na avaliação do deputado Igor Timo (Podemos-MG), autor do parecer preliminar, não há justa causa para que o processo seja admitido. Por isso, argumentou, a representação deve ser arquivada.

A oposição, no entanto, discordou da decisão e pediu vista (mais tempo para análise) do relatório. A ideia é apresentar parecer alternativo na sessão de quinta-feira, dia 8, quando a análise será retomada. Apesar de votar pelo arquivamento, o relator disse que queria “deixar claro” e “registrar” que o AI-5 foi um “tempo obscuro” e que o “Brasil não permite, em tempo algum, referenciar ou citar com saudosismo tempos sombrios” de sua história.

CRÍTICAS AO PARECER – Já a oposição fez fortes críticas ao parecer. “O relatório de Igor Timo é uma vergonha. Um salvo conduto para a extrema-direita que ameaça as liberdades democráticas”, afirmou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

“Eduardo Bolsonaro cometeu um crime grave ao ameaçar o país com o AI-5, o ato mais brutal da ditadura civil militar. É incoerente inclusive com o andamento do processo de cassação de Daniel Silveira. Na prática um peso e duas medidas que pode estar relacionado a relação do relator com a família Bolsonaro.”

Antes da leitura, Eduardo Bolsonaro também criticou a oposição, autora da representação. “Eles [a oposição] entendem que a maneira de se fazer política é judicializando e, por vezes, dando entrada, também, neste conselho de ética”, disse. “De maneira alguma eu fiz metade ou 10% daquilo que eles me acusam neste processo.”

“MENOS INTERESSADO” – Ao final, após o voto do relator, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro era o “menos interessado” em que o Brasil vire uma ditadura. “Em igual monta também, eu, deputado federal mais votado da história do país —e muitos aí dizem que eu deveria ser cassado, uma total violação do nosso sistema representativo— sou o menos interessado também em ter qualquer tipo de ditadura, porque o poder já está em nossas mãos”, afirmou.

Eduardo era alvo do Conselho desde novembro de 2019 por dizer que o resultado de uma hipotética radicalização da esquerda seria a volta do AI-5, o ato que marcou o início do período mais duro da ditadura militar (1964-1985).

As declarações foram dadas em entrevista à jornalista Leda Nagle em 31 de outubro do ano passado. Na conversa, o deputado disse que, se o Brasil tivesse protestos como os que ocorriam na ocasião no Chile, chegaria um momento igual ao do final dos anos 1960, quando houve sequestros de aviões e autoridades durante a ditadura militar.

AMEAÇA – “Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, afirmou, fazendo referência ao ato institucional que determinou o fechamento do Congresso e a suspensão da garantia de habeas corpus no país.

Duas representações foram protocoladas no conselho por causa do episódio: uma pela Rede, e outra assinada por PSOL, PT e PC do B — essa última foi incorporada à primeira. Durante o processo, o relator foi criticado pela proximidade com o presidente Bolsonaro. Reportagem do Uol mostrou que Timo gravou um vídeo com Bolsonaro agradecendo o presidente por ter repassado verbas para seu estado.

Em nota enviada ao portal na época, a assessoria afirmou que o parlamentar mantinha sua imparcialidade e disse que o episódio não interferia no trabalho que ele realiza no conselho.

IRRITAÇÃO – O episódio gerou mal estar no conselho e irritou a oposição, que enviou um ofício ao presidente do conselho de ética, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), pedindo a adoção de medidas por causa da suspeição ou impedimento do relator.

No final de fevereiro, Eduardo já havia tido outro processo arquivado pelo conselho de ética. O deputado era acusado de ter ofendido a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) nas redes sociais, em 2019.


Robôs de Bolsonaro intensificam ações nas redes para tentar contornar desgastes diante da crise sanitária


Charge do Luiz Gê (Arquivo Google)

Ingrid Soares e Augusto Fernandes
Correio Braziliense

Março foi um dos meses em que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro mais oscilou desde que ele assumiu o Palácio do Planalto, em 2019. O recrudescimento da pandemia da Covid-19 no país, que tornou o último mês o mais letal da crise sanitária, com 66.573 mortes, foi um dos principais fatores para a má avaliação do chefe do Executivo.

