Publicado em 16 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Nelson de Sá
Folha
A manchete nos jornais alemães e russos, como Süddeutsche Zeitung e Kommersant, é o encontro do chanceler Olaf Scholz com o presidente Vladimir Putin. O primeiro descreveu a retirada de tropas russas como “bom sinal”. O segundo cobrou que a Alemanha convença a Ucrânia a cumprir os acordos de Minsk, o que evitaria a separação das regiões de maioria russa do país.
Americanos como a agência Associated Press e o jornal The New York Times dão alguma atenção também à viagem de Jair Bolsonaro a Moscou, mais um sinal de que a “Rússia está cortejando a América Latina”, novamente em “disputa” com os EUA pela região.
LEITURA RUIM – A AP ouve do ex-chanceler de Lula Celso Amorim: “Não quero defender a política externa de Bolsonaro, que é lamentável. Mas receber um convite de um parceiro importante e cancelar daria uma leitura ruim”.
E o NYT ouve do ex-chanceler de Bolsonaro Ernesto Araújo: “Acho que [a viagem] está errada de várias maneiras. Noutras circunstâncias, tudo bem. Mas com a crise iminente, não é”.
Na Rússia, além do noticiário, a viagem entrou nas piadas em torno do dia marcado pelos EUA para a suposta invasão da Ucrânia. De Elena Chernenko, do Kommersant, tuitando em russo e inglês: “Agora sabemos o plano de Putin para 16 de fevereiro: ele vai se encontrar com o brasileiro Jair Bolsonaro no Kremlin”.
MAIS IRONIAS – A data da invasão foi ironizada pelo principal comediante de TV da Rússia, Ivan Urgant. E segundo o jornal Komsomolskaia Pravda, o próprio “Putin é bem-humorado ao falar das reportagens que adiantam até o dia”. Ele teria perguntado: “Foi publicada em algum lugar a hora exata em que vai começar a guerra?”.
A Bloomberg avisa que “o Kremlin poderá gozar mostrando que [os alertas de guerra dos EUA] são uma piada” e não se confirmam.
NEONAZISTAS – Das redes NBC/MSNBC (acima) e ABC à primeira página dos jornais The Times e Telegraph, com imagens da Associated Press, a mídia nos EUA e no Reino Unido deu ampla atenção à “photo-op” organizada pelo batalhão paramilitar ucraniano Azov, marcadamente neonazista, com destaque para uma “bisavó ucraniana” posando com uma AK-47.
Ela é orientada por soldados do Azov, que usam um dos símbolos da SS e do partido nazista no braço.
Na cobertura americana, a Rússia divide atenção com o Canadá, que segundo o NYT enfrenta “caos” com os protestos de caminhoneiros na fronteira dos EUA, afetando fábricas.
PODERES FEDERAIS – Dias depois de ser pressionado pelo governo norte-americano de Joe Biden a usar seus “poderes federais” para acabar com os bloqueios dos caminhoneiros, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau cedeu e declarou que usará seus “poderes federais de emergência”, para espanto da imprensa do país.
Em editorial, o Toronto Star, de centro-esquerda, questionou o motivo para a mudança “súbita” de posição do governo e destacou ser “um reconhecimento chocante de fracasso”.