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sexta-feira, maio 06, 2022

Diretora da OMS diz que mortes por covid são mais do que o anunciado

 



Existem hoje 6,2 milhões de óbitos relatados oficialmente

Por Alana Gandra 

Na situação global da pandemia da covid-19, incluindo a variante Ômicron, existem 6,2 milhões de óbitos relatados, com 511 milhões de casos acumulados. Mas, de acordo com a diretora técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Covid-19, Maria Van Kerkhove, o número de mortes pela doença deve ser três vezes maior, devido à ausência de testes. A informação foi dada pela diretora durante palestra na reunião magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), realizada hoje (5), no Rio de Janeiro, cujo tema principal foi o papel da ciência na construção do futuro.

Segundo a epidemiologista, cada país está enfrentando uma situação diferente com a covid-19. Existem vários fatores para que isso aconteça. “Tem a ver com a estratégia passada e a atual, a epidemiologia atual e a circulação do vírus, os dados demográficos da população, os níveis de imunidade da população com vacinação, se há prevalência alta da imunização, entendendo a complexidade da imunidade, se ainda precisa muita pesquisa, o acesso a ferramentas que salvam vidas e a capacidade de se ajustar”, enumerou Maria Van Kerkhove.

Segundo a diretora da OMS, um dos grandes problemas percebidos na pandemia foi a falta de confiança da ciência e do público. Outro entrave é a falta de vacinação completa nas populações acima de 60 anos de idade, percebida em muitos países, ou que ainda não tiveram nenhuma dose.

Na África do Sul, por exemplo, ela disse que a cada onda nova da covid-19, houve cobertura vacinal muito baixa. Já na Coreia do Sul, identificou-se alto nível de cobertura vacinal, seguindo uma estratégia de covid zero, que resultou na modernização do sistema de saúde pública e investimentos em recursos humanos.

Otimização

A epidemiologista criticou o fato de alguns países terem aberto mão das máscaras contra a covid-19, principalmente em locais fechados. Segundo Maria Van Kerkhove, há muita desinformação e politização, que diminuíram a eficácia dessas medidas. “Eu nunca tinha visto isso antes”, disse, referindo-se a todas as suas experiências em surtos.

Ela mencionou também as políticas de desinformação em alguns países, que provocaram muitas mortes pela doença. Maria Van Kerkhove disse que a pandemia não acabou e o que é preciso fazer é otimizar as estratégias global e nacional, alguns objetivos principais: prevenir o diagnóstico, tratar a doença e reduzir a morbidade e a mortalidade, além de diminuir também a transmissão, o que inclui a proteção à exposição, principalmente dos mais vulneráveis, daqueles que não foram vacinados. É preciso, ainda, segundo a epidemiologista, reduzir o risco da emergência de variantes. “Focar em apenas uma (variante) gera um sentido de falsa segurança, porque não sabemos qual será o custo das variantes”.

A expectativa da OMS é que o vírus vai continuar evoluindo. “Esperamos com uma severidade baixa, porque temos ferramentas e vacinação, imunização populacional aumentando”, disse. Ela aposta que veremos surtos menores entre aqueles que não estão protegidos. “Teremos uma sazonalidade, porque é um patógeno respiratório”, disse.

O pior cenário prevê uma variante mais transmissível e letal, em que será necessário fazer uma revisão grave das vacinas e impulsionar a vacinação nas populações mais vulneráveis, alerta. Há também um bom cenário, no qual as variantes são menos severas e apenas mantemos as proteções já existentes.

Maria Van Kerkhove disse que a OMS está se preparando ainda para um quarto cenário, que seria o surgimento de um vírus tão diferente que toda a população global estaria suscetível a ele. “A gestão do pós-covid será essencial nesse cenário”.

Muitos estudos já estão relatando as consequências da covid-19, incluindo condições graves cerebrais, cardíacas e nos pulmões, disse.

Testagem

Maria Van Kerkhove citou entre as principais áreas foco da OMS a vigilância e as estratégias de testagem, que caíram drasticamente. “Isso é importante para prever o vírus. Nós precisamos garantir que isso seja mantido”.

Em termos de vacinação, a meta da OMS é atingir 70% das populações de todos os países imunizados. E, dentro desses 70%, atingir 100% dos profissionais de saúde e indivíduos com comorbidades. “A cobertura vacinal está bem menor do que deveria ser em alguns países, principalmente na África”, alertou.

