José Carlos Werneck
O incidente ocorrido entre o deputado Zeca Dirceu, do PT paranaense, e o ministro da Economia Paulo Guedes me fez relembrar o depoimento de Pedro Malan, ministro da Fazenda do então presidente Fernando Henrique Cardoso, perante a Comissão de Orçamento do Congresso Nacional em 17 de outubro de 2000.
Na ocasião, o deputado Aloizio Mercadante, líder do PT, fez uma ironia grosseira com Pedro Malan a respeito da caneta “Mont Blanc” que o ministro estava usando para anotar as perguntas dos parlamentares.
SALÁRIO MÍNIMO – A discussão esquentou quando o debate abordou a questão do“aumento do salário mínimo”, que hoje em dia, graças a uma regra muito esquisita, está em R$ 998,00. Malan concordou que o valor era baixo e que deveria sofrer um aumento maior. Entretanto, como sempre acontece em todos os governos, o ministro ressalvou que não havia recursos previstos no Orçamento de 2001 e que qualquer outro aumento, acima dos 5,57% propostos, dependeria de o próprio Congresso Nacional indicar as receitas correspondentes, para que isso viesse a acontecer.
Aloízio Mercadante contra-atacou afirmando que tal aumento corresponderia a uma quantia correspondente a míseros R$ 0,28 por dia no bolso dos assalariados, afirmando: “Esse aumento é ridículo, não paga o copo de água mineral “nem a tinta da caneta Mont Blanc” que o ministro já usou hoje aqui”.
Pedro Malan, com a lhaneza que lhe é peculiar, não baixou o nível: “Eu não uso Mont Blanc, uso essa caneta vagabunda”, disse o ministro, mostrando a caneta para as câmaras de TV.
UM ACORDO – Ao final, o ministro Pedro Malan e o deputado petista Aloízio Mercadante, sorrindo, chegaram a um acordo. O deputado sugeriu uma solução para o aumento do salário mínimo, com o uso das verbas de emendas de parlamentares, do fundo de contingência e a redução da quantia destinada à manutenção de prédios, de carros e de computadores oficiais.
O ministro da Fazenda, elegantemente, encerrou o assunto, afirmando: “Queria pedir desculpas se me excedi, mas é que algumas pessoas estão em campanha eleitoral e eu não estou. Mas eu tenho o costume de responder no mesmo tom exaltado quando sou provocado”.
Me lembrei do episódio, narrado acima, por causa da discussão entre o deputado Zeca Dirceu e o ministro Paulo Guedes. Não vi nenhum desrespeito por parte do parlamentar, que apenas disse a verdade, usando de tom moderado e fina ironia.
TCHUTCHUCA – “O senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidades. O senhor é tigrão quando é com os agricultores, os professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país”, disse Zeca Dirceu.
O que dizer da reação desproporcional, das grosserias e do destempero do ministro Paulo Guedes em sua resposta ao deputado Zeca Dirceu? Ofendeu até a família do parlamentar.
E tenho a certeza absoluta que se o criador do apelido, o ex-senador Roberto Requião, tivesse sido o autor da
pergunta, o ministro Paulo Guedes não reagiria do mesmo modo pois sentiria a violenta resposta que receberia do ex-senador paranaense.
AMBIENTE FINO – Mas isso não tem a menor importância. O ministro Paulo Guedes é um homem culto, tem um inglês impecável e carrega em sua bagagem uma formação acadêmica da Universidade de Chicago, por onde é mestre e doutor, mas infelizmente é como certas pessoas que vão ambientes finos, mas os ambientes finos não vão com elas.
Do lamentável ocorrido com Guedes na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados se chega a uma irrefutável conclusão: Quem nasceu para Paulo Guedes jamais será um Pedro Malan.