Merval Pereira
O Globo
Presidente da República que anuncia apoio publicamente a manifestações antidemocráticas está cometendo um crime de responsabilidade muito grave – é o que Bolsonaro vem cometendo com frequência há muito tempo, mas agora traz insegurança e desconfiança de que pode acontecer algo fora das quatro linhas da Constituição.
Estamos passando por uma situação muito grave e ela se deve ao presidente Bolsonaro que, desde a campanha, fomenta e busca contato com policiais militares e membros de menor escalão do Exército com o objetivo que agora se manifesta: ter um grupo armado de apoio.
ANTIDEMOCRACIA – Bolsonaro está caminhando a passos largos para romper qualquer compromisso com a democracia. O presidente só pensa em fazer política o que, para ele, significa baderna e arruaça para criar uma situação de excepcionalidade no país, como nunca vimos antes. Vamos passar por momentos muito difíceis.
A fala do procurador-geral da República, Augusto Aras, na sabatina do Senado, foi muito eloquente, com jeito de orador antigo, mas ele fingiu que não participa da prática política do dia a dia, quando é um dos que mais participam.
AÇÃO ACERTADA – O afastamento do coronel da Polícia Militar de São Paulo Aleksander Lacerda, por fazer ofensas pesadas a ministros do Supremo e ao governador de São Paulo, João Doria, e que convocou pelo Facebook seus seguidores para as manifestações de 7 de setembro, foi uma ação acertada, ao mesmo tempo exemplar e prenunciadora de problemas que estão por vir.
A atitude do Comando-Geral da PM de São Paulo é importante para controlar a tentativa de avanço bolsonarista nas polícias militares, que ocorre em vários estados, e reforça o caráter legalista e de respeito à Constituição da corporação.
Bolsonaro alimentava, antes mesmo de ser eleito, essa subversão nas forças militares auxiliares, na tentativa de ter uma força armada para apoiar um golpe ou uma rebelião.