Ausente da COP26 e isolado no G20, o risco de Bolsonaro é, sim, levar ‘pedrada’
Por Eliane Cantanhêde (foto)
Com seu jeitão de caserna e a sinceridade de (quase) sempre, o general e vice-presidente Hamilton Mourão explicou por que o capitão e presidente Jair Bolsonaro, apesar de estar ali perto, na Itália, se recusou a ir à COP 26, na Escócia: “Ele vai chegar num lugar em que todo mundo vai jogar pedra nele?”
Mourão, que é responsável pela Amazônia, mas foi dispensado da COP, ainda tentou ajeitar as coisas, justificando que muitas críticas são “equivocadas”, por um certo viés ideológico e o peso do interesse econômico. Mas, como todo o mundo, literalmente, sabe, há motivos aos montes para “pedradas”.
Segundo o Observatório do Clima, o Brasil andou na contramão do mundo em 2020. Com pandemia e recuo na atividade econômica, a emissão de CO² teve uma redução média mundial de 7%, mas o País emitiu 10% a mais, um desastre na comparação internacional e também interna. Foi o pior resultado desde 2016. Por quê? Por causa do desmatamento da Amazônia, um marco da era Bolsonaro.
Se conseguiu se livrar de pedras na COP 20, o presidente brasileiro não evitou que seus opositores, grosseiramente, aliás, pusessem estrume na entrada de um dos locais que visitou em Roma. E ele se livrou de dar vexame na COP, mas não no G-20. Antes mesmo da reunião.
Bolsonaro ignorou e foi ignorado pelos líderes do G20, particularmente Olaf Scholz, que venceu as eleições na Alemanha – Alemanha! E ficou falando sozinho com Recep Erdogan, da extrema direita da Turquia. Constrangido e calado, ele ouviu do brasileiro que a economia aqui vai bem, ele é muito popular, a Petrobras é um estorvo e a imprensa é culpada de tudo. O jornalista Jamil Chade gravou. Tire suas conclusões.
A chapa Bolsonaro-Mourão foi absolvida por unanimidade TSE, num “efeito avestruz” citado pelo ministro Alexandre de Moraes: todo mundo sabe e viu as milícias digitais e fake news de 2018. Mas cassação após três anos de governo, a um ano da eleição e com o País afundado no caos? O jeitinho brasileiro foi avisar que, “daqui pra frente, tudo será diferente”. Será?
Em outra decisão, o TSE cassou o deputado Fernando Francischini (PSL), por fake news contra as urnas eletrônicas, acusar de fraude a própria eleição que lhe deu o mandato e fazer o TRE-PR consumir tempo e dinheiro para negar. Bolsonaro fez tudo igual, e com canais e recursos públicos. Mas o TSE cassou um e empurra o outro para debaixo do tapete.
Esse tapete deverá acomodar as 1.288 páginas de pedradas da CPI da Covid, a depender da PGR de Augusto Aras e da Câmara de Arthur Lira. Mas... se o jeitinho brasileiro vale para um lado, vale para o outro. E o jogo só termina em outubro de 2022.
O Estado de São Paulo