Por Mirian Guaraciaba
Já pode chamar Bolsonaro de genocida? Denúncias que vieram à tona na segunda-feira (27/9) acrescentaram elementos ainda mais tenebrosos às práticas da Prevent Senior. Acusada de promover ensaios usando medicamentos com ineficácia cientificamente comprovada para o tratamento contra a Covid-19, a rede hospitalar é agora suspeita de homicídio. “Eutanásia disfarçada”, responsabilizou o senador Otto Alencar.
A Prevent Senior tratou doentes como cobaias, nas barbas do Ministério da Saúde e do presidente Bolsonaro. O capitão e seus filhos replicaram, nas redes sociais, a “pesquisa” com cloroquina e outros bichos. E tinham intermediários como fontes. Dra. Nise Yamagushi, frequentadora da Prevent, era conselheira de Bolsonaro, entre outros negacionistas.
O que dirá agora o presidente da República diante de provas – literalmente – vivas dos expedientes desumanos utilizados pela rede hospitalar e por seu quadro profissional? Bolsonaro poderá alegar desconhecimento. Difícil acreditar. Impossível crer em qualquer palavra desse ser baixo e ignorante.
A GloboNews trouxe o chocante depoimento de Tadeu Frederico de Andrade, 65 anos, literalmente sobrevivente da Prevent Senior. No laboratório da morte, após um mês internado e intubado, Tadeu foi considerado caso perdido. Os médicos notificaram à família: Tadeu teria tratamento “paliativo para que morresse com dignidade”.
Seus filhos reagiram, contrataram um médico de outro hospital, e viram o pai reagir. O caso foi levado pelo próprio paciente à CPI da Covid e ao Ministério Público de São Paulo. Ontem mesmo, a Assembleia Legislativa de São Paulo anunciou a instalação da CPI da Prevent. Em Brasília, o caso ainda vai render. As graves denúncias tornam ainda mais necessárias novas investigações.
Senadores da CPI da Covid veem relação entre a Prevent Senior e o governo Bolsonaro. Suspeita-se que o Ministério da Saúde tenha usado protocolo da operadora para estimular a utilização de medicamentos sem comprovação científica por médicos e pacientes contra a doença. Não é pouca coisa. O chamado kit Covid pode ter causado milhares de mortes.
Nesta quarta-feira (29/9), estará na CPI o farofeiro Luciano Hang. Já autodenominado “Véio da Havan”, Hang é dono de muitas mentiras e confia na impunidade que reina nesse país – à exceção de uns poucos. Pode entregar alguns quilates à CPI. Ele fala. Provoca. Ficou seis meses suspenso das redes sociais e voltou mais atrevido.
Com fortuna de R$ 15 bilhões e quase 150 lojas físicas pelo Brasil afora, Luciano Hang chega mal na foto. Mensagens revelaram à CPI como esse empresário bilionário e bolsonarista de primeira hora financiou a disseminação de fake news e o funcionamento do “gabinete do ódio”. A intermediação foi do deputado Eduardo Bolsonaro.
Há quem ache um exagero a convocação de Hang. Senadores e alguns comentaristas políticos alegam que um dos assuntos é extremamente delicado: a morte de sua mãe por Covid-19. Estranho duvidar de seu poder de fogo. O próprio internou a mãe com Covid-19 num hospital da Prevent Senior e o atestado de óbito não traz a doença como causa da morte.
Hang vai render uma sessão interessante. Fanfarrão e loroteiro, o Véio da Havan lançou desafio ontem nas redes sociais. Postou um vídeo com algemas e debochou da CPI. “Terei todo o tempo do mundo para falar e, se não ficarem satisfeitos, me prendam.”
De onde menos se espera…
Jornal Metrópoles