Publicado em 20 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Cristiane Noberto e Raphael Felice
Correio Braziliense
A insistência do presidente Jair Bolsonaro (PL) em fazer uso político das Forças Armadas na guerra que declarou contra o Tribunal Superior Eleitoral é alvo de críticas dentro das instituições. Na última quarta-feira (16/2), o chefe do Executivo afirmou que as Forças Armadas teriam encontrado “diversas vulnerabilidades” nas urnas eletrônicas, o que foi prontamente desmentido pela Corte.
Bolsonaro se referiu às mais de 80 perguntas enviadas pelas Forças ao TSE, em dezembro, sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e dos sistemas de segurança da Corte. Todos os questionamentos foram prontamente respondidos. E, diante da declaração do chefe do Executivo, o tribunal divulgou a íntegra das perguntas e das respostas.
DISSE BARROSO – Na quinta-feira (17/2), em seu discurso de despedida da presidência do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, destacou que “as Forças Armadas estão aqui (na Corte) para proteger a democracia brasileira, e não para proteger um presidente que quer atacá-la”.
Também o ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmou que o chefe do Planalto tenta explorar o prestígio das Forças Armadas como se as instituições estivessem avalizando as coisas que ele fala para a população.
“Sem dúvida, Bolsonaro explora as Forças Armadas para falar apenas com o eleitorado dele. Utiliza essa conversa fiada porque não tem capacidade de pensar nas soluções para os problemas do país. As atitudes dele são irresponsáveis. Além disso, a família dele foi eleita 19 vezes por esse sistema. Não seria prova o suficiente?”, declarou o general, recém-filiado ao Podemos, partido do presidencial Sergio Moro.
MILITARES NO TSE – Santos Cruz, por sinal, considera “absurdo” as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência Eleitoral do TSE.
“É problema do Congresso, da Justiça eleitoral. O Exército faz a defesa nacional e, por ter um centro de defesa cibernética, pode prestar um auxílio técnico, mas não tem que dizer se é bom ou ruim. É só apoio técnico, e não faz parte de suas atribuições qualificar o processo eleitoral”, reprovou.
Outros militares que conversaram com a reportagem, sob a condição de anonimato, apontaram que as perguntas foram ligadas ao sistema de defesa cibernética e não existe nada anormal.
AUDITAR AS URNAS – “O Exército tem condições de realizar o auditamento das urnas. O Centro de Defesas Cibernéticas tem capacidade de ajudar nesse sentido. Por mais que pareça ter um caráter de monitoramento, o Exército apenas está cumprindo a função que lhe foi designada”, afirmou um dos militares ouvidos.
“É interesse do governo, apesar de abrir confluência, ter uma instituição como Exército referendando que as urnas são seguras”, disse o militar, frisando que as Forças Armadas estão, cada vez mais, buscando se descolar da imagem política e atuar como instituição de Estado.
Também faz parte da estratégia de Bolsonaro cooptar militares para sua base eleitoral. De olho nisso, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, pretende ser vice na chapa para as eleições de outubro. O general, no entanto, não é muito querido nos quartéis e seu nome não está entre os preferidos.