Mateus Vargas e Ricardo Della Coletta
Folha
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (5) que uma empresa contratada pelo PL irá fazer uma auditoria privada das eleições deste ano. No momento em que amplia os questionamentos ao processo eleitoral e faz insinuações golpistas, Bolsonaro sugeriu, em tom de ameaça, que os resultados da análise podem complicar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se a empresa constatar que é “impossível auditar o processo”.
“[A empresa] pode daqui a 30, 40 dias, chegar à conclusão que, dada a documentação que tem na mão, dado o que já foi feito até o momento para melhor termos eleições livres de qualquer suspeita de ingerência externa, pode falar que é impossível auditar e não aceitar fazer o trabalho”, disse Bolsonaro durante sua transmissão semanal nas redes sociais. “Olha a que ponto podemos chegar”, afirmou.
CITOU MINISTROS – Na sequência, Bolsonaro disse que “estamos vendo o TSE”, além de os ministros da corte, “ficarem numa situação bastante complicada”. Ele citou o presidente do tribunal, Edson Fachin, além de Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski.
O novo capítulo da ofensiva do presidente contra o sistema eleitoral foi feito no mesmo dia em que o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pediu que o TSE divulgue os questionamentos feitos pelas Forças Armadas sobre o pleito deste ano.
Os militares têm cobrado mudanças no sistema eleitoral desde que foram convidados, no ano passado, a integrar a CTE (Comissão de Transparência das Eleições). Em fevereiro, o tribunal publicou em seu site documento com respostas a uma série de questionamentos das Forças Armadas, mas segue sob sigilo um documento com cobranças feitas mais recentemente.
DISSE BOLSONARO – “Deixo claro, adianto ao TSE, essa auditoria não vai ser feita após as eleições. Uma vez contratada, a empresa começa a trabalhar, a empresa vai pedir ao TSE, com toda certeza, quantidade grande de informações. Ela vai pedir às Forças Armadas o trabalho que fez até agora”, disse o presidente.
Bolsonaro não afirmou qual empresa será contratada para a auditoria. Disse apenas que se trata de firma que faz este serviço “no mundo todo”. Afirmou ainda que pode “pedir socorro” a outros partidos para pagar a análise, “se ficar muito caro”.
Atualmente, os partidos políticos já podem indicar técnicos para acompanhar as fases de especificação e de desenvolvimento de todos os programas de computador do TSE utilizados nas urnas eletrônicas e para o processo de votação. Pelas normas, os códigos-fonte usados nas urnas precisam estar disponíveis para verificação da sociedade civil e partidos um ano antes da realização do primeiro turno.
ADVOGADO DESCONHECE – Procurado, o advogado da campanha de Bolsonaro, o ex-ministro do TSE Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, disse desconhecer informações sobre a contratação da empresa mencionada pelo presidente. A assessoria do PL afirmou, por sua vez, não ter detalhes sobre o tema.
“É o momento para o TSE mostrar para o mundo, a partir dessa empresa que vai fazer auditoria, que temos sistema mais confiável no mundo no tocante às eleições”, declarou o presidente.
Ele afirmou duas vezes durante a transmissão que não deseja dar um golpe. “Ninguém quer dar golpe. Alguns dizem que quero dar golpe. Como quero dar golpe se já sou presidente?”
VITÓRIA DE LULA – Em tom irônico, Bolsonaro afirmou que o trabalho da auditoria externa pode garantir a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas ao Planalto.
“A gente vê no mundo, nas republiquetas, o chefe do Executivo conspirar para ficar no poder, cooptar órgãos para fraudar eleições. Aqui é exatamente o contrário”, disse Bolsonaro.
“Já que pesquisas dizem que o senhor Lula tem 40%, o Lula vai ganhar, quero garantir a eleição do Lula com esse processo aqui [de auditoria].”
IRONIZANDO TSE E STF – “Ninguém precisa fazer campanha pro Lula, não. Não precisa, por exemplo, uma autoridade ou outra, que a gente vê acontecendo, ficar desmonetizando páginas de pessoa que nos apoiam, retirando páginas de pessoas que nos apoiam, ameaçando ou prendendo pessoas que nos apoiam”, afirmou ainda, referindo-se a decisões do TSE e STF que atingiram seus apoiadores.
O TSE vem adotando uma série de medidas para ampliar a transparência do sistema eletrônico de votação na tentativa de esvaziar o discurso do chefe do Executivo de que as urnas são passíveis de fraudes.
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro cobrou que o TSE aceite as sugestões das Forças Armadas para o processo eleitoral. Uma das sugestões, segundo ele, seria que os militares acompanhassem a apuração final dos votos, no dia das eleições.
DIRETOR DA CIA – Ainda na mesma transmissão, Bolsonaro e o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, negaram que o diretor da CIA, William Burns, disse a autoridades do governo brasileiro que o presidente não deveria questionar as eleições.
“Seria extremamente deselegante um chefe de agência como a CIA ir a outro país, vir ao Brasil, para dar recado. A gente vê que é uma mentira, uma fake news”, declarou.
O presidente disse que a notícia sobre a cobrança do governo dos EUA pode ser uma forma de “criar narrativa plantada fora do Brasil” no momento em que a Defesa cobra a divulgação de seus questionamentos sobre as urnas. “Já é um tempo bastante longo que o TSE não se manifesta no tocante a isso [os questionamentos das Forças Armadas]”, afirmou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Caramba! Deu a louca no mundo! Se Bolsonaro estiver desobedecendo a CIA, só pode ter se tornado comunista sem ninguém perceber, conforme fica evidenciado pelo seu apoio a Vladimir Putin. Ha-ha-ha! (risada gráfica de Helio Fernandes) Só falta agora Bolsonaro fazer visita oficial a Cuba e Venezuela. É aí que mora o perigo neste mundo cada vez mais louco. (C.N.)