Também contribuíram para impopularidade a demora do governo em disponibilizar mais vacinas à população e algumas condicionantes políticas, como a mudança no comando do Ministério da Defesa, que desencadeou uma reformulação em todas as Forças Armadas. Mas em meio a esse cenário negativo para Bolsonaro, cresceu a quantidade de interações no Twitter de perfis considerados inautênticos em favor do presidente.

LEVANTAMENTO – Segundo levantamento feito pelo Correio com base em números da plataforma Bot Sentinel, que analisa publicações feitas na rede social por robôs, o número de postagens com hashtags de apoio a Bolsonaro deram um salto vertiginoso entre fevereiro e março. Se, há dois meses, a ferramenta mapeou pelo menos 1.392 posts produzidos por bots bolsonaristas, no mês passado foram contabilizados, no mínimo, 49.302. O crescimento foi de 3.441%.

Dentre as publicações feitas pelos robôs, destacaram-se hashtags que enaltecem o trabalho desempenhado pelo mandatário. Houve, por exemplo, mais de 15,2 mil publicações com #opovoestacombolsonaro, #bolsonaroheroidobrasil, #contecomigobolsonaro, #bolsonarotemrazao e #vaipracimapresidente. Além disso, foram bastante comuns posts pedindo que Bolsonaro seja reeleito no ano que vem. Tags como #bolsonaro2022, #bolsonaroate2026, #bolsonaropresidenteate2026 e outras variantes apareceram em aproximadamente 8,1 mil postagens.

Os dias em que as publicações aconteceram com mais frequência foram no aniversário de Bolsonaro, 21 de março, e na data que marca o início do golpe militar de 1964, 31 de março. Só nesses dois dias, foram quase 14,1 mil posts escritos por robôs. As principais hashtags utilizadas foram #happybirthdaybolsonaro, #parabenspresidente, #deusabencoebolsonaro, #felizaniversariobolsonaro, #viva31demarço, #viva1964 e #viva31demarçovivaobrasil.

EM DEFESA DE ARAÚJO – Com a pressão no fim do mês para que o presidente demitisse o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também foram mapeadas cerca de 2,8 mil publicações de bots em defesa do chanceler, tais como #ninguemmexecomernesto e #ernestoaraujofica. Apesar disso, ele foi substituído pelo embaixador Carlos Alberto Franco França.

Um indicativo que aponta para a possibilidade de a atividade no Twitter a favor de Bolsonaro ter sido conduzida por perfis inautênticos é o erro gramatical na escrita de algumas hashtags. Dentre as publicações que mais se destacaram, houve ao menos 459 posts com #parabemsbolsonaro, mais do que as postagens com a escrita correta: apenas 144 estavam com a grafia #parabensbolsonaro. Ainda foram mapeados 153 tweets com #fechadocombolonaroate2026. Por outro lado, 675 foram publicados corretamente (#fechadocombolsonaroate2026).

A atividade dos robôs foi mais comum à noite e nas primeiras horas da madrugada. Quase 45% das publicações (21.780) aconteceram no intervalo entre 21h e 4h. Em contrapartida, a interação dos bots pela manhã e durante a tarde foi bastante reduzida. Apenas 23% das postagens (11.540) aconteceram de 10h a 17h.

DESESPERO – O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que o uso de robôs é um sinal de que o bolsonarismo se sente acuado em meio às pressões contra o presidente. “(O bolsonarismo) está tentando não perder espaço na internet, território até hoje muito importante para o presidente. Na campanha de 2018, enquanto outros candidatos corriam para montar equipes nas redes sociais, Bolsonaro já as usava havia um ano ou dois. Portanto, ele sente que sua avaliação está deteriorando e tenta não perder espaço nas redes virtuais”, comenta.

