Bruno Boghossian
Folha
Em duas conversas recentes, Lula deixou de lado os números das últimas pesquisas para lembrar a aliados que uma eleição difícil os aguarda. O petista disse que era preciso tratar como certa uma recuperação de Jair Bolsonaro nos próximos meses. Gente que participou de reuniões diferentes usou a mesma expressão para descrever o comportamento do ex-presidente: “pé no chão”.
O que pode ser interpretado como sobriedade ou capacidade de leitura política também revela uma certa preocupação no campo petista. Ainda que o retrato atual pareça favorecer Lula, integrantes da campanha do ex-presidente apontam sinais que posicionam Bolsonaro como um adversário competitivo.
BOLSONARO REAGE – O primeiro sinal é a estabilidade dos índices de aprovação ao governo. Petistas avaliam que os números de Bolsonaro pararam de cair no momento em que ele toma fôlego com o Auxílio Brasil, a ampliação de outras despesas e a desaceleração da curva da inflação. Algum alívio na economia deve amenizar a rejeição ao presidente na campanha.
Lula também disse observar uma característica do eleitorado bolsonarista que beneficiará o capitão ao longo da disputa. Para o petista, o presidente conseguiu manter apoio firme de uma fatia da população mesmo nos piores momentos do mandato – o que sugere a existência de um núcleo que dificilmente fugirá em direção a outros candidatos, como o ex-juiz Sergio Moro.
NAS REDES SOCIAIS – O quartel-general do PT também faz as contas do impacto que deve ter a operação de Bolsonaro nas redes sociais. Segundo aliados de Lula, a máquina virtual já demonstrou ser uma ferramenta eficiente para reforçar o vínculo do presidente com seus simpatizantes e ampliar o antipetismo.
Articuladores políticos de Lula reconhecem que o petista se protegeu até a etapa atual da pré-campanha e aproveitou para crescer num ambiente de fragilidade de seus adversários.
Assim, mesmo os mais confiantes aliados do ex-presidente afirmam que a disputa será bem mais apertada do que o confortável cenário de hoje.