Pedro do Couto
Nas edições de ontem, quinta-feira, a Folha de S. Paulo e O Globo, publicaram reportagens de extraordinária importância sobre o desmatamento verificado na Amazônia nos últimos 12 meses, que no período de novembro de 2021 a novembro de 2022 abrangeu mais de dez mil quilômetros quadrados, e esses números atemorizante representam 11% a menos do que foi desmatado e incendiado de 2020 para 2021.
No governo Bolsonaro o desmatamento soma uma extensão dez vezes maior do que a Cidade do Rio de Janeiro. Na Folha de S. Paulo, a reportagem é de Ana Carolina Amaral, Felipe Watanabe e Lucas Lacerda. No O Globo, é de Rafael Garcia.
REFLEXOS – O destaque com que as duas matérias foram publicadas está na razão direta da importância do problema, sobretudo no Brasil, mas cujos reflexos estendem-se a uma questão realmente mundial, que é o problema do clima e o combate ao aquecimento global. Esse último ameaça principalmente as áreas geladas sujeitas à uma catástrofe com o derretimento das superfícies congeladas. Mas o problema não é apenas esse.
O desmatamento representa também a violação sistemática da legislação brasileira numa região de fundamental importância, tanto na oxigenação do mundo, quanto numa barreira do aquecimento que coloca em risco a vida humana em um futuro não muito remoto. Os desmatadores e os criminosos vendedores da madeira, sem encontrar um freio, vêm acrescentando a dimensão do problema.
A facção criminosa da motosserra, vê-se agora, não para de avançar nas reservas ambientais que são propriedades do Brasil e que também influem decisivamente no relacionamento internacional que já fixou metas e métodos de combate ao descalabro. Os dados sobre o desmatamento de 2021 a 2022 são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As pesquisas são acompanhadas por amplo material fotográfico, e os registros não dão margem à dúvida.
CRIME ORGANIZADO – O ataque sistemático às florestas verdes da Amazônia foi comentado também pelo jornalista André Trigueiro, especializado no assunto, no programa Em pauta, da Globo News. É incrível como a realidade predominante não sensibilizou o governo Jair Bolsonaro.
Pelo contrário, Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, não tomou qualquer providência e terminou sendo afastado do cargo, mas se elegeu deputado federal. Agora, o problema do desmatamento será enfrentado pelo governo Lula a partir de janeiro de 2023.
BALANÇO GERAL – Os grupos de transição que estão se reunindo em Brasília, no Centro Cultural do Banco do Brasil, na minha opinião, independentemente dos relatórios setoriais, devem fornecer ao presidente eleito, Lula da Silva, um relato geral sobre a situação em que o novo governo vai encontrar o país.
O desmatamento está incluído nas prioridades, ao lado da fome, do congelamento salarial, do desemprego, do emprego informal através do qual não há contribuições para o INSS e para o FGTS, e a formação do novo comando militar que, ao que tudo indica, será preenchido pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica junto ao futuro ministro da Defesa Múcio Monteiro.
MANIFESTAÇÕES – Há também a questão das manifestações nas portas dos quartéis, que inclusive deu margem a um desentendimento entre o presidente Bolsonaro e a deputado Carla Zambelli. Bolsonaro e Zambelli participaram de um jantar na terça-feira em Brasília, promovido pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto.
Jussara Soares e Daniel Gullino, O Globo de ontem, revelaram o desentendimento ocorrido que levou Bolsonaro a interromper o jantar e se retirar do restaurante. A deputada paulista, bolsonarista exaltada, perguntou a Bolsonaro qual a orientação que ele deve dar aos adeptos radicais que organizam e participam das manifestações.
Bolsonaro não deu resposta e deixou imediatamente o local contrariado. Logo, Bolsonaro não tinha resposta, demonstrando que os empresários que financiam as movimentações e os que se movimentam para impedir a vontade das urnas, também estão no ar. Mas os ventos que sopram em Brasília não os incentiva.