“Segundo as pesquisas, houve um aumento de quem considera ruim ou péssimo e uma queda dos que consideram bom e ótimo. Essa manobra (dos robôs) visa tentar manter a hegemonia e a força do bolsonarismo. Mas há ainda o pensamento nas eleições de 2022, quando Bolsonaro vai buscar a reeleição de todas as formas. Seu projeto de poder depende disso”, completa Prando.

SEM EFEITO – Entretanto, Vera Chemim, especialista em direito constitucional e mestre em administração pública pela Fundação Getulio Vargas, alerta que a atividade de robôs na internet para manter artificialmente o apoio ao governo Bolsonaro pode não surtir efeito para as pretensões do mandatário de vencer as eleições do próximo ano.

“A princípio, o uso de robôs visa maquiar a queda de sua popularidade, decorrente de muitos erros e tropeços, desde o abandono do combate à corrupção até o menosprezo e omissão em razão da pandemia. Porém, caso não haja mudança de postura, em um momento mais próximo às eleições, nem robôs conseguirão fazer milagre no sentido de aumentar a popularidade de Bolsonaro, se ele insistir em continuar a fazer política na base do populismo e do toma lá dá cá”, avalia.


Sem apoio militar, Bolsonaro segue para um final de governo altamente esquizofrênico

Publicado em 6 de abril de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Izânio (Arquivo Google)

Miguel Reale Júnior
Estadão

Entre os motivos por que alertava para não se votar em Bolsonaro, eu ressaltava, nesta página de outubro de 2018, ser o candidato pessoa que não tivera ao longo da vida relações sociais ou políticas, sendo um outsider, sem densidade e compreensão da pluralidade própria do nosso mundo e para quem o Brasil, na sua complexidade, era visto como um quartel.

No quartel não há dissidentes ou debate livre entre membros de escalões diferentes, pois, como ensina o Manual de Campanha – Ordem Unida do Exército, 4.ª edição, 2019, as principais características de uma instituição militar são a disciplina e a coesão, entendida a disciplina como o predomínio da ordem e da obediência, sendo esta pronta, espontânea e entusiástica.

QUARTEL DA SAÚDE – Bolsonaro, formatado na ordem unida, transformou o Ministério da Saúde num quartel, com ministro general e secretário executivo coronel, imperando o que haviam aprendido na caserna: disciplina, ou seja, um manda e o outro obedece às ordens superiores, com submissão cega às determinações do presidente Bolsonaro. Conclusão: nem no prédio do ministério se usavam máscaras.

Enquanto o presidente brincava de “marcha soldado”, milhares de brasileiros morriam. Mas quando chegou a três centenas de milhar, as elites políticas e econômicas resolveram dar um basta à brincadeira.

O repertório de encenações do pretenso mito está a se esgotar. Deu, então, uma cambalhota no palco presidencial para reafirmar sua autoridade.

UNIDO COM O CENTRÃO – Tosco no plano político, sem traquejo na montagem de negociação, que presume ter-se fim preciso a ser alcançado e meios a serem negociados para chegar à meta, Bolsonaro imaginou que, abandonando seus correligionários originais e se unindo ao Centrão, estava garantido no poder para o que desse e viesse.

Como o aprendiz de feiticeiro, Bolsonaro desencadeou forças sobre as quais pensou ter controle, mas que o dominam. Como só conhece as regras da ordem unida, e não a arte da mudança de rumos e da aceitação de uma pluralidade de soluções, imaginou que teria à frente da Câmara e no Senado, em razão de seu apoio, dois outros Pazuellos.

Bolsonaro é presidente, mas sente que não mais governa, só administra crises e corre atrás do prejuízo. Diante do desastre sanitário gigantesco, o Centrão resolveu intervir no governo. Forçado pelos dirigentes das Casas do Congresso, Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, mas não seguiu a orientação de nomear médica de São Paulo, para desgosto em especial de Arthur Lira, que chegou a dizer serem os remédios do Parlamento amargos, podendo mesmo ser fatais.

