Posted on by Tribuna da Internet
Carlos Newton
Na fase atual de desgaste corrosivo, qualquer argumento é válido para o presidente Jair Bolsonaro tentar reaver o apoio que as Forças Armadas lhe deram na campanha eleitoral de 2018 e no primeiro ano de gestão. Nessa missão, o ministro-chefe do Gabinete Institucional de Segurança, general Augusto Heleno, continua sendo o principal avalista do governante, depois que o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, teve de se afastar devido à grave doença que enfrenta.
Bom de briga e rápido no gatilho, Heleno aproveitou bem as duas oportunidades que surgiram para despertar a solidariedade dos militares, que não estão nada satisfeitos com as maluquices de Bolsonaro e sua trupe terraplanista.
ERRO DE CELSO DE MELLO – A primeira oportunidade foi um erro estratégico do ministro Celso de Mello. Ao convocar os depoimentos dos três generais do Planalto, usou a linguagem de praxe dos magistrados, citando a possibilidade de condução coercitiva, ”debaixo de vara”, para demonstrar que se tratava de intimação e não um simples convite, que os ministros podem declinar.
Heleno bateu forte em Celso de Mello, despertando o corporativismo dos militares, e Bolsonaro deu uma respirada. Poucos dias depois, novo vacilo do ministro do Supremo, ao pedir que o procurador-geral da República se manifeste sobre a queixa-crime que pede apreensão dos celulares de Bolsonaro e de seu filho Carluxo. O relator Mello nada mais fez do que agir na forma da lei, mas foi inábil, poderia ter esperado alguns dias, ficou parecendo provocação.
Resultado, Heleno deu mais uma pancada corporativista, com direito a confirmação pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que alegou ter sido informado previamente da nota de Heleno, mas fica difícil de acreditar.
BOLSONARO EUFÓRICO – As três manifestações militares deixaram eufórico o presidente Bolsonaro, que deu entrevista exaltando o apoio que tem nas Forças Armadas. Assim, em meio a seus pesadelos, de repente ressurge o sonho de Bolsonaro novamente fazer as Forças Armadas se sentirem representados por ele.
Bem, sonhar ainda não é proibido, e tem gente grande que costuma cair da cama. O fato concreto é que os militares (leia-se: os Altos-Comandos) já estão “por aqui” com Bolsonaro, como dizia o Seu Peru na Escolinha do Professor Raimundo. E como afirmou o general Heleno na semana passada, não há a menor condição de ocorrer um golpe civil ou militar.
Em tradução simultânea, isso significa que os Altos-Comandos vão aguardar o presidente Jair Bolsonaro cair de podre, para ocorrer sua substituição pelo general Hamilton Mourão, com os militares prestando serviços à la carte, diretamente do produtor ao consumidor, ao invés de manter um intermediário mambembe, desbocado e incompetente como Bolsonaro, que já vai tarde. (C.N.)