Publicado em 1 de agosto de 2024 por Tribuna da Internet
Andrés Oppenheimer
Estadão
Nas minhas quatro décadas cobrindo eleições na América Latina, vi muitas eleições fraudulentas. Mas o que aconteceu em 28 de julho na Venezuela tem todas as características de ser a maior de todas as fraudes eleitorais.
Na maioria das eleições fraudulentas, os autocratas manipulam a contagem de votos para roubar um, dois ou três pontos percentuais para que possam reivindicar a vitória. Mas, na Venezuela, Nicolás Maduro quebrou todos os recordes: inventou 40% dos votos, de acordo com contagens da oposição e pesquisas de boca de urna.
UMA SURPRESA – O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, surpreendeu os observadores com o anúncio na madrugada de segunda feira de que Maduro teria vencido com 51,2% dos votos, contra 44,2% do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.
A líder da oposição, María Corina Machado, que apoiou González Urrutia depois de o regime de Maduro a ter impedido de disputar a eleição, disse que as atas nas mãos da oposição mostram que González Urrutia obteve 70% dos votos, contra 30% de Maduro. Foi a maior margem de vitória na história das eleições venezuelanas, disse Corina Machado.
Em primeiro lugar, todas as pesquisas críveis antes da eleição mostraram que o candidato da oposição, González Urrutia, tinha uma vantagem de pelo menos 25 pontos percentuais em relação a Maduro. Uma pesquisa pré-eleitoral da consultoria ORC deu a González Urrutia 60% dos votos, contra 14,6% de Maduro.
BOCA DE URNA – Em segundo lugar, uma pesquisa realizada no dia das eleições pela Edison Research, a respeitada empresa que realiza pesquisas para as principais redes de televisão dos Estados Unidos e de outros países, concluiu que González Urrutia obteve 64% dos votos, enquanto Maduro obteve apenas 31%. A pesquisa de boca de urna da Edison Research entrevistou 6.846 eleitores em 100 centros de votação em toda a Venezuela.
Os resultados oficiais anunciados pelo regime venezuelano “são completamente contrários ao que mostrou a nossa pesquisa de boca de urna”, disse o vice-presidente executivo da Edison, Rob Farbman, à estação de rádio colombiana FM. A pesquisa mostrou que “foi basicamente uma vitória esmagadora de González (Urrutia) e da oposição”, acrescentou ele.
Terceiro, na noite das eleições, o regime de Maduro atrasou o primeiro anúncio dos resultados por seis horas e proibiu os representantes da oposição de acessar os centros de contagem do Conselho Nacional Eleitoral.
SEM RESULTADOS – Mais importante ainda, as autoridades eleitorais de Maduro se recusaram a divulgar os resultados por local de votação ou por urna, conforme exigido pela lei venezuelana.
Já antes das eleições, Maduro tinha negado o direito de voto a cerca de 4,5 milhões de venezuelanos que viviam no estrangeiro, a maioria dos quais são opositores do governo e representam mais de 20% do total de eleitores do país. Além disso, impediu Machado de se candidatar, prendeu ativistas da oposição e censurou a mídia.
“Este foi o maior roubo eleitoral da história moderna da América Latina”, disse-me o ex-presidente boliviano Jorge Tuto Quiroga, que foi convidado pela oposição a observar as eleições juntamente com outros ex-presidentes, mas não conseguiu entrar no país.
PROTESTOS – Resta saber se Maduro conseguirá o que quer. A história está repleta de exemplos de autocratas que tentaram roubar eleições e, mais cedo ou mais tarde, pagaram um preço alto.
O ex-presidente populista da Bolívia, Evo Morales, fraudou as eleições de 2019 e logo foi forçado a renunciar devido a uma combinação de protestos em massa e pressão internacional. Algo semelhante aconteceu na Ucrânia em 2004.
As dúvidas a respeito dos resultados oficiais de Maduro só continuarão a crescer enquanto ele não divulgar os registros detalhados por centro de votação. Se Maduro tivesse vencido, deveria ser o primeiro interessado em mostrar esses registros eleitorais ao seu país e ao mundo, para demonstrar a sua suposta vitória. Mas ele os escondeu, o que é mais uma prova da grotesca fraude que acaba de cometer.
(Artigo enviado por José Carlos Werneck)