Publicado em 14 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Ricardo Della Coletta
Folha
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, rejeita a comparação entre nazismo e comunismo quando questionado sobre declarações de políticos brasileiros buscando igualar as duas ideologias. “Não vou entrar para ciências políticas nesse sentido, mas acho que ainda tem uma diferença entre o comunismo e o nazismo. Comunismo, até onde eu sei, não chamou para o assassinato de grupos de pessoas e populações”, disse o diplomata à Folha.
A equiparação entre nazismo e comunismo e a defesa de que as duas ideologias sejam criminalizadas foram feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
Como o senhor acompanhou o episódio no Flow Podcast, em que o apresentador Monark defendeu o direito de existência de um partido nazista no Brasil?
Dar legitimidade para a ideologia nazista é uma coisa grave. É uma coisa perigosa e já vimos no passado que ideologias podem passar para ações. Acho que não podemos ter qualquer tolerância nesse sentido, porque a ideologia nazista é racista. Inclui discurso de ódio e antissemitismo. Como embaixador de Israel, como cidadão israelense e como judeu —como filho de família cujos pais sobreviveram ao Holocausto, então nunca tive avós—, isso é uma coisa que faz parte do DNA de Israel: a preocupação com fenômenos desse tipo.
Considera o episódio um caso isolado ou parte de um fenômeno maior?
Infelizmente parece que não é uma coisa totalmente isolada. Conhecemos casos de antissemitismo contra judeus e contra instituições judaicas, também aqui no Brasil. Não sei se agora tem mais do que antes ou se ouvimos mais sobre esse tipo de acontecimento. Quando ouvimos no Flow, na Jovem Pan ou ainda na Universidade de Brasília, quando tem lá um discurso sobre a questão palestina e combate ao sionismo — que é o movimento nacional do povo judeu, para criar o Estado israelense, isso está fazendo deslegitimação do Estado de Israel. Acredito que parte da base disso seja antissemitismo.
Há políticos no Brasil, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro, que usaram o episódio no Flow para defender a criminalização do comunismo, como se as ideologias fossem duas faces da mesma moeda. Como vê essa comparação?
Não vou entrar para ciências políticas nesse sentido, mas acho que ainda tem uma diferença entre o comunismo e o nazismo. Comunismo, tanto quanto sei, não convocou para o assassinato de grupos de pessoas e populações. Mas vamos deixar essa discussão para outros fóruns.
O vídeo em que o ex-secretário de Cultura Roberto Alvim copia um discurso nazista e o fato de Bolsonaro ter recebido a líder de ultradireita alemã Beatrix von Storch estimulam episódios de antissemitismo?
Confesso que não conheço bem esse discurso que você mencionou e não quero dizer coisas que não são baseadas no meu conhecimento. Posso dizer que a comunidade judaica não é um órgão que tem uma só opinião. Como a sociedade brasileira, há também na comunidade judaica uma variedade de ideias e de apoios. Da maneira mais geral, posso dizer que, como judeus ou como membros do Estado de Israel, não podemos aceitar ideias que apoiam o nazismo e o neonazismo. Pode haver diferenças políticas, mas quando falamos sobre nazismo e ideias nazistas acredito que isso tenha uma unanimidade na comunidade.