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sábado, fevereiro 26, 2022

Humanidade condena Putin, mas Bolsonaro mantém silêncio à sombra da antiga cortina de ferro

 


Silêncio de Bolsonaro contrange o país internacionalmente 

Pedro do Coutto

A humanidade condenou frontalmente a invasão da Ucrânia coordenada por Vladimir Putin recorrendo à força militar a pretexto de resolver um impasse que ele próprio criou propositalmente. Na hora em que escrevo esse artigo, as forças russas já se encontravam dentro de Kiev e o governo da Ucrânia pedindo socorro ao mundo decretou a lei marcial e a convocação de homens até 60 anos de idade.

Enquanto isso, o Ocidente tenta perplexo aplicar sanções econômicas cujo efeito pode se fazer sentir até 30 dias depois de seu estabelecimento. Mas a vida humana termina em 30 segundos quando os países invadidos são encurralados por forças como essas agora do Kremlin. A cada minuto morrem milhares de pessoas, a troco de quê?

SILÊNCIO – O que a Ucrânia representa de ameaça à Rússia ? Moscou de Putin ameaça o universo com uma tragédia se alguém, referindo-se certamente a uma força militar estrangeira,  interferir na invasão que assinala um retorno à barbárie, ao assassinato em massa, ao bombardeio de civis e  à destruição de um país  O silêncio brasileiro soa estranho e é visto por Washington como um grave sinal de aceitação da violência desmedida do governo de Moscou.

O governo brasileiro está sem rumo internacionalmente. O presidente Bolsonaro, com base no fato de ter se encontrado com Putin há duas semanas, recusa-se a condenar o ato da guerra e responsabilizar o seu autor e ator principal do teatro da tragédia.  

Excelente reportagem de Elaine Oliveira, Camila Zarur e Daniel Gullino, O Globo desta sexta-feira, não só focaliza o panorama destruidor da consciência humana, como também coloca em relevo a inconsciência de Jair Bolsonaro.  Além disso, é incrível a que nível desceu a política brasileira com a posição assumida pelo ministro Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, ao dizer que a oposição no Brasil quer transformar a Ucrânia no 28º Estado do país.

REVOLTA – Bolsonaro revoltou-se contra o vice-presidente Hamilton Mourão quando comentou, comparando Putin a Hitler, sobre o ataque à Ucrânia, frisando que as questões econômicas não vão adiantar para resolver o conflito. “Tem que haver o uso da força, realmente um apoio da Ucrânia, mas do que está sendo colocado. Esta é a minha visão. Pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo alvo será a Bulgária, depois os Estados Bálticos, e assim sucessivamente”, afirmou Mourão.

Jair Bolsonaro, protagonista do silêncio, resolveu desautorizar completamente o general Hamilton Mourão, afirmando que o artigo 84 da Constituição diz que quem fala sobre relações internacionais é o presidente da República. “E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. Ponto final”, acrescentou.

Bolsonaro, entretanto, não levou em consideração um ponto importante da matéria; o general Hamilton Mourão não falou em nome do governo, mas sim em seu próprio nome, dando a sua opinião. Em nenhum momento disse que o seu ponto de vista representava o posicionamento do governo. Mas Bolsonaro interpretou como tal. Daí aprofundou o rompimento com o general.  
REFLEXO – O silêncio de Jair Bolsonaro sobre a questão da Rússia vai refletir negativamente junto ao seu eleitorado, pois é praticamente impossível que a extrema-direita concorde com um posicionamento cuja tendência favorece Moscou e desfavorece o Ocidente.  Mas a questão não é só essa, aliás levantada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos junto ao embaixador brasileiro em Washington.

O fato é que a tese silenciosa encampada por Bolsonaro é rejeitada por uma maioria esmagadora da opinião pública brasileira e internacional. Na própria Rússia, como revelou a GloboNews na manhã de sexta-feira, houve manifestações em dezenas de cidades, inclusive Moscou contra os ataques à Ucrânia.

No mundo inteiro houve manifestações na frente das embaixadas russas. Os efeitos substantivos das sanções econômicas, conforme eu disse, se farão sentir, mas os efeitos mortais  e incapacitantes da guerra explodem a cada minuto envolvendo milhares de pessoas. No mapa de esperança de paz ressurge a tinta vermelha que marcou o comunismo stalinista agora repetido por Putin.

APELO – Na tarde de ontem, a GloboNews colocou no ar uma entrevista de Vladimir Putin à TV russa através da qual ele dirigiu um apelo aos militares ucranianos: “Assumam o poder na Ucrânia porque com vocês nós poderemos ter um diálogo mais fácil do que com o atual governo de Kiev”, afirmou.

Na minha opinião, é um sinal de que Putin sentiu a força da condenação mundial do ato que praticou e agora quer despertar a ambição dos generais da Ucrânia para substituir o presidente eleito. Portanto, a entrevista de Putin abre um novo caminho na crise que ele próprio desencadeou e que está levando a um banho de sangue e à condenação por várias populações do mundo.

MAIS UM IMPOSTO –  Reportagem de Manuel Ventura, O Globo de ontem, revela que a Câmara dos Deputados aprovou quase em segredo emenda constitucional obrigando os proprietários de imóveis nas orlas marítimas a pagarem um imposto adicional de 17% do seu valor a pretexto de aforamento foreiro.

Um absurdo completo e quase inacreditável, cabendo agora ao Senador arquivar mais esse assalto à economia das pessoas, fazendo com que os donos de imóveis nas orlas se transformem em inquilinos da União Federal.


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