PACTO IMPOSSÍVEL – Bolsonaro, em vista dessa pressão decorrente do número de mortos e do desespero da situação hospitalar, resolveu convocar os chefes dos Poderes para possível pacto, deixando, contudo, de convidar governadores, prefeitos e secretários da Saúde, contra os quais se voltou em posterior reunião do comitê, para culpá-los pelo desemprego decorrente das sabidamente necessárias medidas restritivas. O presidente do Senado, ao contrário, reuniu-se com governadores e deles recebeu várias sugestões.

Há evidente parlamentarismo branco. Os presidentes da Câmara e do Senado impuseram a saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja gestão fora desastrosa para o Itamaraty. Araújo pediu demissão, apesar de já demitido por Rodrigo Pacheco e Arthur Lira.

Tendo-se feito de surdos-mudos em meio à tormenta, na resistência, própria das vítimas de estelionato, a se reconhecerem enganadas, como o foram, por Bolsonaro, os agentes econômicos (Fiesp e Febraban) finalmente resolveram se juntar aos presidentes da Câmara e do Senado e tomar posição em face do presidente. Formou-se, então, um conjunto consistente de pressão sobre o governo.

CRISE MILITAR – Em reação, o presidente demitiu o Ministro da Defesa, que preservara as Forças Armadas como instituição de Estado, merecendo por isso o apoio dos comandantes das três Armas. No campo militar e nos ministérios da área jurídica, Bolsonaro tenta criar nichos de obediência, com ministros próximos à família, serviçais como Pazuello, a permitir-lhe até mesmo o devaneio do estado de sítio e de se afirmar como presidente.

A esquizofrenia se faz presente no governo: de um lado, caudatário do Centrão, entrega a Secretaria de Governo para inexpressiva deputada gerenciar emendas e cargos; de outro, temeroso da ingerência do Centrão, reforça com amigos a linha repressiva: delegado ligado à bancada da bala no Ministério da Justiça, o disciplinado André Mendonça na AGU e Braga Netto na Defesa. Com tal time e a possível mobilização de polícias militares pelo governo federal, concretiza-se o risco de caminho antidemocrático.

Pouca preocupação há em dotar o governo de capacidade gerencial ante a pandemia e a crise econômica que se avizinha: o que se quer é poder. E assim o aprendiz de feiticeiro tenta novos contorcionismos visando a sobrenadar no mar dos seus desatinos. Mais poder para quê? Para confrontos e mobilização nacional com o “seu” exército? Não haverá!

Governo federal fecha contratos milionários com empresa ligada a apoiador militante de Trump


Objeto social da empresa foi alterado quando Bolsonaro tomou posse

Marcelo Rocha e Constança Rezende
Folha

A chegada de Jair Bolsonaro à Presidência em 2019 marcou uma guinada nos negócios de uma empresa ligada a Daniel Beck, apoiador militante do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump que esteve em Washington durante a invasão ao Congresso americano, em janeiro passado.

Registros obtidos pela Folha mostram que, em janeiro de 2019, começo do governo Bolsonaro, Daniel e familiares mudaram o objeto social de sua empresa nos EUA, de prestação de serviços de publicidade para negócios voltados à área de segurança no Brasil.

MILHÕES DE REAIS – Surgiu, assim, a Combat Armor Defense, que hoje atua com blindagem e venda de veículos e já firmou alguns milhões de reais em contratos com o governo federal. Entre os clientes estão a Polícia Rodoviária Federal e o Ministério da Defesa.

A aposta no Brasil foi alta. O principal responsável pela empresa no país disse à Folha que no início de 2020 procurou em Brasília um dos filhos de Bolsonaro para fazer lobby. Segundo o relato, ele foi à Câmara e “pediu apoio” ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho do chefe do Executivo mais ligado aos trumpistas. Eduardo não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem ao seu gabinete.

