Por Geraldo Luis Lino
Devemos ao economista Paulo Nogueira Batista Jr. o conhecimento de uma proposta aparentemente audaciosa do ex-senador e ex-prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga, referente à inserção internacional do Brasil como protagonista destacado, em vez da visão míope e submissa dos não poucos que não conseguem ver o País senão como subordinado à potência hegemônica de plantão.
Nogueira Batista, economista que já representou o Brasil em foros como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Novo Banco de Desenvolvimento, o “Banco dos BRICS” (de onde foi destituído em uma trama mal explicada, no Governo Temer), é um entusiasta da retomada do impulso de desenvolvimento do País e da construção do que chama o seu “destino planetário”. Autor do livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém (Leya, 2019), em um artigo publicado em julho último, intitulado “Brasil, país-planeta (ou saudades do futuro)”, ele escreveu:
(…) o Brasil destina-se por sua própria história e formação a exercer um papel singular, a trazer uma mensagem de esperança, generosidade e união para o planeta inteiro. (…)
A nossa história nos prepara para exercer naturalmente um papel planetário. O Brasil é um país universal na sua própria origem e formação. Para cá confluíram os povos originários, oriundos da Ásia, os portugueses, os africanos, outros povos europeus, italianos, espanhóis, alemães etc. A maior população japonesa fora do Japão está no Brasil. A população brasileira de origem libanesa é maior do que a população inteira do Líbano. Salvador é a maior cidade negra fora da África, superada em número de habitantes por apenas quatro ou cinco cidades do outro lado do Atlântico Sul. O Brasil, em suma, contém o planeta dentro de si mesmo… Não é que o mundo cabe no nosso quintal. Ele está dentro de nós, na nossa história, na nossa formação, no nosso sangue. O mundo nos constituiu.
Porém, faz a ressalva:
Nem preciso frisar que esse papel internacional do Brasil depende da retomada de um projeto nacional de desenvolvimento, que começa com o resgate do próprio povo brasileiro, resgate que precisa ser consubstanciado na geração de empregos e oportunidades e na luta contra a desigualdade, a pobreza e a injustiça dentro do País… Esse resgate tem que tomar a forma de uma verdadeira ofensiva, um movimento em marcha forçada, concentrado no tempo e apoiado em nossas experiências bem-sucedidas na área social.
No artigo seguinte, intitulado “A Rota da Boa Esperança”, ele se referiu à “ideia do Saturnino Braga, um daqueles brasileiros que sabem pensar grande e que, em meio à tormenta, não perdeu a confiança no Brasil”.
A proposta foi feita em um debate no Rio de Janeiro (RJ) sobre a Nova Rota da Seda, o grande projeto de integração físico-econômica da Eurásia?
(…) Por que não, perguntou ele, uma iniciativa brasileira – uma Nova Rota da Boa Esperança, que uniria as Américas, a Europa, a África e a Ásia? O Brasil refaria, assim, o caminho das Grandes Navegações Portuguesas. Este seria o lema que poderia abrigar e energizar todo um conjunto de projetos e programas de desenvolvimento na América Latina, na África e na Ásia, impulsionados pelo Brasil.
Para Nogueira Batista, o Brasil “tem tudo para retomar o espírito das Grandes Navegações Portuguesas”, que é o sentido da “brilhante metáfora do Saturnino”. E explica:
O que poderia ser a Nova Rota da Boa Esperança? A exemplo da iniciativa chinesa, poderia tomar a forma de um conjunto de projetos e programas de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável formulados e/ou financiados pelo Brasil em colaboração com outras nações latino-americanas, africanas e asiáticas. O foco seria o desenvolvimento adaptado às exigências do século 21 – um desenvolvimento fundado, portanto, na sustentabilidade não só econômico-financeira, mas também social e ambiental. (…)
Apesar de dar ênfase exagerada à inexistente crise climática, afirma:
Temos para isso instrumentos que podem ser mobilizados ou recuperados. O BNDES, a Embrapa, as empreiteiras e outras empresas brasileiras com presença internacional. Temos no Itamaraty um corpo diplomático de excelência que ajudaria a abrir caminho para a iniciativa. O Banco dos BRICS, se for capaz de ampliar o número de seus países-membros, também pode ser dinamizado para ajudar a financiar projetos e programas da Rota da Boa Esperança – até porque foi o primeiro banco de multilateral de desenvolvimento a ter a questão ambiental inscrita no seu Convênio Constitutivo.
Com otimismo, reafirma o papel do Brasil como “portador de uma mensagem nova de solidariedade, respeito e igualdade entre as nações”.
Qualidades que, precisamente, reforçam o impulso para a construção de um novo marco civilizatório cooperativo e não hegemônico no cenário mundial, para o qual a Nova Rota da Seda está atuando como um poderoso catalisador.
Nogueira Batista conclui oportunamente com um aceno ao poeta português Fernando Pessoa, que, depois de Camões, foi quem melhor cantou as glórias das navegações lusitanas: “O que nos caberá fazer em breve será transformar o que pode parecer mero delírio em realidade. Trata-se, como escreveu Pessoa, sonhar as formas invisíveis e buscar na linha fria do horizonte, com esperança e vontade, a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte – os beijos merecidos da Verdade.”
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