Publicado em 2 de março de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
O general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército no final do governo de Jair Bolsonaro, depois nesta quarta-feira na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, na condição de testemunha.
Quando afirmamos aqui na Tribuna da Internet que o chefe militar precisava ser ouvido o mais rápido possível, para a opinião pública saber se ele se comportou com um herói ou como traidor do golpe, o oficial estava de férias na Espanha. Mas abreviou a viagem para prestar o depoimento.
O GENERAL ERRADO – Ainda não se sabe se a conspiração era liderada por Bolsonaro ou pelo núcleo duro do Planalto, formado por Braga Netto, Augusto Heleno e Mauro Cid, porque o general Eduardo Ramos parece ter sido escanteado, ninguém fala na possibilidade de envolvimento dele, que nem está sendo investigado.
Quando foi convocado para assumir o comando do Exército e passou a ser a peça-chave da conspiração do golpe que não houve, Freire Gomes era tido como ferrenho opositor a Lula da Silva.
Mas isso não representava a menor novidade, porque na corporação a coisa mais difícil é encontrar um oficial simpático a Lula. Aliás, se existir algum, é praticamente impossível identificá-lo, porque ele tem de fingir ser antilulista, para não se prejudicar na carreira.
Escolher Freire Gomes foi um erro de avaliação de Bolsonaro e/ou do núcleo duro, porque na hora da verdade, o general mostrou ser mais legalista do que golpista e levou o Alto Comando a rejeitar a conspiração.
DUAS HIPÓTESES – Há muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu. O comandante do Exército pode ter dado corda aos golpistas e informado passo a passo ao Alto Comando. Se assim fez, estrategicamente, isso evidenciaria uma situação.
Mas Freire Gomes pode ter apoiado inicialmente o golpe e depois refluído, ao perceber que não se tratava de evitar a posse de Lula, mas na verdade de criar uma tempestade ideal para implantar nova ditadura militar e destruir a democracia. E esta seria uma segunda situação.
Na verdade, não importa se o comandante Freire Gomes se infiltrou ou se traiu a conspiração. O importante é que se deve a ele, com sua autoridade no Alto Comando, a posição legalista do Exército, que impediu a derrubada de Lula.
MUITAS DÚVIDAS – Agora, é preciso eliminar as dúvidas. Acusado de ser o único quatro estrelas da ativa a apoiar o golpe, o general Estevam Theóphilo, então chefe do Comando de Operações Terrestres, nega (Coter) ter participado da trama golpista.
Em seu depoimento, Theóphilo teria afirmado que cumpriu ordens do então comandante Freire Gomes, ao se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em dezembro de 2022, após a derrota eleitoral.
Seu advogado diz que o general Theóphilo “nunca cogitou, nunca participou, nunca colaborou, nunca manifestou, nunca influenciou e nunca concordou com nenhum ato ou atitude golpista”. Mas isso não afasta a possibilidade de Freire Gomes ter usado o general Theóphilo para obter informações sobre o andamento da trama.
P.S. – De qualquer forma, essas dúvidas e outras mais serão esclarecidas no decorrer do período, como dizem os meteorologistas. É preciso ter calma e esperar os vazamentos, que logo começarão a acontecer. (C.N.)