Beck, o presidente da Combat Armor, ganhou destaque após viralizar nas redes sociais um vídeo em que afirmou ter se reunido com Rudolph Giuliani, advogado de Trump, e com o empresário Michael Lindell, conselheiro do ex-presidente, na véspera do ataque ao Capitólio.

ENCONTRO COM EDUARDO – Em outra gravação, no dia da invasão, Lindell mencionou ter tido um encontro com “o filho do presidente do Brasil” na noite anterior. Eduardo estava em Washington naquele momento.De acordo com documentos do governo do estado americano de Idaho, a empresa de Daniel foi criada em 2011 com o nome de Ad Faction, Inc. Oito anos mais tarde, após um período de inatividade, foi resgatada com o nome de Combat Armor Defense.

Em março de 2019, após cumprir algumas formalidades, a empresa se instalou no Brasil. Em seguida, começou a construir uma fábrica em Vinhedo, em São Paulo. Beck chamou Maurício Junot de Maria, empresário brasileiro que já atuava no setor, para ser administrador.

Os negócios da empresa começaram a deslanchar a partir de 2020. Abriu uma filial no Rio de Janeiro e colocou superintendentes no Paraná, Espírito Santo e outro encarregado para o Nordeste. Após vencer pregões para o registro de ata de preços junto à Polícia Rodoviária Federal no Rio, a Combat Armor assinou com a corporação três contratos para blindagem de veículos, no valor total de R$ 8,3 milhões, todos atualmente em execução e já empenhados, segundo nota enviada pela assessoria da PRF.

DISPUTA NA DEFESA – Ganhou também disputa no Ministério da Defesa para o fornecimento de veículo de representação blindado por R$ 273 mil e foi vencedora de licitação da Polícia Militar do Rio de Janeiro para aquisição de veículos blindados para transporte de pessoal. Um contrato já foi assinado com a corporação no valor de R$ 9 milhões.

O dono de uma empresa brasileira conhecida do setor, que competiu com a empresa de Beck em um desses pregões, disse à Folha ter ficado surpreso com o sucesso repentino da concorrente, uma empresa tão nova e com fábrica recém-aberta.

NA “CARA DE PAU” – Em conversa com a reportagem, Junot de Maria, que se apresenta como CEO da Combat Armor, afirmou que procurou Eduardo Bolsonaro na Câmara no ano passado para apresentar a empresa. “Foi há mais ou menos um ano. Fui na cara de pau”, afirmou. “Bati na porta [do gabinete]. Ele estava lá por um acaso e me apresentei.” “E falei pra ele: ‘senhor Eduardo, tudo bem? Eu tenho uma empresa que faz isso e isso. Eu gostaria de um apoio teu’.”

Apesar do alegado pedido de apoio ao filho 03 de Bolsonaro, Junot não conseguiu explicar de que maneira o parlamentar poderia ajudá-lo. “Licitação é licitação. Não tem jeitinho, não tem camaradagem, não tem facilidade. É pregão eletrônico. Quem oferecer o melhor preço, leva. Ganhei umas e perdi outras.”

Junot disse que a conversa com o deputado durou cinco minutos, oportunidade em que apresentou a Eduardo um dos produtos desenvolvidos pela empresa. “Uma tinta blindada, que pode ser útil para um monte de coisas. Ele ficou com uma amostra, mas nunca me ligou de volta.”

APARTIDÁRIO – O responsável pela Combat Armor no Brasil disse que os negócios da empresa não têm qualquer relação com a política e que “não é partidário”.Segundo Junot, Daniel Beck nunca conversou com Bolsonaro ou seus filhos, e as posições políticas do americano não têm relação com os negócios da Combat Armor. “Isso é briga dele com o pessoal lá [democratas, opositores de Trump].”

