Preço das passagens pode se tornar um problema político anabolizado nos próximos meses
Por Bruno Boghossian (foto)
As tarifas de ônibus podem se tornar um problema político anabolizado nos próximos meses. Prefeitos dizem que será preciso fazer um aumento significativo no preço das passagens se não for possível encontrar uma fonte para subsidiar o transporte público. Nas palavras de um deles, a questão se tornou "uma bomba prestes a explodir".
Municípios estimam que o reajuste de tarifas necessário para cobrir o aumento de custos dos sistemas de ônibus é de 10% –o que representa bem mais do que os R$ 0,20 que azedaram humores e levaram aos protestos de junho de 2013.
O aumento só não sai se o governo federal liberar um pacote bilionário para amortecer a alta no preço do diesel e outros gastos. Autoridades locais trabalham com o reajuste como plano A porque ainda não viram boa vontade de Jair Bolsonaro para abrir o cofre. De olho na reeleição, o presidente já comprometeu o Orçamento com outras despesas.
Um tarifaço às vésperas da campanha eleitoral tem potencial explosivo. O possível reajuste no preço das passagens acertaria em cheio uma população que já precisa conviver com índices de inflação nas alturas. O maior impacto se daria sobre brasileiros de renda média e baixa, apertados pelo desemprego e pela incerteza nas políticas sociais do governo.
Um caldeirão de insatisfações como esse pode derreter a popularidade de governantes. A aprovação a Dilma Rousseff caiu de 57% para 30% em junho de 2013, numa onda que também arrastou para baixo os índices de prefeitos e governadores. Um novo aumento nas tarifas até pode ter um efeito mais suave, mas certamente não será um bom momento para quem está no poder.
Prefeitos dizem que os sistemas de transportes podem estourar ainda este ano. Eles abriram uma ofensiva sobre o Planalto para resolver o problema e lembraram que, em 2020, Bolsonaro já vetou uma ajuda de R$ 4 bilhões para o setor. De todos os personagens desse cabo de guerra, o presidente é o único que precisa enfrentar uma eleição em 2022.
Folha de São Paulo