Carlos Newton
Como admirador de algumas colocações dos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels, tenho me dedicado ao prazeroso esporte do amor à democracia, à liberdade de imprensa e à troca de ideias. Aliás, este é justamente o objetivo da Tribuna da Internet, que infelizmente está infestada de robôs infiltrados pelos partidos e facções políticas, é uma chatice fazer a moderação dos comentários, uma atividade que nem deveria existir num espaço em que todos podem manifestar opinião.
Essa utopia libertária da TI fica prejudicada pela participação desses humanoides, replicantes e androides políticos, assim considerados porque agem mecanicamente, não raciocinam e repetem afirmações e justificativas que lhes foram impingidas.
LIBERDADE DE IMPRENSA – Esses robôs são analfabetos políticos. Nenhum deles sabe que Marx e Engels jamais defenderam censura à imprensa ou ditadura do proletariado, acredite se quiser.
Entre os adeptos da esquerda, Marx é endeusado e Engels fica num segundo plano. A meu ver, porém, essa colocação é absolutamente injusta. Aliás, entre esses dois pensadores alemães, tenho especial admiração por Engels, em função de seu desprendimento pessoal.
Ele nasceu em uma família rica, seu pai comandava uma das primeiras multinacionais da História, com indústrias na Alemanha e na Inglaterra. Assim, ao defender os inexistentes direitos dos trabalhadores, Engels estava atuando contra os interesses da própria família e é interessante notar o altruísmo de seu pai, pois não há notícias de que tenha recriminado o filho por sua rebeldia política.
CHOCADO COM A POBREZA – Enviado pelo pai para dirigir uma indústria têxtil da família em Manchester, na Inglaterra, o jovem Engels ficou chocado com a pobreza dos operários. Em seguida, conheceu Marx em Paris e aliou-se a ele, passando inclusive a ajudar no sustento do amigo.
IDEALISMO DE HEGEL – Os dois eram integrantes de um grupo de jovens que estudavam as teorias de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, um dos mais importantes e influentes filósofos alemães do século 19. Hegel defendia a tese de que “tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas também, precisamente, como sujeito”.
A partir desse idealismo filosófico de Hegel, que tinha um toque espiritual, Marx e Engels então buscaram o verdadeiro na realidade dos problemas econômicos que afetavam as nações e os trabalhadores.
Na capital francesa, a produção intelectual de Marx e Engels tomou grande impulso. Depois de Paris, Marx morou em Bruxelas. Na capital da Bélgica, o economista intensificou os contatos com operários e participou de organizações clandestinas. Até que, em 1848, Marx e Engels publicaram o “Manifesto do Partido Comunista”, o primeiro esboço da teoria revolucionária que, anos mais tarde, seria denominada marxismo.
CONTRA-INFORMAÇÃO – Com toda certeza, Marx e Engels se tornaram os intelectuais mais caluniados de todos os tempos. A contrainformação capitalista difundiu, por exemplo, que Marx e Engels seriam defensores de ditaduras, mas esta tese não existe na doutrina deles, que não é perfeita e precisa ser adaptada aos dias de hoje, pois os dois pensadores viveram na época da moderna exploração do homem pelo homem, quando a escravidão acabara, mas ainda não havia direitos trabalhistas e sociais.
Sem a menor dúvida, Marx e Engels são benfeitores da Humanidade, pois forçaram a humanização do capitalismo. No entanto, quase dois séculos depois do Manifesto Comunista, a defesa que fizeram dos trabalhadores até hoje não foi superada, apenas precisa de adaptações.
SÃO DIVAGAÇÕES – Bem, estou divagando, como sempre. E logo aparecerá um robô que me chamará de esquerdopata e ditatorialista, sem perceber que este espaço da “Tribuna da Internet” é exatamente o contrário – não tem ideologia, é livre e aceita outras opiniões, até porque não existem verdades absolutas e todos precisam apreender com os outros.
Neste contexto do Blog, uma das realidades que mais me despertam interesse é a falta de diálogo. Aqui na TI muitos participantes não entendem o que significa respeitar outras opiniões, é impressionante.
Brigam, trocam ofensas, dizem palavrões, trata-se de um fenômeno social interessante, a ser analisado por psicanalistas e psiquiatras.
DIZIA PAULO FRANCIS – Pessoalmente, eu não me incomodo com esses robôs repetitivos. Trabalhei com Paulo Francis na Tribuna da Imprensa e na Ultima Hora (quando fui para O Pasquim, ele já não estava mais). Com ele aprendi que a gente não deve dar importância nem mesmo ao que escreve, porque mais adiante pode trocar de opinião.
Outro fato concreto, que Francis não me ensinou, mas existe, é o seguinte: quem escreve precisa ter o cuidado de não fazer nenhuma bobagem, porque isso servirá de munição a seus desafetos pelo resto da vida, e não adianta espernear. Portanto, o ideal é tentar fazer sempre a coisa certa, apenas isso, conforme a doutrina budista.
###
P.S. – É claro que na vida tudo tem limite, até mesmo minha paixão marxista pela democracia. Minha filha, por exemplo, pede que eu me identifique como socialista, porque o marxismo tem hoje uma imagem muito negativa. Ela tem toda razão. A opção da hora, como se diz em São Paulo, é ser social-democrata, o que não significa se tornar tucano, que Deus me perdoe. (C.N.)