Beck viveu em Brasília entre 1999 e 2002 para uma missão da maçonaria e circulou pelos estados de Mato Grosso, Tocantins e Goiás. Após Bolsonaro se eleger presidente, Beck voltou algumas vezes ao país. Em outubro de 2019, ele tirou fotos com carros da PM do Rio. No ano passado, esteve no Brasil duas vezes: em fevereiro, quando visitou sua fábrica e posou ao lado de viaturas da Polícia Rodoviária Federal, e em outubro.

No Facebook, ele se identifica como CEO da Txtwire, empresa que desenvolve software para envio de mensagens de texto em massa e gerenciamento de campanhas de marketing. Seu perfil é lotado de vídeos e propagandas de Trump.Junot disse que em 2018 ofereceu a Beck e seus familiares uma oportunidade de negócios no Brasil. “Mas não tem nada a ver com a chegada de Bolsonaro ao poder, se fosse governo Lula também ofereceria o mesmo negócio.”

OPORTUNIDADE –  Em novembro do ano passado, porém, em entrevista à revista Quatro Rodas, Junot afirmou que previu novas políticas de segurança pública no Brasil e uma boa oportunidade de voltar e fornecer material às forças estaduais a partir das eleições de 2018. A portaria nº 94 do Exército, publicada em agosto de 2019, facilitou o processo de blindagem de viaturas.

O administrador brasileiro da Combat Armor disse que passou mais de uma década fornecendo soluções de blindagem às Forças Armadas dos EUA durante a Guerra do Iraque. Sobre a hipótese de interferência política na escolha da Combat Armor, o Ministério da Defesa informou, em nota, que o processo licitatório “cumpriu exclusivamente os requisitos legais e técnicos”.

PREGÃO ELETRÔNICO – O  A Polícia Rodoviária Federal, por sua vez, disse que uma licitação “prevê cadastramento das empresas por intermédio do SICAF/Comprasnet [ferramenta do governo federal para a realização de licitações], onde todo o procedimento é feito por meio eletrônico e com apresentação de propostas em pregão eletrônico aberto a qualquer empresa que queira participar”.

A assessoria de imprensa da PM do Rio de Janeiro afirmou que na licitação vencida pela Combat Armor “cumpriu-se todos os preceitos técnicos” contidos na legislação e “demais normas pertinentes ao assunto”. Disse ainda que a empresa venceu a seleção, “após a inabilitação de uma empresa concorrente por descumprimento das qualificações técnicas e econômico-financeiras exigidas no edital”.

segunda-feira, abril 05, 2021

Chefe da PF no Amazonas acusa o ministro Ricardo Salles de se empenhar por madeireiros devastadores


Charge do Amarildo (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Numa entrevista a Camila Mattoso, Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, afirmou ter recebido uma indagação do ministro Ricardo Salles sobre uma apreensão de 200 mil metros cúbicos encontrados no Pará, tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado.  

Alexandre Saraiva diz ter recebido com surpresa o questionamento de Ricardo Salles, pois pela primeira vez um ministro do Meio Ambiente se manifesta de maneira contrária a uma ação que visa proteger a Floresta Amazônica.

VERIFICAÇÃO DE APREENSÃO – O ministro Ricardo Salles foi na quarta-feira, dia 30, ao Pará, onde fez uma espécie de verificação do que foi apreendido, assinalando preocupação com o resultado de uma apreensão da própria Polícia Federal. Salles apontou falhas na ação e tem dito que há elementos para achar que as empresas investigadas estão com a razão.

 Alexandre Saraiva se espantou e disse a Camila Mattoso, na entrevista, que o ministro do Meio Ambiente se preocupar com tal fato, a ponto de dizer que as empresas acusadas tinham razão em desmatar seria a mesma coisa “que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”.

AÇÃO CRIMINOSA – Saraiva destaca que tudo que foi apreendido era produto de ação criminosa, inclusive porque no caso dos 200 mil metros cúbicos de madeira, as empresas atingidas até agora não recorreram contra o fato. Saraiva disse que há mais de dez anos ocupa o cargo de superintendente na Amazônia, abrangendo Roraima, Maranhão, Amazonas e Pará. Os desmatamentos configuram ações criminosas e, portanto, têm que ser objetos de reação por parte da Polícia Federal e do governo brasileiro.