A epidemiologista disse que com os avanços das vacinas contra a covid-19 que já temos, e o desenvolvimento das futuras vacinas para a doença, tem sido um triunfo científico. Uma das coisas boas que ela viu nessa pandemia foi a solidariedade global entre cientistas.

Segundo a diretora da OMS, foram distribuídas globalmente 11,7 bilhões de doses de vacinas, com 41 milhões de doses sendo administradas diariamente, mas só 59% das pessoas completaram a vacinação principal e só 13% nos países de baixa renda. “Trata-se de acesso, não de caridade”, disse.

Maria Van Kerkhove disse que há muito trabalho a ser feito. E que é preciso criar sistemas para o futuro, com investimentos sustentáveis, porque ninguém está seguro até que todos estejam seguros. “E esses sistemas têm que ser eficientes localmente, para depois ganhar âmbito maior. A preparação para a pandemia não vai parar. E a testagem é o caminho para o futuro”.

Agência Brasil

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Covid-19 matou três vezes mais que o registrado, diz OMS

Estudo mais abrangente já realizado sobre os números da pandemia revela discrepâncias em relação aos dados oficiais divulgados pelos países. Segundo a OMS, quase 15 milhões morreram no mundo devido ao coronavírus.

Quase três vezes mais pessoas morreram em todo o mundo em decorrência da covid-19 do que mostram os dados oficiais. A conclusão está em um novo relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considerado a análise mais abrangente já realizada sobre os números reais da pandemia.

Segundo o relatório divulgado nesta quinta-feira (05/05), cerca de 14,9 milhões de pessoas morreram no mundo em decorrência do coronavírus, direta ou indiretamente.

Esse total corresponde ao excesso de mortalidade entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, e mede a diferença entre as mortes globais e uma projeção do que teria ocorrido se a pandemia não tivesse surgido. Essa avaliação se baseou em números de anos anteriores e inclui pacientes que não tiveram acesso a cuidados de saúde, já que os recursos estava concentrados na luta contra o coronavírus.

Os novos dados da OMS acrescentam 9,4 milhões de mortes às que estavam registradas como associadas diretamente à covid-19. A entidade avalia como mortes indiretamente associadas à doença as que ocorreram devido ao impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade, assim como as que resultaram de outras doenças para as quais as pessoas não conseguiram prevenção ou tratamento devido à sobrecarga nos sistemas de saúde.

Os dados sobre o excesso de mortalidade também levam em conta as mortes que foram evitadas durante a pandemia, como, por exemplo, em razão do menor risco de mortes no trânsito devido aos lockdowns em muitos países.

Os números são ainda mais altos do que as contagens oficiais, porque em muitos países houve subnotificação das mortes, em razão de falhas nos registros e da baixa testagem da população. A OMS calcula que, antes mesmo da pandemia, seis em cada dez mortes não eram devidamente registradas.

Índia registra maiores discrepâncias

Segundo a OMS, quase a metade das mortes que ainda não haviam sido contabilizadas ocorreu na Índia. O relatório sugere que o país registrou 4,7 milhões de óbitos associados à covid-19, principalmente entre maio e junho de 2021. O governo indiano, porém, afirma que ocorreram 480 mil mortes ligadas ao coronavírus entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021. 

Segundo o relatório, 84% das mortes em excesso ocorreram no sudeste da Ásia, Europa e América, com 68% dos óbitos concentrados em 20 países, incluindo Brasil, Índia, Rússia, Alemanha, Itália e Indonésia.

Mais de 80% das mortes em excesso aconteceram em países de renda média-baixa ou média-alta. Nos países com rendimentos mais altos, o excesso de mortalidade atingiu 15%, e nos países de baixa renda, 4%. Mais homens (57%) do que mulheres (43%) morreram direta ou indiretamente em razão da pandemia.

O painel da OMS responsável pelo relatório é formado por especialistas internacionais que trabalharam por meses nos dados coletados, utilizando uma combinação de informações regionais e nacionais, assim como modelos estatísticos, para calcular os totais onde os dados estavam incompletos – uma metodologia criticada pela Índia.

Contudo, outras avaliações independentes também estimam que o número de mortes na Índia seria bem maior do que o divulgado pelo governo. Estudos diferentes também chegaram a conclusões semelhantes às da OMS em relação às mortes globais, com números bem acima das estatísticas oficiais.

O diretor geral da OMS, Tedros Adhanon Ghebreyesus, destacou que os números revelados pelo estudo demonstram a importância de investimentos nos sistemas de saúde, para que os serviços sejam capazes de funcionar adequadamente durante as crises sanitárias.

Deutsche Welle

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