Pedro do Coutto
O ex-presidente Lula, candidato à sucessão deste ano, deu uma entrevista à revista Time, uma das mais importantes do mundo, e foi capa da edição desta semana da publicação. Foi destacada a sua importância como um líder político brasileiro e como aquele que recebe maciço apoio popular. É verdade.
Mas Lula da Silva conseguiu apagar a repercussão que o favorecia, afirmando à revista que no caso da Ucrânia, brutalmente invadida pela Rússia, o presidente Zelensky é tão culpado quanto Putin pela guerra e devastação de regiões inteiras ucranianas numa ofensiva que tem como objetivo depor o governo e, ao que tudo indica, arrasar o país.
MOBILIZAÇÃO – A ofensiva russa está recebendo a condenação em cerca mais de 80% da opinião pública mundial, numa reação que se reflete na mobilização de uma série de países de apoio ao regime de Kiev. Lula da Silva com a sua declaração, projetando a sua atitude no panorama do futebol, desperdiçou um pênalti a seu favor, batendo-o para fora.
O pênalti a seu favor, na realidade, só pode ter sido contra Bolsonaro, o único rival que tem pela frente nas urnas. A declaração de Lula foi considerada mais um tropeço pelos seus próprios aliados e, na minha opinião, repercute contra a imagem do candidato do PT. Não ao ponto de causar a sua derrota nas eleições, mas sem dúvida abala a sua campanha.
Lula terá que fazer um esforço ou se empenhar em uma nova versão para reduzir os efeitos negativos do que afirmou. Reportagem de Guilherme Caetano, Elaine Oliveira e Bela Megale, O Globo desta quinta-feira, focaliza detalhadamente o episódio e sua entrevista à revista Time.
ABSURDO – Lula lembrou que também havia criticado Putin, mas isso nada tem a ver com sua visão sobre a guerra da Ucrânia, e muito menos com a opinião de que o invadido Zelensky é tão responsável quanto o invasor Putin. Não há como explicar o absurdo, a não ser lendo o artigo de Malu Gaspar no O Globo de ontem, no qual ela indaga o que está acontecendo com Lula, pois com frequência vem fazendo afirmações em relação às quais no dia seguinte tem que tentar consertar.
O que favorece a candidatura de Lula é o fato de ser ele o único adversário de Bolsonaro nas urnas de outubro. A terceira via, como se constata seguidamente, não tem a menor condição de decolar, sobretudo depois do recuo do União Brasil da hipótese de uma coligação com Simone Tebet do MDB.
CORTINA DE FUMAÇA – Num comentário brilhante na tarde de quarta-feira na GloboNews, o jornalista Gerson Camarotti focalizou o tema Daniel Silveira, considerando-o uma espécie de cortina de fumaça que o Palácio do Planalto usa para colocar uma sombra política e eleitoral no caso dos pastores do MEC, dos preços dos combustíveis, na inflação e nas ameaças ao regime democrático. Perfeito. Essa deve ser a estratégia do governo.
O caso Daniel Silveira, porém, está tendo uma dimensão preocupante. Ele agora negou-se a assinar o documento sobre a entrega da nova tornozeleira e se recusou a usá-la, enfrentando mais uma vez uma decisão do ministro Alexandre de Moraes e do STF. Mais uma etapa da crise desencadeada pelo deputado.
PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS – Em entrevista a Mônica Ciarelli e Denise Luna, edição do Estado de S. Paulo de quarta-feira, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro entendeu a questão dos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Mauro Coelho destacou que Bolsonaro não lhe fez recomendação alguma sobre política de preços.
“Acho que o presidente já entendeu muito bem a questão do preço de mercado”, disse, deixando claro assim que os reajustes vão se suceder em função do preço do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio.
Na minha opinião, esquece de levantar a hipótese de os preços recuarem. Se o preço do mercado vale para jogar os combustíveis para cima, vale também para reduzi-los. Afinal de contas, o reajuste não é obrigatório sempre para cima.
CRIME CONTRA MULHER – Reportagem de Paolla Serra, O Globo de ontem, destaca violências cometidas por companheiros contra a jornalista Luka Dias e contra a empresária Ive Dourado que causaram danos físicos aparentes. Trata-se de crimes covardes e hediondos que exigem penas severas, incluindo a proteção às agredidas.
A delegada Natacha Alves de Oliveira, titular da Delegacia de Copacabana, pediu que as vítimas de violência não deixem de comunicar as agressões, pois o silêncio só beneficia os agressores que praticam essas ações repugnantes.