Saraiva acrescentou que na Polícia Federal “não vai passar nenhuma boiada”, frase que Ricardo Salles se referiu durante a reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando se dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro: “Vamos aproveitar o momento que a imprensa está voltada para a pandemia para fazer passar a boiada”, disse na ocasião.

NA ORDEM DO DIA – O tema, como todos sabem, está na ordem do dia vinculado ao aquecimento global e à proteção do meio ambiente. Inclusive, Jair Bolsonaro foi convidado pelo presidente Joe Biden a participar de encontro internacional pela internet sobre as queimadas e os desmatamentos não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Este é um panorama geral do que acontece na Amazônia brasileira e é um bom tema para o jornalista André Trigueiro, comentarista da GloboNews, especializado na questão que envolve a defesa do verde no Brasil.

ALIANÇA – Na edição de ontem de O Globo, o repórter Gustavo Schmitt revela que começaram as articulações e os entendimentos no sentido de que o Centro, distanciado do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula, consiga formar uma aliança e escolher um candidato para que não se repita a polarização que ocorreu nas urnas de 2018.

Estão empenhados no projeto, além de Ciro Gomes, o governador João Doria, o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, o apresentador da TV Globo, Luciano Huck, o empresário João Amoêdo e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta. As articulações incluem também o deputado Rodrigo Maia e o prefeito Eduardo Paes.  

Para o professor Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas, a ideia é boa, mas a presença de Ciro Gomes no movimento pode criar obstáculos. Em decorrência da sua própria personalidade e também do fato de que, de todos dessa iniciativa, é o mais distante do ponto de vista ideológico que seus integrantes têm da economia, uma vez que Ciro Gomes tem o pensamento voltado para ação estatal no desenvolvimento econômico e social brasileiro.

CALENDÁRIO APERTADO – Grin diz que o calendário já está apertado e que o melhor caminho para o movimento é lançar-se publicamente no mês de outubro, um ano antes das eleições de 2022. “Há que se ter pressa, já que a polarização aumenta a cada dia”, disse.
 
Entretanto, na minha opinião, João Doria e Eduardo Leite vão encontrar dificuldades de se integrar no movimento. Isso porque com o lançamento da candidatura de Lula, os dois governadores logicamente vão disputar a reeleição em São Paulo e no Rio Grande do Sul apoiando uma candidatura presidencial, sendo que João Doria não poderá optar por Jair Bolsonaro.  

No Rio de Janeiro, o deputado Marcelo Freixo, matéria de Bernardo Mello, afirmou ter iniciado articulações para formar uma chapa contra o candidato que vier a ser lançado por Bolsonaro. Trata-se, disse, de uma união das forças democráticas contra o atual presidente da República que representa uma ameaça à própria democracia.

DÍVIDAS – Idiana Tomazelli, o Estado de São Paulo de ontem, revela em sua reportagem que as dívidas das igrejas evangélicas com o INSS e o Imposto de Renda já atingem R$ 1,9 bilhão. Uma parte, inclusive, está inscrita na Dívida Ativa da União. Em alguns casos, como é o caso da corrente do bispo R. R. Soares, foram efetuados descontos nos salários, mas não houve recolhimento ao INSS. Idiana Tomazelli acentua que nesse caso existe o crime de apropriação indébita.

As dívidas das igrejas incluem também o não recolhimento da parte que cabe aos empregadores (20% sobre a folha de salários) e também o não recolhimento, como ela frisou, das contribuições dos empregados.

Até o momento, pela lei, a contribuição de religiosos para com os templos estão sujeitas à incidência das contribuições para a Previdência Social. O secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neves, já desenvolveu diálogos com os devedores. Além da contribuição patronal, os empregados têm a obrigação de contribuir para o INSS à base de 7,5 % para os salários menores até 14% para os salários de R$ 6,4 mil.


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