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quarta-feira, fevereiro 16, 2022

Rússia anuncia retirada parcial da fronteira ucraniana




Entretanto, EUA e aliados alertam que russos continuam movimentações na área. Imagens de satélite apontariam maior atividade militar na região, com chegada de equipamento bélico adicional.

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta terça-feira (15/02) que algumas tropas  estacionadas há semanas perto da fronteira ucraniana começaram a retornar a suas bases. A presença militar russa na área provocou temores de uma invasão no país vizinho.

A pasta afirmou ter sido iniciada a retirada das tropas destacadas para o sul e oeste do país, perto da fronteira da Ucrânia, rumo às suas bases permanentes, embora não tenha especificado o local onde elas estão estacionadas e o número exato de soldados envolvidos.

"À medida que as ações de treinamento de combate chegam ao fim, as tropas, como é sempre o caso, conduzirão marchas combinadas para suas guarnições permanentes", anunciou o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.

A Rússia reuniu mais de 130 mil soldados perto da Ucrânia, provocando temores de uma invasão. Moscou nega ter planos de invadir a Ucrânia, apesar de colocar tropas nas fronteiras ao norte, sul e leste do país e iniciar realizar exercícios militares maciços.

Líderes da Ucrânia expressaram ceticismo quanto ao anúncio de Moscou. "A Rússia constantemente faz várias declarações", disse o ministro do Exterior ucraniano, Dmytro Kuleba. "É por isso que temos a regra: não vamos acreditar quando ouvirmos, acreditaremos quando virmos. Quando virmos tropas se retirando, vamos acreditar na desescalada.''

"Aumento de atividade militar russa"

Os Estados Unidos e países europeus mantiveram seus alertas. A secretária do Exterior britânica, Liz Truss, reiterou nesta terça-feira que o perigo de uma invasão ainda existe, dizendo à Sky News que "pode ser iminente". Mas acrescentou que "ainda há tempo para que Putin deixe a beira do abismo".

Autoridades dos EUA disseram que os militares russos prosseguem com aparentes preparativos de ataque ao longo das fronteiras da Ucrânia. Um oficial dos EUA, falando em condição de anonimato, disse que um pequeno número de unidades terrestres russas está ocupando posições mais próximas à fronteira ucraniana, áreas que poderiam servir de pontos de partida se Putin lançar uma invasão.

A empresa comercial de imagens de satélite Maxar Technologies, que tem monitorado o acúmulo de tropas russas, relatou um aumento de atividade militar em Belarus, Crimeia e no oeste da Rússia, incluindo a chegada de helicópteros, aviões de ataque ao solo e caças-bombardeiros.

As fotos tiradas em um período de 48 horas também mostram forças terrestres deixando suas guarnições e unidades de combate e se movendo em formação de comboio.

Otan: "Até agora não vimos sinal de desescalada"

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta terça que indicativos de que a Rússia está disposta a buscar a via diplomática são positivas, mas que ainda não havia evidências de Moscou estava retirando tropas da fronteira.

"Há sinais de Moscou de que a diplomacia deve continuar, o que serve de base para um otimismo cauteloso. Mas até agora não vimos nenhum sinal de desescalada [na fronteira]", disse Stoltenberg.

Ucrânia minimiza ameaça

Ainda assim, o chefe do conselho de segurança e defesa ucraniano, Oleksiy Danilov, minimizou a ameaça de invasão, mas alertou para o risco de "desestabilização interna'' por forças não especificadas.

"Hoje não vemos que uma ofensiva em larga escala da Rússia possa ocorrer nem no dia 16 nem no 17 (fevereiro)'', disse a repórteres. "Estamos cientes dos riscos que existem no território do nosso país. Mas a situação está absolutamente sob ao controle.''

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que quarta-feira seria um "dia de unidade nacional", pedindo ao país para exibir a bandeira azul e amarela e cantar o hino diante de "ameaças híbridas".

"Não é a primeira ameaça enfrentada pelo forte povo ucraniano", disse Zelenski na noite de segunda-feira em um discurso em vídeo para a nação. "Estamos calmos. Somos fortes. Estamos juntos.''

Mesmo assim, o país está se preparando. Residentes de Kiev receberam cartas do prefeito exortando-os a "defender sua cidade", e placas apareceram em prédios de apartamentos indicando o abrigo antiaéreo mais próximo. A capital tem cerca de 4.500 deles, incluindo garagens subterrâneas, estações de metrô e porões, disse o prefeito.

Reunião diante das câmeras

O anúncio de retirada de unidades da Rússia ocorre um dia após o ministro do Exterior do país, Serguei Lavrov, ter indicado que o país está disposto a continuar conversando sobre as preocupações de segurança que levaram à crise na Ucrânia – mudando o discurso após semanas de tensões crescentes. 

Os comentários de Lavrov ocorreram durante um encontro diante de câmeras com o presidente russo, Vladimir Putin. A reunião foi destinada a enviar uma mensagem ao mundo sobre a posição do líder russo. O ministro argumentou que Moscou deveria realizar mais negociações, apesar da recusa do Ocidente em considerar as principais demandas da Rússia.

Ele disse que as conversas "não podem continuar indefinidamente", mas que "sugeriria continuar com elas e expandi-las nesta fase'', disse Lavrov, observando que Washington se ofereceu para discutir limites para implantações de mísseis na Europa, restrições a exercícios militares e outras medidas para construção de confiança.

Moscou quer garantias de que a Otan não permitirá a adesão como membros da aliança da Ucrânia e de outras antigas repúblicas soviéticas. Também quer a aliança suspenda o envio de armas para a Ucrânia e retire suas forças da Europa Oriental.

Lavrov disse que as possibilidades de negociações "estão longe de serem exauridas". Putin observou que o Ocidente poderia tentar atrair a Rússia para "conversações intermináveis" e questionou se ainda há uma chance de chegar a um acordo. Lavrov respondeu que seu ministério não permitiria que os EUA e seus aliados bloqueassem as principais reivindicações da Rússia.

Nova onda diplomática

Os novos sinais de esperança chegam em meio a uma nova onda de diplomacia. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, tem marcado encontro nesta terça-feira com Putin em Moscou, um dia depois de conversar com o presidente da Ucrânia em Kiev.

O ministro do Exterior polonês, Zbigniew Rau, um dos maiores críticos europeus da Rússia, também esteve em Moscou nesta terça para se encontrar com seu homólogo russo, enquanto o ministro do Exterior da Ucrânia recebeu seu equivalente italiano.

Uma possível saída para a atual crise foi levantada nesta semana: o embaixador da Ucrânia no Reino Unido, Vadym Prystaiko, apontou a possibilidade de a Ucrânia arquivar sua candidatura à Otan, se isso evitar uma guerra com a Rússia. Prystaiko mais tarde pareceu se distanciar da ideia, mas o fato de que ela foi citada sugere que está sendo discutida nos bastidores.

Deutsche Welle

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