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segunda-feira, maio 02, 2022

Com um enorme passado pela frente, Lula e Bolsonaro fogem de sabatina




Por Josias de Souza

Lula ou Bolsonaro?, eis a pergunta que se insinua como inevitável nas pesquisas de opinião. Até num exame vestibular o sujeito pode optar por uma entre quatro alternativas. Na eleição presidencial, porém, a conjuntura esfrega na cara do brasileiro a pergunta única.

UOL e Folha serviram ao eleitorado uma rodada de sabatinas com pretendentes ao trono presidencial. Lula e Bolsonaro não deram as caras. A fuga é um prenúncio do que está por vir. Os líderes nas pesquisas só devem participar de debates em caso de extrema necessidade.

Há 20 anos, em março de 2002, Lula já reclamava dos debates: "O formato no qual aparecem dez candidatos respondendo por dois minutos já se mostrou ineficaz."

Em 2018, Bolsonaro ecoou a mesma crítica. À frente de sua campanha, Gustavo Bebianno declarou que o capitão estava "de saco cheio desses debates inócuos, que não levam a nada. Não vale a pena comparecer."

A crítica ao modelo tradicional de debates é procedente. Mas o problema não foi criado pelos meios de comunicação. Os confrontos foram engessados pela legislação eleitoral e pelo esforço das assessorias para proteger os candidatos atrás de regras draconianas que inibem o contraditório.

Mantendo-se na rota de fuga, os candidatos terão de ajustar os argumentos para justificar a eventual ausência nos debates que UOL e Folha programaram para a internet. Serão livres de comerciais e das amarras impostas pela legislação às emissoras de TV aberta. O modelo será o de banco de tempo. Nele, os candidatos administram a duração de suas respostas ou comentários, sacando do respectivo saldo a quantidade de tempo que desejarem. Estrepa-se quem chega ao final do debate sem fundos no banco de tempo.

Lula sugeria em 2002 um formato mais direto: "Por que não fazemos debates como no futebol, com disputas dois a dois?" Hoje, um tête-à-tête com Bolsonaro seria de enorme serventia. Mas a lei só autoriza o mano a mano no segundo turno.

O petista mostrava-se aberto também às sabatinas: "Podemos pensar na volta do palanque eletrônico. O cara senta diante de jornalistas e personalidades e responde a perguntas feitas por eles e pelos telespectadores."

Agora, embora seu presidenciável faça campanha em tempo integral, o PT alega que Lula não pode participar de sabatinas porque ainda não é um candidato formal. O pretexto não faz jus às palavras daquele Lula que prevaleceu nas urnas de 2002: 

"A gente precisa botar na cabeça que a eleição é uma oportunidade para estimular a consciência política do povo. As baixarias e a falta de debate destinam-se a evitar que isso aconteça."

No fundo, Lula e Bolsonaro não implicam com o formato de debates e sabatinas. Implicam mesmo é com a perspectiva de serem questionados, pois não há modelo capaz de transformar debate em palanque.

Bolsonaro faz comícios até nos salões do Planalto. Lula atiça sua rouquidão em encontros partidários e entrevistas edulcoradas. Ambos dispõem de suas próprias mídias. 

Na última terça-feira, quando concedia uma de suas entrevistas companheiras, Lula foi agraciado com inúmeras levantadas de bola e um gol contra. Um dos inquisidores quis saber: 

"O senhor pretende estabelecer, com esse passo de hoje, uma proximidade maior com nós (sic), que fazemos esse trabalho que o Allan dos Santos [blogueiro bolsonarista foragido da polícia) faz, mas do lado oposto?" Lula se absteve de responder.

O Brasil vive uma fase peculiar de sua história. Ao observar o cenário da campanha de 2022, o eleitor vê um enorme passado pela frente.

A maioria oscila entre um ex-presidente do mensalão e do petrolão e um presidente apologista da ditadura e cultor do golpe. A ausência de contraditório e o nanismo das candidaturas alternativas não ajudam a distinguir certos candidatos do candidato certo.

Blog do Josias de Souza

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