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terça-feira, novembro 30, 2021

Holodomor, o Holocausto comunista, foi abafado por intelectuais ocidentais.

 




Termo quase desconhecido vem à tona quando se analisa o histórico do atual conflito entre Rússia e Ucrânia. 

Por João Pereira Coutinho 

Amanhã será o quarto sábado de novembro. O que significa que será altura de relembrar o Holodomor. Escrevo essa palavra –Holodomor– e pressinto que muitos leitores não sabem do que estou a falar.

Esse desconhecimento é revelador da forma ambígua como o mundo olha para os crimes do comunismo, sobretudo quando comparados com os crimes do nazismo.

Se eu tivesse escrito "Holocausto", não haveria dúvidas. Mas Holodomor, ou seja, a grande fome soviética promovida por Stálin em 1932-1933 e que provocou 4 milhões de mortes só na Ucrânia (estimativa conservadora), é conceito obscuro.

Para preencher essa lacuna, recomendo um livro: "Red Famine", de Anne Applebaum. Depois do clássico de Robert Conquest, "The Harvest of Sorrow", publicado em 1986, a obra magistral de Applebaum é um monumento historiográfico contra o esquecimento.

Não é uma experiência agradável, aviso já, porque a martirizada Ucrânica sempre foi aquele elemento estranho na mundividência bolchevique —um problema político, pela sua forte identidade nacional; uma oportunidade econômica, por ser o celeiro da Europa.

E a revolução precisava desse celeiro para alimentar as tropas do Exército Vermelho, os membros do partido, os simpatizantes da causa.

Além disso, a exportação de grão para uma Europa faminta depois da Primeira Guerra Mundial também servia como arma preciosa para Lênin forçar os restantes países a reconhecerem o novo Estado soviético.

Quem pagava a fatura dessa espoliação era o campesinato ucraniano. As primeiras grandes fomes na Ucrânia acontecem entre 1921 e 1923 e o saldo oscila entre os 250 mil e os 500 mil mortos.

Se esses números nos parecem dantescos, eles empalidecem dez anos depois quando Stálin promove a coletivização forçada da agricultura soviética.

"Coletivização" é palavra demasiado branda para descrever um processo que implicava o confisco da propriedade privada; a reinstituição da servidão "de fato" para os trabalhadores do Estado; a eliminação quase completa de uma classe artificialmente criada —os "kulaks", inicialmente camponeses mais abastados, mas depois qualquer opositor do regime; e, finalmente, a punição pela fome.

Tal como na década de 1920, era necessário cumprir cotas de produção cada vez mais excessivas e irrealistas. E, quando a produção não correspondia ao plano de Moscou, a "requisição" dos bens era o passo seguinte, executada por hordas tão famintas como os próprios camponeses.

Para agravar o problema, Stálin impediu o deslocamento regional dos trabalhadores em busca de comida. Aprisionados à suas terras estéreis e condenados à fome, tudo servia como alimento —ervas, raízes, cascas de árvores. O canibalismo não foi uma raridade.

Ler as páginas de Anne Applebaum com testemunhos de sobreviventes é das experiências intelectuais mais duras que conheço. Mas ler a forma como a "intelligentsia" ocidental ocultou esses crimes é igualmente insuportável.

Um desses "idiotas úteis" foi Walter Duranty, o correspondente do "New York Times" em Moscou, que garantia em artigos de puro servilismo que a fome era um mito. As suas reportagens, sem surpresa, ganharam o prêmio Pulitzer.

Nem todos colaboraram com a mentira. A mais importante exceção foi Gareth Jones, o jornalista galês que viajou para a Ucrânia em inícios da década de 1930 para testemunhar o horror.

Também sem surpresa, não houve prémio Pulitzer para Jones. Mas existe um filme recente que relembra a sua vida e coragem: "A Sombra de Stálin", de Agnieszka Holland. Recomendo.

Era William Faulkner quem afirmava: "O passado nunca está morto. Na verdade, nem sequer passou". É uma frase que serve como uma luva para o tempo presente.

Primeiro, porque os "idiotas úteis" continuam tão úteis (e tão idiotas) como sempre.

Mas também porque as autoridades ucranianas acreditam que a Rússia, em 2022, vai invadir o país em operação de larga escala. Verdade? Mentira?

Ninguém sabe. Mas depois da anexação da Crimeia e com milhares de tropas russas na fronteira ucraniana, é pelo menos verossímil. E a história só reforça essa verossimilhança.

Como disse Vladimir Putin, o fim da URSS foi "a maior catástrofe geopolítica" do século 20. Razão pela qual o ano de 2022 tem um simbolismo especial: passarão 100 anos sobre a constituição da União Soviética.

Em política, nada é mais letal do que a força da nostalgia.

FSP

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